Jornal de Notícias
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16 Fev 09
O horror do vazio
Mário Crespo
Depois de em Outubro ter morto o casamento gay no
parlamento, José Sócrates, secretário-geral do
Partido Socialista, assume-se como porta-estandarte
de uma parada de costumes onde quer arregimentar
todo o partido.
Almeida Santos, o presidente do PS, coloca-se ao seu
lado e propõe que se discuta ao mesmo tempo a
eutanásia. Duas propostas que em comum têm a
ausência de vida. A união desejada por Sócrates, por
muitas voltas que se lhe dê, é biologicamente
estéril. A eutanásia preconizada por Almeida Santos
é uma proposta de morte. No meio das ideias dos mais
altos responsáveis do Partido Socialista fica o
vazio absoluto, fica "a morte do sentido de tudo"
dos Niilistas de Nitezsche.
A discussão entre uma unidade matrimonial que não
contempla a continuidade da vida e uma prática de
morte, é um enunciar de vários nadas descritos entre
um casamento amputado da sua consequência natural e
o fim opcional da vida legalmente encomendado.
Sócrates e Santos não querem discutir meios de
cuidar da vida (que era o que se impunha nesta
crise). Propõem a ausência de vida num lado e
processos de acabar com ela noutro. Assustador, este
Mundo politicamente correcto, mas vazio de
existência, que o presidente e o secretário-geral do
Partido Socialista querem pôr à consideração de
Portugal. Um sombrio universo em que se destrói a
identidade específica do único mecanismo na
sociedade organizada que protege a procriação, e se
institui a legalidade da destruição da vida.
O resultado das duas dinâmicas, um "casamento" nunca
reprodutivo e o facilitismo da morte-na-hora, é o
fim absoluto que começa por negar a possibilidade de
existência e acaba recusando a continuação da
existência. Que soturno pesadelo este com que
Almeida Santos e José Sócrates sonham onde não se
nasce e se legisla para morrer.
Já escrevi nesta coluna que a ampliação do casamento
às uniões homossexuais é um conceito que se vai
anulando à medida que se discute porque cai nas suas
incongruências e paradoxos. O casamento é o mais
milenar dos institutos, concebido e defendido em
todas as sociedades para ter os dois géneros da
espécie em presença (até Francisco Louçã na sua
bucólica metáfora congressional falou do "casal" de
coelhinhos como a entidade capaz de se reproduzir).
E saiu-lhe isso (contrariando a retórica partidária)
porque é um facto insofismável que o casamento é o
mecanismo continuador das sociedades e só pode ser
encarado como tal com a presença dos dois géneros da
espécie. Sem isso não faz sentido. Tudo o mais pode
ser devidamente contratualizado para dar todos os
garantismos necessários e justos a outros tipos de
uniões que não podem ser um "casamento" porque não
são o "acasalamento" tão apropriadamente descrito
por Louçã.
E claro que há ainda o gritante oportunismo político
destas opções pelo "liberalismo moral" como lhe
chamou Medina Carreira no seu Dever da Verdade. São,
como ele disse, a escapatória tradicional quando se
constata o "fracasso político-económico" do regime.
O regime que Sócrates e Almeida Santos protagonizam
chegou a essa fase. Discutem a morte e a ausência da
vida por serem incapazes de cuidar dos vivos.