Público - 25 Mai 04

Consumo de Droga Entre Alunos do Secundário Disparou
Por CATARINA GOMES

O consumo de drogas entre os alunos do ensino secundário público (com idades entre os 16 e 18 anos) disparou. De acordo com um estudo de 1995, o número de estudantes que diziam ter consumido drogas ilícitas nos últimos 30 dias era de 6,5 por cento; em 2001 este número sobe para 12 por cento. São dados do Inquérito Nacional em Meio Escolar, realizado pelo Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT).

Fernanda Feijão, que é autora do estudo juntamente com Elsa Lavado, afirma que há "um acréscimo elevado de prevalência do consumo de drogas" (cannabis, ecstasy, cocaína, LSD e heroína), embora não se possa falar na duplicação de valores, uma vez que os dois estudos usaram metodologias diferentes com amostras semelhantes. O inquérito interrogou 40 mil alunos do ensino secundário público durante o ano de 2001.

Também o consumo ao longo da vida aponta no mesmo sentido: em 1995, 14 por cento diziam ter experimentado pelo menos uma vez; em 2001 o número é já de 28 por cento. É assim que um em cada cinco alunos declara ter consumos recentes de drogas ilícitas (22 por cento experimentaram uma destas substâncias nos últimos doze meses).

A socióloga afirma que o aumento em relação ao ESPAD (European School Survey Project on Alcohol and other Drugs) de 1995 se deve sobretudo ao acréscimo "na experimentação de cannabis": 26 por cento por cento já experimentaram esta droga pelo menos uma vez na vida, 20 por cento fizeram-no nos últimos doze meses, 11 por cento usaram a substância nos últimos 30 dias. Mesmo assim, segundo o estudo do IDT, "apesar do acréscimo da percentagem de jovens que já experimentaram drogas, Portugal continuava a ser um país com prevalências de consumo baixas", em comparação com países como Espanha e Estados Unidos.

As regiões recordistas na prevalência do consumo ao longo da vida em quase todas as substâncias ilícitas são os Açores, a Madeira e Faro, o que a socióloga atribui ao facto de serem locais de passagem, onde o tráfico é mais intenso, e à circunstância de serem locais de turismo, onde a entrada e saída de pessoas é maior.

"Surpresa" na Madeira

O aumento do consumos na Madeira é um dos dados mais "surpreendentes", refere Fernanda Feijão, uma vez que, no estudo de 1995, a maior parte dos valores encontrava-se dentro ou abaixo da média nacional.

O inquérito avaliou também o panorama nas drogas lícitas. Constatou que, em relação ao estudo de 1995, o consumo de álcool e tranquilizantes está a diminuir e estabilizou em relação ao tabaco. Mas estes consumos continuam a ser muito mais frequentes quando comparados com o das drogas ilícitas. Quase metade dos alunos inquiridos (45 por cento) diz ter bebido álcool nos últimos 30 dias.

A percentagem de bebedores de bebidas destiladas, que apresentam teores alcoólicos mais elevados (como o whisky) "está a ganhar grandes proporções", tendo ultrapassado o consumo de cerveja, indica o estudo.

Trinta e cinco por cento dos alunos inquiridos dizem ter ingerido uma bebida destilada nos últimos 30 dias; 67 por cento diz tê-lo feito nos últimos doze meses (quando na cerveja, por exemplo, esta percentagem é de 57 por cento e no vinho 33). A maioria (81 por cento) ingeriu álcool pelo menos uma vez na vida (80 por cento no caso da cerveja, 65 por cento no que toca ao vinho).

Quanto ao tabaco, metade diz ter fumado nos últimos 12 meses. No que diz respeito ao consumo de cigarros nos últimos 30 dias (33 por cento) e pelo menos uma vez na vida (70 por cento), há uma igualdade na prevalência entre sexos - é "a única substância em que isto se verifica", nota a perita.

A percentagem dos que dizem ter consumido recentemente tranquilizantes fica-se pelos cerca de quatro por cento, perto de metade dos que dizem ter recorrido à droga no mesmo período de tempo.

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