Portugal Diário - 12 Mar 03

Eurodeputados portugueses condenam multinacionais

Uma posição unânime de repúdio contra processos de deslocalização de empresas
 
Os partidos políticos portugueses representados no Parlamento Europeu (PE) vão assumir quinta-feira uma posição unânime de repúdio contra os processos de deslocalização de empresas adoptados por diversas multinacionais no espaço comunitário e particularmente em Portugal.

Portugal é o único dos países membros da União Europeia (UE) afectados por esse problema que é expressamente referido na proposta de resolução comum a que chegaram todos os grupos políticos do PE e que tiveram por base documentos apresentados pelos vários eurodeputados portugueses.

A recomendação do PE à Comissão identifica expressamente 16 multinacionais que estão envolvidas em polémicos processos de transferência das suas fábricas para países terceiros ou candidatos ao alargamento, sem terem em conta as respectivas consequências sociais.

A criação de um Código de Conduta das empresas e de um registo actualizado sobre actos lesivos da concorrência e de incumprimento contratual, a recusa da concessão de apoios através dos vários fundos comunitários a quem não respeite os compromissos assumidos com os Estados membros, são algumas das recomendações do PE à Comissão Europeia.

Regina Bastos (PSD), Manuel dos Santos (PS), Ilda Figueiredo (PCP) e Ribeiro e Castro (PP), enquanto autores de propostas de resolução fundidas no texto comum que o PE debate e vota quinta-feira, coincidiram em dizer esta quarta-feira à Agência Lusa que a atribuição dos fundos comunitários para instalação das multinacionais deve ficar condicionada à celebração de acordos de longo prazo em matéria de emprego e desenvolvimento social.  Regina Bastos lamentou que as ajudas financeiras de Bruxelas possam objectivamente «estar a favorecer» a deslocalização das empresas, na sua maior parte dos países mais pobres da União para terceiros - cuja instalação vai beneficiar de novas verbas comunitárias e do pagamento de salários mais baixos.

Manuel dos Santos, que vai propor a transposição rápida para Portugal de directivas que reforçam as garantias jurídicas dos trabalhadores afectados, defendeu que «os problemas actuais» devem ser resolvidos pelos respectivos Estados membros - mas que, para o futuro, seja Comissão a definir um novo quadro de conduta empresarial e respectivo rol de punições.

Ilda Figueiredo, além de pedir um aumento dos valores indemnizatórios a pagar pelas multinacionais aos trabalhadores afectados pelo encerramento das fábricas, vai defender o direito de veto dos sindicatos às decisões empresariais de deslocalização.

Ribeiro e Castro considerou que a solução de compromisso «vai além das expectativas» e estabelece uma «agenda de trabalho» para a Comissão Europeia «que é muito exigente» e favorece «uma disciplina de grande rigor» em matéria de comportamento das empresas.

«Não podemos impedir decisões de deslocalização mas temos a estrita obrigação de não as ajudar», sublinhou o eurodeputado centrista.

Clarks, Gerry Weber, Bagir, Sasimac, Schuh-Union, Scottwool, ECCO'let, Bawo, Rohde, Philips, Yasaki Saltano, Efacec, Eres, Alcoa, Delphy e Alcatel são as empresas identificadas pelo PE como estando a transferir fábricas do espaço comunitário - apesar dos fundos à sua instalação - para outros países sem terem em conta os impactos sociais  a nível dos trabalhadores e das regiões donde saem.

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