Correio do Vouga - 22 de Maio

Dia Internacional da Família - É mais fácil educar uma família numerosa

Fernando Martins

É mais fácil educar uma família numerosa do que uma família pequena, porque os pais se obrigam ao estritamente necessário, aprendem com a experiência e, também, porque não há tempo nem dinheiro para tudo. Esta ideia, que vem um pouco contra o que muito boa gente pensa, foi defendida na quarta-feira, 15 de Maio, Dia Internacional da Família, no CUFC, em sessão comemorativa da efeméride, pelo Dr. Belmiro Pereira, membro da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas. Nesta sessão, moderada pelo Dr. Rogério Leitão, presidente da Associação de Defesa e Apoio à Vida, participou ainda o Eng. Belmiro Couto. A adesão das famílias a esta iniciativa é que não foi suficientemente significativa como, aliás, seria de esperar, tão graves são os problemas que todas elas enfrentam nos dias de hoje. Na sequência daquela afirmação, Belmiro Pereira, que falou de "Família e Escola", disse que nos agregados familiares com muitos filhos também surgem conflitos, como nos outros, mas defendeu que até por isso "não há o risco da monotonia". Por falta de meios, a família aprende a escolher e a fazer opções, mas não deixa de partilhar inquietações e coisas boas. Numa família numerosa, "não há os meus lápis, a minha roupa", nem falta, normalmente, "um ombro amigo", disse. Sobre a Escola, denunciou o absentismo e a incompetência de alguns professores, os programas mal feitos, os erros dos manuais escolares e a fraca participação dos pais nas associações próprias para discutirem os problemas da comunidade educativa.

Como defeitos da Escola dos nossos dias, apontou a instabilidade, com reformas sobre reformas, os interesses instalados de sindicatos, corporações académicas e editores/livreiros, sendo certo que de um ano para o outro não há nenhum livro que se aproveite.

Por outro lado, acusou a burocracia a todos os níveis de impedir o progresso da Escola, de harmonia com as exigências dos nossos tempos, tendo sublinhado que a mesma Escola fornece mais informação do que formação. Também frisou que os alunos, hoje, podem saber muitas coisas, "mas não sabem falar nem escrever", que é o essencial.

Belmiro Pereira afirmou que é urgente educar para o espírito crítico, já que é preciso fundamentar as escolhas, condenou o consumismo ensaiado desde tenra idade e disse que as crianças precisam de aprender "a gostar e não gostar".

Gerir o tempo é preciso

Belmiro Couto, por sua vez, que falou da sua experiência sobre "Família e Trabalho", considerou importantíssimo aprender a gerir o tempo para se poder dar a atenção devida aos filhos e ao cônjuge, tendo em conta os deveres profissionais, cada vez mais exigentes, e a necessidade que todos temos de olhar, também, para nós próprios. Afirmou que há momentos marcantes na vida da família que têm de ser estimulados, com prejuízo, muitas vezes, das actividades profissionais e sociais, e disse que importa, hoje mais do que nunca, proporcionar o convívio e o lazer a todos os membros do agregado familiar. Mas se é fundamental oferecer espaços de âmbito cultural, educativo, social e religioso aos filhos, também não deixa de ser necessário facilitar o desenvolvimento das suas capacidade de cooperação, garantiu Belmiro Couto. Pais e filhos devem partilhar experiências e tarefas domésticas, base da educação para o trabalho, salientou.

Ao reconhecer que há pais que mal têm tempo para ver os filhos, por causa dos horários das escolas e das ocupações profissionais, o orador lembrou que é imperioso usar todos os momentos possível para se conviver com os filhos, mas também disse que a hora das refeições tem de ser aproveitada para conversar sobre tudo, sem o incómodo da televisão. Disse mesmo que o argumento de que é preciso ouvir o noticiário não é válido, pois há notícias a toda a hora. Por fim, frisou que "os momentos felizes com os filhos tornam mais felizes os pais, até nos seus empregos".

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