Diário do Minho

Os grandes benfeitores de Portugal
Rui Rosas da Silva

Confesso, com certa vergonha, a minha ignorância sobre quem manda nestas coisas de atribuir anualmente condecorações. Creio que o dia 10 de Junho é a data escolhida, habitualmente, para pôr ao peito de cidadãos diversas medalhas de ordens, em reconhecimento dos méritos alcançados com a sua vida e o seu trabalho. Não sei de todo se podem atribuir-se condecorações a entidades, instituições, etc.

Pois bem: se fosse eu quem mandasse, estaria na minha mira condecorativa a Associação Portuguesa de Famílias Numerosas. E explico porquê, tendo em atenção que Portugal está a envelhecer e continua a ter um índice de natalidade baixíssimo.

Numa terra onde se promovem as uniões de factos, instáveis e muito pouco férteis, que geram com mais facilidade filhos traumatizados e eivados de problemas de adaptação ao meio social onde se inserem;

numa terra, onde se aponta, pela activa e pela passiva, para os graves riscos de um casal ter mais do que um ou dois filhos; numa terra, onde a educação sexual das nossas escolas torna o sexo dos jovens um sistema puramente recreativo, completamente alheio às suas funções geradoras, que se encaram mais como uma ameaça ao gozo das relações do que como uma realidade séria e reconfortante;

numa terra onde é mais difícil despedir com justa causa um trabalhador do que divorciar-se, para ruína e instabilidade dos agregados familiares; numa terra onde anda de moda enaltecer a excelência do mundo lésbico e homossexual, que nada pode produzir em matéria de natalidade, dada a ausência de leis naturais que funcionem nesse sentido;

numa terra, enfim, onde tudo isto acontece e, com a hipocrisia dum bombeiro pirómano, se escandaliza com os fogos que ateia, ao descobrir a exploração sexual de menores numa instituição respeitável e benemérita...

Todas estas realidades que fazem parte do pão nosso de cada dia, na televisão, em boa parte dos outros meios de comunicação social, nos costumes, nas conversas, nos empregos, em todo lado, levam a gente do nosso país a pensar apenas no presente e sem perspectivas de futuro.

O que lhe interessa, o que divisa é tão só o já e o agora, que deve fornecer o maior prazer e a maior satisfação instantânea.

Por isso, os casais não querem ter filhos - pelo menos, em número suficiente para repor as gerações: 1,5 filhos por mulher fértil não dá senão para envelhecer e morrer depois de inanição. São como velhos exaustos, que fazem da sua terra um asilo de terceira idade prestimoso e agradável, capaz de lhe acudir aos achaques e às necessidades, a fim de que, tanto quanto lhes for possível, logrem eternizar o presente confortável em que vivem.

Mas que não lhe peçam mais. Futuro? Para um ancião, a morte é sua vizinha natural; para uma sociedade infértil, a sua extinção progressiva. Será isto acreditar no país, na sua vida, na sua continuação, no bem comum, etc.?

Que responda cada um como conforme for o seu entender.

No meu, quem pensa em todos estes parâmetros com idoneidade e inequívoca coragem é a Associação Portuguesa de Famílias Numerosas, que reúne casais com três ou mais filhos.

Crê no futuro, porque gera proles substanciais, capazes de garantir o porvir da sociedade a que pertencem.

É um hino de juventude, de fertilidade e de esperança e não a modorra de quem parece querer contar apenas com o presente e tratar dos seus problemas actuais.

Além disso, se olharmos para a sua pauta de notas positivas, sabemos que ela representa os núcleos de lares que manifestam maior estabilidade familiar, garantindo aos filhos o direito universal de serem educados por pai e mãe.

São também os que fornecem mais capital humano à sociedade, os que mais consomem em despesas essenciais à vida, os que pagam mais impostos e os que fornecem mais jovens e crianças ao sistema educativo e produtivo, que se vai exaurindo de matéria prima discente e colocando os professores no desemprego óbvio.

Vinte por cento (20%) da população portuguesa inclui-se na categoria de família numerosa e é deste agrupamento minoritário que, anualmente, sai 26% dos novos nascimentos de cidadãos lusitanos.

Não há dúvida de que as famílias numerosas portuguesas surgem aos olhos de quem sabe ponderar como uma pedra no charco da nossa sociedade envelhecida e sem forças de futuro. Elas ainda acreditam que vale a pena garantir o dia de amanhã com novas gerações.

Insisto: quem manda nas condecorações? As famílias numerosas são os maiores benfeitores deste cansado país que se ancianiza com perdas de viço e de fertilidade.
 

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