Diário de Notícias - 22 Fev 07

 

Fecho de urgências leva milhares à rua em protesto

Joana de Belém

 

A ponte romana de Chaves, ex-líbris da cidade, 'juntou-se' ao protesto dos milhares de habitantes do Alto Tâmega contra a desclassificação das urgências do hospital da capital do concelho e o encerramento da urgência do centro de saúde Vila Pouca de Aguiar. Mesmo ao longe, era possível vislumbrar os magotes de pessoas que a atravessavam numa marcha lenta que ontem atravessou a cidade e rumou à fronteira com Espanha, em Vila Verde de Raia, onde bloquearam o trânsito durante duas horas.

Uma autêntica romaria de populares, autarcas, associações de Chaves e vários de carros de bombeiros concentrou-se no Jardim das Freiras, no centro da cidade, empunhando palavras de ordem como "Senhores ministros, tirem-nos tudo e venham morar para este paraíso", "Urxencias em Verin" ou "Socorro... ajudem o hospital!" como forma de contestar a conversão da urgência do hospital local de médico-cirúrgica para básica. Gente chegada de todos os seis municípios do Alto Tâmega, acompanhada pelos respectivos autarcas, protestou bem alto contra a proposta da Comissão Técnica de Apoio ao processo de Requalificação das Urgências.

Num discurso ouvido por cerca de cinco mil pessoas, o presidente da Câmara de Chaves fez um apelo directo a Correia de Campos, ministro da Saúde, e aos peritos que elaboraram a proposta, para percorrerem "os mais diversos acessos e as mais remotas estradas e caminhos do Alto Tâmega". Uma forma, diz João Baptista, de "perceber que a população de algumas localidades já fica actualmente a mais de 45 minutos de distância da urgência e que a que separa esta cidade de Vila Real é superior a 70 quilómetros", mesmo depois da abertura da auto-estrada.

Cidade e acessos completamente entupidos, os manifestantes circularam em marcha lenta pela Estrada Nacional 2 até à fronteira com Verín, criando uma mancha automobilística de cerca dez quilómetros de extensão. "Está na hora, está na hora, do ministro ir embora!", gritou-se já junto a Espanha. "A gente trabalha tanto aqui na região e, no final, tem alguma coisa? Certos só os impostos", reclamava Zulmira Pimentel, acrescentando: "Querem fechar-nos uma porta que é de todos nós!" Assim como outros populares, esta moradora de Chaves garante que "Vila Real, nunca!" "Se tiver de morrer a caminho do hospital morro em Verín, que é aqui mais perto", disse ainda, antes de explicar que já tem o Cartão Europeu de Saúde.

Apesar do protesto ter decorrido de forma pacífica, era grande o descontentamento dos manifestantes, visível em comentários como "Entreguem-nos a Espanha!". Aliás, o empunhar de uma bandeira do país vizinho foi momento que suscitou uma mais intensa salva de palmas.

Vila Pouca de Aguiar. Ribeira de Pena, Boticas, Valpaços e Montalegre também se juntaram ao protesto. Fernando Rodrigues, presidente deste último município, diz que, apesar da urgência da sua cidade ser a única reforçada (com pessoal técnico), não chega. "Se há uma situação mais grave o doente tem de ser transportado para Chaves, se encerra, para onde vão?", questiona (Vila Real dista cerca de 96 quilómetros).

Também em Valença houve ontem novo protesto.