Divórcio e separação são dois dos assuntos mais estudados por
psicólogos e médicos de todo o mundo. A melhor ma-neira de ultrapassar
o trauma de uma relação que chega ao fim é um tema que tem interessado
muitos cientistas. Em contrapartida, os sinais que alertam para o fim
próximo de uma história de amor são matéria de raríssimos estudos. No
entanto, há já quem se tenha debruçado sobre o caso e esteja agora a
apresentar resultados que vale a pena conhecer. Porque é importante
saber avaliar o estado das relações para poder tratar dos problemas,
antes que seja tarde de mais.
John M. Gottman, um médico americano, coordenou uma equipa que durante
vários anos estudou os sinais físicos que indicam o grau de
deterioração de um casamento. E chegou a conclusões no mínimo
interessantes. Filmando os casais que aceitaram participar neste
estudo, durante os períodos de conflito, Gottman concluiu que quanto
mais calma e assertiva for a reacção de ambos, mais probabilidades
haverá de o casamento durar e melhorar com o passar dos anos.
Pelo facto de o estudo de Gottman ser físico, a equipa liderada por
este especialista interessou-se por aspectos como a pressão sanguínea,
as reacções cutâneas, os batimentos cardíacos e o movimento corporal.
Nas conclusões recentemente apresentadas, Gottman afirma que aqueles
casais que apresentam um batimento cardíaco mais acelerado, a pressão
sanguínea mais rápida, que começam a suar e que se movem de forma
agitada durante as discussões, são casais que, ao fim de três anos,
estão a divorciar-se. Mas esta equipa de médicos diz que nem só as
discussões com gritos, suor, corações aos pulos, grandes passadas para
trás e para a frente são perigosas. Igualmente alarmantes são as
disputas em que um dos parceiros grita e o outro fica como se fosse um
muro de pedra sem qualquer reacção! Nestes casos, Gottman concluiu
que a média de duração do casamento é de quatro anos.
Então, toda e qualquer discussão será um sinal alarmante de que a
relação tem um prazo certo de validade e, mais ano menos ano, chega ao
fim?
John Gottman garante que um conflito conjugal, por
maior que seja, não é mau em si mesmo. O conflito é quase sempre
necessário, porque é quase impossível duas pessoas estarem sempre de
acordo, em todos os aspectos da vida em comum. O que pode ser mau é a
forma como se lida com o conflito, alerta o médico. E acrescenta: Há
casamentos que duram longos anos, que duram até à morte e que vão
melhorando à medida que o tempo passa. Não quer dizer que não haja
conflitos nessas relações. É claro que há! Mas os parceiros sabem
resolvê-los com elementos positivos, como o humor, a empatia, o
afecto, a vontade de resolver o problema de forma activa e não com
atitudes defensivas. Além disso, estas atitudes positivas, perante um
conflito conjugal, geram sempre uma resposta calma no próprio e no
outro.
A atitude perante o conflito é também a tónica do estudo de Barbara
DeAngelis, uma terapeuta familiar americana que tem vindo a chamar a
atenção para as quatro fases de uma relação que podem levar ao
divórcio. DeAngelis defende que, mal surja um problema, ele tem de ser
discutido.
A maior parte das pessoas tem tendência a pensar:
Não vou discutir por tão pouco. Mas é importante discutir por tão
pouco, antes que esse tão pouco se torne muito. O que costumo
perguntar aos meus pacientes é qual foi a última vez que discutiram
por causa de uma coisa importante. E a resposta é muito engraçada: as
pessoas nunca discutem por nada importante. São sempre coisas que
depois nos parecem insignificantes que nos levam a começar uma
discussão.
