Diário de Notícias - 28 Fev 06

 

Imigração não vai resolver perda de população na União Europeia

Elsa Costa e Silva

 

Poucos, velhos e lentamente a desaparecer - na próxima metade de século, os europeus preparam-se para morrer mais tarde, ver nascer menos bebés e serem cada vez menos numerosos face a outras populações. O decréscimo populacional no Velho Continente acentua-se e a imigração não será suficiente contrapeso face ao declínio da natalidade, alerta um relatório do Eurostat ontem divulgado.

Ou seja, mesmo prevendo que a Europa acolha até 2050 cerca de 40 milhões de habitantes, haverá perda populacional. Usando a tendência actual como uma média de evolução, a Europa dos 25 terá perdido perto de nove milhões, sobretudo nos novos Estados membros. Portugal não será excepção e prepara-se para descer abaixo da fasquia dos dez milhões de habitantes.

O relatório assinala que a maior parte das variantes demográficas mostra um declínio da população na primeira metade do século. Só uma combinação muito particular de imigração líquida de 60 milhões com uma taxa de fertilidade, mantendo em crescimento a esperança média de vida dos europeus, poderá levar ao aumento da população na Europa.

Por isso, os autores do relatório assinalam que o mais provável é o declínio, ao mesmo tempo que é certo que a população vai envelhecer. Os cenários traçados pelo Eurostat não têm em consideração quaisquer medidas que possam influenciar os factores demográficos. Ou seja, mantêm como tendência natural a diminuição do número de filhos por mulher e o adiamento da maternidade. Por isso, sem o investimento dos Estados membros em políticas activas de promoção da natalidade, vai acentuar-se a diminuição de nascimentos na Europa. Porque, também fruto desta tendência, há cada vez menos mulheres e jovens para ter filhos no futuro.

Outro dado preocupante é o envelhecimento acentuado da população. Até 2050, o número de pessoas com mais de 65 anos vai triplicar na Europa, passando dos actuais 18 para cerca de 50 milhões. Uma tendência, afirma o documento, que se acentuará a partir de 2025. E uma das consequências mais gravosas será o impacto nas economias dos países, já que haverá, em média, um idoso para cada duas pessoas em idade activa. Este rácio é actualmente o de um idoso para quatro pessoas entre os 15 e os 64 anos.

A imigração poderá ser um "alívio" para as economias destes países e mesmo para os sistemas de segurança social. Mas não chega para travar o declínio populacional. Havendo já muitos europeus a chegar a idades avançadas, é de esperar o aumento do número de mortes, que irá, em breve, ultrapassar o número de nascimentos. É por isso que, mesmo admitindo que a União Europeia possa ter uma imigração líquida de 40 milhões de pessoas, a população irá diminuir em cerca de sete milhões.

 

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