Fórum da Família - 5 Jan 04
Portugal - Estado de Consciência
Nas últimas semanas, e a propósito do debate sobre o aborto, Portugal foi
desperto para uma nova tendência política, que consiste na substituição do
Estado de Direito por Estado de Consciência.
Assim, em vez de Portugal ser um Estado de Direito, isto é, um Estado
gerido por leis que regulamentam o comportamento em sociedade, procurando,
nomeadamente, defender os mais fracos de abusos dos mais fortes, passaria
a Estado de Consciência, isto é, um Estado em que, na defesa suprema da
liberdade individual, os comportamentos dos cidadãos passariam a ser
apenas limitados pela consciência de cada um.
Ora esta alteração de funcionamento revela uma enorme visão, e tem
inúmeras vantagens:
1 - Aproveitando-se a revisão da Constituição, esta passará a ter apenas
um único artigo:
Artigo único: Portugal é um Estado de Consciência, em que todos os
cidadãos actuarão de acordo com a sua consciência.
2 - Do que se segue, verifica-se que as funções do Tribunal Constitucional
serão profundamente simplificadas porque, não só deixam de existir tantos
artigos contraditórios na Constituição Portuguesa, como os juízes também
terão apenas de decidir de acordo com a sua consciência, tornando
desnecessário fundamentar os seus pareceres. Basta escreverem o que, em
consciência, decidirem.
3 - Deixará de haver necessidade de impostos, Ministério das Finanças,
Orçamento e outras coisas tão dispendiosas. Pelo contrário, bastará
colocar umas caixas de esmolas, no género dos "Eco-Pontos", à entrada de
todas as juntas de freguesia para que os cidadãos lá coloquem aquilo que,
em consciência, deverão dar para cada Ministério. Os presidentes da junta
recolherão esses contributos e, em consciência, determinarão o que deverão
enviar para o Município. Os Municípios farão o mesmo relativamente aos
Governadores Civis que, inexplicavelmente, ainda continuam a existir.
Estes, reencaminharão aquilo que, em consciência, acharem que deverá ser
reencaminhado para o Governo.
4 - Deixará de fazer sentido existir Ministério da Justiça e todos os seus
agentes, poupando-se imenso dinheiro e ganhando-se, finalmente, a tão
necessária eficiência no exercício da Justiça. Por exemplo, só serão
presos aqueles que, em consciência, acharem que o deverão ser, acabando-se
com a instituição obsoleta de tribunais, assim como os resquícios de
estados totalitários como sejam fiscais, juízes, polícias, etc.
5 - Outra enorme vantagem é acabar-se com o Ministério da Educação,
exames, escolas, etc. Cada cidadão procurará instruir-se de acordo com a
sua consciência e, também, poderá exercer os ofícios que achar. Por
exemplo, isso trará também a vantagem de se acabar com a falta de médicos,
uma vez que cada um poderá exercer medicina se, em consciência, achar que
o pode fazer.
6 - A Brisa poderá também poupar imenso dinheiro, uma vez que deixará de
ser necessário instalar o dispendioso equipamento para detectar condutores
em contramão, até porque esse conceito deixa de fazer sentido. Os cidadãos
poderão circular de acordo com a sua consciência, o que reduzirá o número
de engarrafamentos em hora de ponta, permitindo-lhes usar as normalmente
vazias faixas de sentido contrário a essa hora.
7 - Será, também, o fim da crise económica. Repare-se que a crise existe
apenas na economia formal. Pelo contrário, a economia paralela mostra uma
enorme pujança. Por isso, urge acabar com a economia formal, factor
indesmentível do nosso atraso. Os agentes económicos deverão todos passar
a actuar de acordo com a sua consciência. Para isso, é necessário
acabar-se, também, com o antiquado conceito de "corrupção", uma vez que as
autoridades deverão poder fixar sempre os emolumentos devidos de acordo
com a sua consciência, sendo, deste modo, premiados justamente de acordo
com a sua produtividade.
8 - Poderão apenas surgir alguns conflitos quando a consciência de um
cidadão estiver em oposição com a consciência de outro. Nesse caso, que só
a eles diz respeito, deverá seguir-se, obviamente, a consciência do mais
forte, o que conduzirá a um melhor Estado, porque os mais fracos serão
naturalmente eliminados. Não só o Estado será mais forte, como muito mais
rico, uma vez que os mais fracos não só não são fonte de receita como,
normalmente, são causa de despesa.
Enfim, imensos exemplos poderão ser dados para referir as enormes
vantagens que advirão de levar Portugal a ser o primeiro Estado de
Consciência do mundo!
Perante isto, só nos resta fazer coro com tantos que o defendem e gritar:
Consciência ao Poder!
Viva o Portugal de Consciência!
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