Público - 6 de Junho
Socialistas propõem conceito alargado de núcleo familiar
PCP e BE querem que PS leve alterações à lei da família a
plenário
Por São José Almeida
Margarida Botelho, do PCP, e Luís Fazenda, do Bloco de Esquerda,
declararam ontem ao PÚBLICO que o PS deverá submeter à aprovação em
plenário, sob a forma de projecto de lei, qualquer alteração
substancial e de fundo que queira fazer à lei de bases da família
proposta pelo CDS-PP e já aprovada na generalidade pela Assembleia,
mediante a abstenção dos socialistas.
Esta é a forma como os partidos à esquerda do PS vêem, à partida
e ainda sem conhecimento concreto das propostas a apresentar na
comissão de paridade pelos socialistas, as alterações à lei da
família preparadas por Barros Moura em conjunto com Sónia Fertuzinhos,
que coordena os deputados socialistas neste "dossier".
Margarida Botelho assumiu ao PÚBLICO que se pode estar perante
"alterações radicais ao projecto original" e concluiu:
"Embora, por princípio, sejamos contra o conteúdo proposto pelo
PP e até possamos concordar com o conteúdo das alterações do PS, a
verdade é que também nós já chegámos a votar contra um projecto
nosso por causa das alterações introduzidas na especialidade."
Por seu lado, Luís Fazenda considerou que algumas das propostas do
PS foram apresentadas antes pelo Bloco, mas foi categórico ao
questionar: "A questão
elemento de legitimação."
Já quanto ao conteúdo das propostas, Fazenda explicou que não as
conhecia pelo que não podia comentar."
Expectativa sobre eventuais alterações a propor pelo PS manifestou
o líder parlamentar do CDS-PP, Basílio Horta. "Esperamos que o PS
não aproveite a especialidade para introduzir alterações que
desvirtuem a nossa lei e respondam às criticas do BE", sustentou o
deputado ao PÚBLICO, concluindo: "O que é importante é que a lei
consagre a família como célula base da sociedade."
Esta preocupação foi também manifestada por Ana Manso, do PSD.
Falando a título pessoal, esta deputada, que é responsável pelas
questões da família na bancada social-democrata, sustentou: "O PS
já mudou de posição quando rejeitou o nosso projecto, para depois
aprovar um que era cópia do nosso.
Estou céptica sobre se fez uma inversão séria da sua posição em
relação à instituição família ou é mais uma operação de 'show-off'
em relação à instituição família. Mas pode ser que venha aí um
acto de contrição do PS."
As alterações que o PS pretende propor deverão ser apenas
discutidas, em Setembro, pela comissão de paridade, no seio da qual
está já constituído um grupo de trabalho que inclui Sónia
Fertuzinhos, do PS, Maria do Rosário Carneiro, independente eleita pelo
PS, Celeste Cardona, do PP, Margarida Botelho, do PCP, e Ana Manso, do
PSD.
Segundo explicou ao PÚBLICO Barros Moura, as alterações à lei da
família fazem parte de um pacote de iniciativas, mas no que se refere
à lei de bases, o deputado salientou o facto de a família não ser
olhada como instituição, mas enquanto uma instância e um conjunto de
pessoas. E destacou também que a família será reconhecida pelo PS, em
"qualquer que seja a sua forma e não apenas pelo casamento".
A família engloba, porém, a procriação.
Da lei do PP, o PS deixa de fora por exemplo a protecção à
criança antes do nascimento, que era vista como uma abertura à
proibição total do aborto - uma leitura que Basílio Horta rejeita
liminarmente. Excluída pelo PS é também a possibilidade de os pais
optarem por conteúdos religiosos na educação.
O pacote, divulgado ontem pelo "Diário Económico",
contará também com um projecto de lei de agilização da adopção -
que tem como primeira subscritora Maria do Rosário Carneiro do
Movimento Humanismo e Democracia - e iniciativas concretas sobre
paternidade e maternidade, explicadas por Sónia