Público - 27 Abr 05

 

Segredos do sucesso

Explicações para o primeiro lugar mundial da Finlândia

Bárbara Wong

 

Ensino gratuito, corpo docente estável e alunos motivados são segredos do sucesso

 

Depois da Segunda Guerra Mundial, a Finlândia era um país pobre e tinha de encontrar um meio de sair da precaridade. A educação foi o caminho escolhido. Os resultados estão à vista: os alunos finlandeses são os melhores na literacia literária, matemática e científica, entre os 40 países que participaram no Programme for International Student Assessment (PISA), um estudo desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
O segredo do sucesso foi desvendado o mês passado, durante dois dias, numa conferência realizada na Finlândia e promovida pelo Ministério da Educação e a Universidade de Helsínquia. Existe um sistema obrigatório e gratuito, com um corpo docente estável e famílias que motivam os alunos.
O estudo da OCDE foi aplicado a mais de 250 mil alunos de 41 países, 30 dos quais pertencentes à organização. Os estudantes de 15 anos, que frequentam entre o 7º e o 11º ano, foram sujeitos a testes no âmbito da literacia matemática, de língua e científica, de maneira a medir o rendimento educacional dos Estados.
Já em 2000, o primeiro ano em que o estudo foi realizado, a Finlândia destacava-se na leitura, onde conquistava o primeiro lugar. O Japão e a Coreia saíam-se melhor a Matemática e Ciências, respectivamente. Três anos depois, a Finlândia arrecadou os primeiros lugares nas três áreas.
O Ministério da Educação finlandês analisou os resultados de 2003 e concluiu que há alguma homogeneidade entre os estudantes que participaram: 93 por cento cumprem tarefas de nível dois (o PISA prevê seis níveis, sendo que o 1 é o mais baixo), o que é significativo comparando com a média da OCDE, que é de 79 por cento.
Mas há mais: 25 em cada cem alunos realizam exercícios de nível seis e 50 por cento de nível quatro. Só entre um e dois por cento dos estudantes avaliados é que ficam no nível mais baixo.
Durante os nove anos de escolaridade obrigatória, as famílias não fazem qualquer gasto - o investimento em educação é de 5,8 por cento do PIB. O Estado oferece escola, transportes e uma refeição quente diária. O ministério paga ainda o material e manuais escolares, do 1º ao 9º ano. Só quando os alunos chegam ao ensino secundário é que as famílias começam a despender algum dinheiro, nomeadamente nos livros - que, ao contrário do que acontece em Portugal, são avaliados pelo ministério.
Os dias de aula são curtos e terminam cedo. Depois do almoço, os estudantes dedicam-se a outras actividades, que podem ser feitas na escola ou na área da residência, como desporto ou música. Um "bom sistema" de bibliotecas também contribui para os bons resultados dos alunos, aponta Katrina Pirnes, assistente cultural da Embaixada da Finlândia.
"Os finlandeses gostam de ler", diz. Desde o ensino pré-escolar (os miúdos são obrigados a fazer apenas um ano de pré-primária, aos seis anos e aos sete entram para a 1ª classe) que as escolas e as bibliotecas trabalham em conjunto para cultivar o gosto e a frequência dos espaços de leitura. "A maior parte dos municípios tem boas bibliotecas que funcionam muito bem", assegura Katrina Pirnes.

"Há pessoas qualificadas
em todo o país"
A estabilidade que se vive nas escolas, desde os programas que têm mudado muito pouco ao corpo docente, que é escolhido pelos estabelecimentos de ensino, é outro dos factores a ter em conta. "Não há concursos de professores, como em Portugal", compara Pirnes. Quando falta um docente, a escola abre uma vaga e selecciona o profissional.
A vida de um professor é estável e este tem liberdade para desenvolver o seu trabalho a partir do currículo lançado pelo Ministério da Educação.
Por exemplo, os docentes são livres de escolher a melhor forma de aplicar a matéria e muitas vezes recorrem à ajuda dos alunos para o fazer - o Estado define 75 por cento das disciplinas comuns e as escolas, com a participação de pais e alunos, organizam o resto do currículo.
A relação professor/aluno é de confiança e os miúdos tratam o adulto pelo nome. Este contacto, motiva os jovens a querer terminar a escolaridade com os melhores resultados, refere Pirnes.
A estabilidade do corpo docente permite ainda que não existam grandes diferenças nos resultados dos alunos das escolas rurais e dos meios urbanos. "Os finlandeses têm aptidões acima da média a Matemática e Ciência e há pessoas qualificadas em todo o país", explica Katrina Pirnes.
A Finlândia começa a debater-se com um problema comum a outros países europeus: a falta de professores. Os actuais estão a aproximar-se da idade da reforma e apenas duas, em mais de 20 universidades, têm cursos de professores com vagas controladas para não criar excesso de profissionais.

[anterior]