ver.pt - 07 Mai
08
Homens e mulheres NÃO devem ser tratados
igualitariamente
Helena Oliveira
O género é uma "questão organizacional" e não um
"assunto de mulheres". Esta é a premissa base do
livro "Why Women Mean Business"que desafia as
empresas, particularmente os homens que as dirigem,
a esquecer as questões da igualdade e da justiça e a
serem eles a quebrar, definitivamente, os tão
falados telhados de vidro. Para o seu próprio bem e
no seu próprio interesse
As empresas europeias afirmam que tratam homens e
mulheres exactamente da mesma forma, mas esse é
precisamente o problema, afirmam as autoras de um
novo livro sobre a influência das mulheres no
mercado de trabalho, Why Women Mean Business,
escrito por Avivah Wittenberg-Cox, fundadora e
responsável pela European Professional Women's
Network, e por uma outrora jornalista do Financial
Times, Alison Maitland.
Quando a Cranfield Business School lançou o Centro
Internacional para as Mulheres de Negócios em 1999,
mais de um terço das empresas pertencente ao índice
FTSE 100 não possuía uma única mulher nos seus
conselhos de administração. Contudo e num relatório
que coincidiu com o 100º Dia Internacional da
Mulher, comemorado no passado dia 8 de Março, o
Centro revelou que o número de mulheres em cargos de
gestão de topo nas empresas do FTSE 100 quase que
duplicou de 5,6 por cento em 2000 para 11 por cento
em 2006.
Contudo e enquanto as estatísticas parecem estar a
mover-se na direcção certa, são vários os
observadores que afirmam que a abordagem corporativa
relativamente ao género precisa de um repensar
radical.
"Os executivos dizem muitas vezes que tratam homens
e mulheres exactamente da mesma forma", afirma
Avivah Wittenberg-Cox. Numa entrevista à revista
Ethical Corp. , em Paris, onde gere uma empresa de
consultoria, a autora afirma que o tratamento
igualitário para ambos os sexos é apenas "metade do
problema". E explica porquê: "Homens e mulheres são
diferentes e quem não compreende estas diferenças
abre espaço para uma predisposição inconsciente e
sistémica que acaba por deixar as mulheres em
desvantagem".
Enquanto as empresas podem recrutar um número
similar de homens e mulheres licenciados, dados
publicados recentemente pela Comissão de Igualdade
de Oportunidades do Reino Unido demonstram que as
mulheres recebem uma quota progressivamente inferior
de promoções para funções sénior a partir da altura
em que entram nos seus 30/40 anos.
As mulheres ainda descem degraus na escada da
carreira, em largo número, quando iniciam famílias,
de acordo com os dados da comissão, que demonstra
que 20 por cento das trabalhadoras no sector privado
e sete por cento no público acabam por abandonar o
mercado de trabalho neste período das suas vidas.
Wittenberg-Cox argumenta que as empresas permitem
que os seus melhores talentos femininos abandonem a
"conduta do talento" durante os seus "trintas",
deixando muito poucos candidatos qualificados para
ocuparem as posições seniores.
"Particularmente nas grandes multinacionais, existe
um sistema 'demasiado' formal em termos de
identificação de elevado potencial, que muitas vezes
é definido pelo departamento de RH para operar na
faixa etária entre os 28 e os 35 anos", acusa
Wittenberg-Cox.
Com muitas mulheres a decidirem constituir família
neste período, as pesquisas demonstram que este é
coincidente com a quebra em termos de promoções.
"Estas políticas são, aparentemente, justas e
igualitárias, na medida em que não existe uma
discriminação formal, mas e em simultâneo, não
existe outra política que afaste mais as mulheres da
liderança do que esta", conclui a autora do livro.
Womenomics
Este é um dos motivos que levou as duas autoras de
Why Women Mean Business a dedicarem o seu livro às
empresas que estão a despertar para a "womenomics",
uma revolução económica criada pelo crescente poder
e potencial criado pelas mulheres e que as
organizações, para seu próprio bem, não podem
continuar a ignorar.
"Homens e mulheres são diferentes e quem não
compreende estas diferenças abre espaço para uma
predisposição inconsciente e sistémica que acaba por
deixar as mulheres em desvantagem".
Se o século XX viu nascer e crescer a ascensão
feminina, o século XXI irá testemunhar as
consequências sociais, políticas e económicas daí
decorrentes. De acordo com as autoras, foram poucos
os acontecimentos que tiveram efeitos de alcance tão
crítico nas vidas de todos os homens, mulheres e
crianças da actualidade do que as rápidas alterações
de estatuto e papéis femininos. Nos últimos 30 anos,
e pela primeira vez na história, as mulheres têm
estado a trabalhar ao lado dos homens, nos mesmos
cargos e empresas, com os mesmos níveis de educação,
qualificações e ambições. Hoje em dia, elas
representam a maioria da pool de talento existente e
possuem uma influência sem precedentes na economia.
Nos Estados Unidos, por exemplo, as mulheres são
responsáveis por 80 por cento das decisões de
compra.
A Goldman Sachs, um dos maiores bancos de
investimento do mundo, é uma das organizações que
está a utilizar o novo termo "womenomics" para
ilustrar a força que as mulheres representam
enquanto garantia de crescimento. E sublinha as
enormes implicações que terá o estreitar do fosso
entre as taxas de emprego feminino e masculino para
a economia global, proporcionando uma enorme
explosão do PIB na Europa, nos Estados Unidos e no
Japão. "Encorajar mais mulheres a entrarem na força
de trabalho tem sido a maior força motriz no mercado
de trabalho da zona Euro em termos do seu sucesso,
muito mais importante do que qualquer outra reforma
'convencional' neste", afirma a Goldman Sachs no
livro em causa.
Por outro lado, reduzir a desigualdade entre géneros
será crucial na abordagem do duplo problema do
envelhecimento da população e da sustentabilidade
das pensões. E como defende a Goldman Sachs, o
emprego feminino e a fertilidade tendem ambos a ser
mais elevados nos países onde é relativamente fácil
para as mulheres trabalharem e terem filhos.
Why Women Mean Business tem como base poderosos
argumentos económicos para mudar o "coração" do
mundo empresarial. As autoras analisam as
oportunidades abertas às empresas que realmente
compreendem aquilo que motiva as mulheres no local e
no mercado de trabalho. Explica igualmente o impacto
das culturas nacionais na participação feminina na
força de trabalho e demonstra de que forma as
políticas organizacionais que tornam as mulheres
bem-vindas ajudarão os negócios a responder aos
desafios de uma força de trabalho envelhecida e às
exigências da próxima geração de trabalhadores do
conhecimento.
As autoras analisam igualmente os motivos devido aos
quais as abordagens actuais relativamente ao género
não funcionam e por que motivo é necessária uma nova
perspectiva: uma que encare as mulheres não como um
problema, mas como uma solução.