Há ocasiões em que ...

 

Diz a sabedoria popular que “a estopa ao pé do lume arde”. A experiência de cada um de nós e dos que connosco convivem confirma este adágio.

Quem se julga forte, invencível e  capaz de resistir a todos os apelos que sopram do exterior, pode crer que a sua capacidade de resistência é limitada. Por isso, na educação das crianças e dos jovens é fundamental que, como já o referi inúmeras vezes, os pais (o pai e a mãe!) tenham a coragem e o bom senso de exercer a autoridade com inteligência  adequada à idade dos filhos. Por outro lado, as crianças devem entender que devem saber lidar com as frustrações que vão surgindo no seu dia-a-dia sabendo e aprendendo com os pais a lidar com as perdas e o sofrimento que são inerentes à vida.

O exemplo parental é uma referência essencial e incontornável. As vivências parentais são apercebidas desde muito cedo. As crianças percebem e apercebem-se da atmosfera que as rodeia e rapidamente se dão conta das vulnerabilidades dos pais (do pai e/ou da mãe). Quem tem filhos sabe que, quantas vezes parecendo distraídos, aqueles estão a sentir o que se passa de forma difusa ou explicita na atmosfera familiar. O sentido é, provavelmente, muito mais importante do que o visto ou ouvido. A atmosfera familiar é decisiva. Por isso, é necessário criar uma atmosfera familiar onde se respire um ambiente de diálogo, de tolerância, solidariedade, justiça, verdade... Muito mais importante e decisivo para a formação dos nossos filhos do que as palavras ditas fora do contexto e sem o sentido sincero do que queremos dizer. Se as crianças e jovens, por exemplo,  não viverem  numa  atmosfera  de  Amor, jamais  perceberão e entenderão o que na realidade é o Amor e deste terão uma ideia redutora e pobre  que  lhes  é  passada  na  Escola,  na  Comunicação  Social  ou, até, imagine-se em "grafiiti" que poluem as ruas e monumentos das nossas vilas e cidades.

Voltando ao adágio com que comecei este apontamento - "a estopa ao pé do lume, arde" - e no sentido em que me estou a referir, significa que os nossos filhos deverão crescer num ambiente que lhes permita ir construindo uma personalidade forte, para poderem agir, em liberdade e com firmeza aos múltiplos e difíceis desafios que os "pares" na Escola, na rua ou no grupo de certeza lhes não vão colocando. Se não tiverem crescido em atmosfera promotora da auto-estima, em clima de assertividade, sabendo reagir e agir de acordo com valores sólidos, dificilmente, ao pé do lume que são as pressões negativas do meio, portar-se-ão, lógica e naturalmente como a estopa que ao menor contacto com o lume, arde. Arde e se destrói reduzindo-se a cinza.

Não é este o final que queremos para os nossos filhos, pois não?

  

Carlos Aguiar Gomes

Presidente da Associação Famílias

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