Expresso - 16 de Fevereiro

A indisciplina nas escolas

«A aprendizagem não é uma actividade lúdica: implica esforço, dedicação, sacrifício, entrega, renúncia. Quanto à igualdade dentro das escolas, também é uma ideia errada. Numa escola há os que ensinam e os que aprendem. Se os estatutos e os deveres de uns e de outros não forem claros, nenhuma escola poderá funcionar bem.»

HÁ cinco anos, a indisciplina nas escolas era um tema tabu.

Hoje, não há ninguém que não o comente, desde teóricos de direita a insuspeitos socialistas.

O manifesto-apelo ao Presidente da República para intervir nesta área aí está a prová-lo.

Foi-se, de facto, longe demais na tolerância se tornarem potenciais fábricas de delinquentes.

E tudo isto porque, nos últimos trinta anos, se insistiu num erro em matéria de educação.

O problema já vem de antes do 25 de Abril - do tempo em que Marcello Caetano era o chefe do Governo e Veiga Simão o ministro da Educação Nacional.

Introduziu-se então o conceito, internacionalmente muito em moda, de que o ensino não devia ser «dirigista» e que a aprendizagem não devia significar para um aluno um sacrifício mas um prazer.

Além disso, professores e alunos deviam ser considerados iguais.

Ora a aprendizagem não é uma actividade lúdica: implica esforço, dedicação, sacrifício, entrega, renúncia.

Quanto à igualdade dentro das escolas, também é uma ideia errada.

Numa escola há os que ensinam e os que aprendem.

Se os estatutos e os deveres de uns e de outros não forem claros, nenhuma escola poderá funcionar bem.

A ilusão de que seria possível aprender sem esforço e que professores e alunos deveriam ser iguais conduziu aos resultados que se conhecem.

E que foram agravados pelas sucessivas convulsões que o país experimentou neste período:

O 25 de Abril e as transformações políticas e sociais induzidas pela revolução.

A vinda para Portugal dos chamados «retornados».

A entrada no país de milhares de imigrantes das ex-colónias, na sua maioria com filhos em idade escolar.

O êxodo dos campos para as cidades, com a sobrelotação das escolas urbanas.

Tudo isto coincidiu com o período da chamada «reforma do ensino», agravando os problemas.

Agora, finalmente, ouvem-se gritos de alerta.

Percebeu-se que não pode haver ensino sem disciplina, que os professores para ensinar têm de ser respeitados, que a aprendizagem exige dedicação.

Mais vale tarde do que nunca.

Só falta meter mãos à obra.

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