Diário de Notícias - 6 Mar 04
Sonolência na base de 83% de acidentes mortais
Os acessos inesperados de sonolência são responsáveis por 83% dos acidentes
mortais na estrada, afirmou ontem uma especialista do Hospital de Santa Maria,
que se dedica à investigação das doenças do sono.
Teresa Paiva - que falava no último dia de um encontro sobre segurança
rodoviária promovido pela Direcção-Geral de Viação no Centro Cultural de Belém -
lembrou que a sonolência não afecta apenas pessoas que têm doenças do sono, como
a apneia (pausas frequentes da respiração durante o sono e ressonar intenso) ou
a narcolepsia (sonolência diurna excessiva e adormecimentos bruscos), já que 20%
dos condutores se confrontam no dia-a-dia com episódios de sonolência.
No entanto, frisou, é difícil obter um conhecimento correcto da sonolência, pois
os condutores evitam referi-la e os episódios podem ter outras causas
associadas, como o consumo de álcool, a fadiga ou o mau tempo.
Quando os acessos de sono acontecem, referiu Teresa Paiva, são quase sempre
inesperados. «Os condutores abrem a janela, põem música, esperam que passe e têm
tendência para continuar a guiar.»
Os acidentes daí resultantes, esses, apresentam alguns factores comuns que
ajudam a identificá-los: acontecem em estradas com boa visibilidade, são
aparentemente implausíveis e não se verificam manobras de evitação. Além disso,
ocorrem sobretudo durante a madrugada, entre as 2.00 e as 4.00, ou de tarde, no
período que corresponderia à hora da sesta.
Hoje, as pessoas dormem menos uma hora e meia que no início do século passado,
sublinhou Teresa Paiva, considerando que «dormir bem é essencial para viver
melhor».
Sonolência, fadiga, falta de concentração, ansiedade e irritabilidade,
distorções da percepção e alucinações (sobretudo visuais) são alguns dos efeitos
sentidos pelas pessoas privadas de sono, afectando as tarefas de decisão
essenciais para a condução.
Para a especialista, impõe-se um melhor conhecimento sobre as consequências das
doenças do sono sobre a condução automóvel, implementando metodologias de
diagnóstico e actualizando a legislação relativa a esta matéria, nomeadamente
quanto ao diagnóstico deste tipo de doenças e perturbações nos trabalhadores por
turnos e nos profissionais dos transportes.
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