Público- 04
Dez 06
Maioria só esteve casada entre um e quatro anos
Estudo sobre perfil da juventude portuguesa
revela que os jovens estão mais dependentes dos pais
até mais tarde e a maior parte tem profissões pouco
qualificadas
As raparigas estão cada vez mais
nos bancos das faculdades, adiam o casamento e a
maternidade, entram mais tarde no mercado de
trabalho, ao contrário dos rapazes, que abandonam a
escola mais cedo, revela o estudo encomendado pelo
Governo. A taxa de divórcio entre a população jovem
tende a aumentar, indiferentemente de ter sido uma
celebração católica ou não e de haver ou não filhos.
Embora continue a ser minoritária, duplicou a
proporção de jovens que prefere a união de facto
para constituir família. O número de divórcios
aumentou a nível nacional, principalmente entre os
jovens com 25-29 anos, e nos últimos anos a maioria
dos casamentos, católicos ou não, que acabou em
divórcio na população jovem durou entre um e quatro
anos. Lusa
A tuberculose e a hepatite são as doenças que mais
atingem a juventude portuguesa, segundo o estudo A
condição juvenil portuguesa na viragem do milénio. O
documento realça que a população jovem (com idades
entre os 15 e os 29 anos) decresceu cerca de oito
por cento entre 1991 e 2004, baixando de um quarto
para um quinto da população portuguesa. No período
estudado, a taxa de mortalidade dos jovens em
Portugal baixou e aumentou, com as mulheres a terem
uma esperança média de vida maior e os homens a
representarem a maioria dos óbitos. O estudo explica
que há mais homens do que mulheres desde o
nascimento até à idade adulta, mas, "a partir da
idade adulta, esta tendência inverte-se porque os
homens começam a morrer mais cedo do que as
mulheres". Houve uma diminuição de condutas de risco
entre os mais jovens, nomeadamente da sinistralidade
verificada em várias dimensões da vida social
(rodoviária, laboral, doméstica e no lazer), assim
como dos casos diagnosticados de sida e dos óbitos
por consumo de drogas. Lusa
O ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira,
afirmou ontem que os jovens têm vantagens em obter
mais qualificações, apesar de o desemprego entre os
licenciados ter quadruplicado numa década.
"O tempo médio de desemprego de um licenciado [oito
meses] é quase metade de um não licenciado, que é de
15 meses", disse Pedro Silva Pereira ao PÚBLICO, a
propósito de um estudo sobre a juventude portuguesa,
divulgado ontem. A pesquisa revelou que os jovens
com formação superior sem emprego eram 5,1 por cento
em 1991 e passaram para 20,6 por cento em 2001.
"As qualificações e as licenciaturas são uma
vantagem", sublinhou o ministro que tutela a pasta
da Juventude. Silva Pereira reconhece, no entanto,
que há "um desequilíbrio entre o ensino superior e
as saídas profissionais", razão que levou às
reformas iniciadas no sector.
O estudo A condição juvenil portuguesa na viragem do
milénio foi encomendado pela Secretaria de Estado da
Juventude e do Desporto e elaborado por sociólogos
do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de
Lisboa. As conclusões baseiam-se no cruzamento de
dados oficiais da população juvenil dos 15 aos 29
anos em diversas áreas, entre 1990 e 2005.
O estudo conclui que os jovens estão hoje mais
dependentes dos pais até mais tarde e a maior parte
ocupa profissões pouco qualificadas, apesar do
aparecimento de um novo grupo com cargos de chefia
por ter escolarização elevada.
Trabalhadores por conta
de outrem
Há uma "progressiva intensificação da dependência
familiar entre os mais jovens", fenómeno que o
estudo atribui ao prolongamento da escolarização e
ao retardamento da inserção profissional,
salientando que a taxa de emprego cresce nos jovens
com idades entre os 25 e os 29 anos, com uma
"tendência de aproximação da taxa de actividade
feminina à taxa masculina", segundo o estudo citado
pela agência Lusa.
Para Pedro Silva Pereira, a maior dependência dos
jovens em relação aos pais tem "boas e más razões":
por um lado, há um prolongamento dos percursos
escolares, "e isso é bom"; por outro, "há alguma
dificuldade na inserção do mercado de trabalho".
Segundo o estudo, a maior parte dos jovens é
trabalhador por conta de outrem e concentra-se
principalmente em actividades relativamente pouco
qualificadas, como o operariado, ou em trabalhadores
administrativos comerciais e de serviços.
O documento realça que o segmento jovem é cada vez
mais qualificado, mas também, por contraste, aquele
em que o abandono escolar desqualificado "está longe
de ser erradicado". "Praticamente 50 por cento dos
jovens empregados em 2004 não têm mais do que a
escolaridade mínima obrigatória, o que dá conta do
arcaísmo que continua a caracterizar o sistema de
emprego português, dominado por segmentos onde se
privilegia mão-de-obra desqualificada, barata e
intensiva", escrevem os autores.
"Desemprego
de circulação"
Em contraste com esta realidade maioritária,
triplicaram os casos de jovens empregados com ensino
superior de 1991 a 2001 e denota-se "o envolvimento
crescente em lugares de chefias, de direcção e
quadros - com especial relevo nas mulheres" -, de
jovens formados.
A proporção de jovens enquadrados no grupo
socioeconómico "directores, quadros e chefias" sobe
de 9,9 por cento em 1991 para 17,6 por cento em
2001, "muito provavelmente em consequência do
aumento das taxas de escolarização a nível
universitário", refere o relatório. A subida das
taxas de desemprego juvenis "atinge contornos
preocupantes" e afecta mais as mulheres do que os
homens, salienta o relatório.
A situação do emprego reflecte, segundo o estudo, o
abandono escolar destes jovens, 35 por cento dos
quais saem do sistema de ensino sem ter completado
os nove anos de escolaridade obrigatória. "Dos
jovens desempregados em 2005, a grande maioria
encontrava-se em "desemprego de circulação", ou
seja, já transitaram mais do que uma vez de
emprego", salienta o relatório, acrescentando que
são também cada vez mais prolongados os tempos de
desemprego.
O estudo vai servir para sustentar políticas
públicas dirigidas à juventude, segundo Silva
Pereira. O Programa Nacional da Juventude 2007-2013
será acompanhado por uma comissão interministerial,
adiantou o ministro.