Público - 19 Jan 04
Se a Europa Quiser Acompanhar Crescimento dos Estados Unidos Tem
de Acolher Mais Imigrantes e Ter Mais Filhos
As políticas natalistas de países como a França ou a Suécia são de
seguir, tal como as reformas que estão a ser discutidas em Itália ou
na Alemanha para aumentar a idade da reforma. A revisão do regime da
aposentação da Administração Pública também vai na direcção
correcta. Mas tudo isso será insuficiente para permitir que a
Europa, e dentro dela Portugal, consigam enfrentar o envelhecimento
da população e, simultaneamente, manter o seu modelo social. Para o
conseguir também será necessário acolher mais imigrantes.
P.-Tem defendido que devemos ter uma política de imigração mais
aberta. Como é isso compatível com o desemprego a aumentar pelo
menos até 2005?
R.- São duas coisas distintas no tempo. Uma coisa é a situação
conjuntural, outra as necessidades estruturais do país.
P.- Criticou "as dificuldades que se manifestam em acolher mais
imigrantes". O que é que queria dizer com esta frase?
R.- As dificuldades são as derivadas de uma sondagem, feita em
vários países europeus, que revelou, para minha surpresa, que
Portugal era o país onde era maior a rejeição à entrada de
imigrantes. Para mim foi uma surpresa. Ora pensando nos nossos
problemas estruturais - nossos e europeus -, um dos problemas que se
coloca para o futuro, quando olhamos para o crescimento potencial da
Europa e de Portugal, é que esse crescimento potencial é afectado
pela demografia, pelo crescimento da população. Uma diferença grande
entre a Europa e os Estados Unidos é que enquanto estes têm uma
população a crescer um por cento ao ano, a Europa está com uma
população declinante. Na década de 90 os Estados Unidos cresceram a
um ritmo um por cento acima do ritmo europeu, mas se considerarmos a
taxa de crescimento por habitante, foi quase igual. Isto quer dizer
que a taxa de crescimento potencial de uma economia depende muito da
oferta de trabalho, do crescimento demográfico. O que há na Europa é
uma população em declínio que não garante a progressão a prazo da
oferta de trabalho. Se não resolvermos este problema teremos menores
taxas de crescimento e menores possibilidades de fazer face às
consequências do envelhecimento da população. Isto implica
disponibilidade dos países europeus para aceitarem mais imigrantes,
implica que os europeus tenham de trabalhar mais anos do que hoje e
supõe também um aumento da natalidade. As três coisas vão ser
necessárias se quisermos que a Europa não entre em declínio e tenha
dificuldades crescentes para resolver os seus problemas sociais.
P.- A verdade é que a tendência tem sido para diminuir o número
de anos que se trabalha e o número de filhos por casal. O que é que
se pode fazer para inverter essa tendência?
R.- Há políticas públicas...
P.- Políticas como a agora anunciada nos EUA para promover a
natalidade?
R.- Não conheço os pormenores dessa nova política, mas recordo
que na Europa há políticas públicas bem conseguidas em países tão
diferentes como a França ou a Suécia.
P.- A esquerda está preparada para defender esse tipo de
políticas?
R.- Não respondo a essa questão que não é do meu domínio. É
necessário é reagir e, neste momento, na Europa, vários países
discutem propostas no sentido de estender o número de anos de
trabalho: a Alemanha, a Itália, a França. O aumento espectacular da
esperança de vida das pessoas faz com que as atitudes perante o
trabalho tenham que acompanhar essa mudança. As coisas não ficam
estáticas, pelo que se a Europa quer defender a sua cultura, a sua
civilização, e quer ter os meios económicos para o fazer mantendo o
seu modelo social, é necessário garantir um crescimento económico
mais forte no futuro, o que exige medidas estruturais.
P. - Medidas como a revisão do regime de aposentação dos
funcionários públicos vão no sentido correcto? São suficientes?
R. - Não sei se são suficientes, mas é evidente que decorre do
que eu disse que não podemos encorajar uma política de reformas
antecipadas.
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