António Soares, um advogado de 45 anos, divorciado, concorda: Há uma
fase em que qualquer coisa serve para discutir. Todos os motivos são
bons... Porque eu me esquecia de comprar o gelado e tínhamos visitas
para jantar, armava-se logo uma discussão medonha, do género: És
sempre a mesma coisa, nunca fazes nada do que eu te peço, não se pode
confiar em ti há dois anos. E de repente, já se iam buscar coisas de
há muitos anos, que não tinham nada a ver com o esquecimento da
sobremesa naquele dia!
Luísa Ramires, de 37 anos, divorciada, professora do Ensino
Secundário, acrescenta: De-pois da fase em que tudo é bom para
começar a discutir, vem aquela outra em que já nada interessa, já nada
faz diferença e até parece que está tudo bem, porque estamos
sonâmbulos. É como estar a dormir em pé! Ou a viver em piloto
automático! E as outras pessoas olham para nós e pensam: Que felizes
que aqueles dois são. E nós acordamos de manhã, olhamos um para o
outro e pensamos: O que é que eu estou aqui a fazer? Mas continua-se
naquele casamento, por inércia ou seja lá o que for, até ao dia em que
não se aguenta mais.
Para que o dia em que não se aguenta mais nunca chegue,
Barbara DeAngelis chama a atenção para os quatro R que podem levar
ao fim de uma relação: Resistência, Ressentimento, Rejeição e
Repressão. Cada uma destas palavras corresponde a uma das fases de
tensão por que passam os casamentos.
DeAngelis não descobriu o remédio milagroso que suprime estas fases.
Mas, ao chamar a atenção para cada uma delas, ajuda-nos a enfrentar a
situação e dá pistas para a resolver. O conselho é sempre o mesmo:
Fale sobre o problema. Diga de forma directa e clara o que sente.
Diga-o com amor e com vontade de resolver o assunto. Sem magoar e sem
culpar ninguém.
A primeira fase de conflito entre o casal, a que Barbara DeAngelis
chama Resistência, é muito frequente: Resisti-mos a qualquer coisa
que o outro faz, diz ou sente e sentimo-nos aborrecidos com a atitude
do parceiro. Imagine que o seu marido aproveita todas as
oportunidades para dizer em público que você é uma péssima cozinheira.
Isso aborrece-a. Ou, pelo contrário, a mulher está constantemente a
queixar-se à família, aos vizinhos e aos amigos que o marido não a
ajuda a cuidar dos filhos. E isso aborrece-o. Neste caso, a mulher
devia dizer qualquer coisa como: Sou uma péssima cozinheira, mas
passo as tuas camisas a ferro como ninguém! ou outra coisa do género.
E o marido, aborrecido com os comentários da mulher, deveria falar com
ela num tom como este: Não te ajudo com as crianças, mas levo o teu
carro à oficina, faço os consertos da casa e trato dos impostos.
DeAngelis garante que não resolver um conflito na fase de resistência
provoca o agravamento da relação na fase de Ressentimento.
O ressentimento é um estado de resistência mais desenvolvido porque,
quando se atinge esta fase, as coisas que o outro faz ou diz já não
nos aborrecem. Provocam-nos ódio! Na fase de ressentimento, pelo menos
uma das partes do casal sente ódio, raiva, hostilidade em relação ao
parceiro. Nestes casos, já começa a ser mais difícil falar com calma
sobre a área de conflito.
Cada vez que a mulher ouve o marido queixar-se de que ela é péssima
cozinheira, sente ódio e pensa: Odeio-o. Odeio que ele diga isto de
mim! A minha vontade é queimar-lhe as camisas todas, já que nem isso
ele sabe apreciar. Assim, para além de cozinhar mal, também passava
mal a ferro e, nessa altura, ele poderia queixar-se à vontade... O
marido a quem a mulher acusa de não a ajudar com os filhos, na fase de
ressentimento, pensa: Odeio-a. Odeio esta mania de ela estar sempre a
queixar-se de mim e de não apreciar aquilo que faço por ela e pelos
nossos filhos. A próxima vez que o carro precisar de ir à oficina, vai
lá ela...
Esta fase de conflito é muito delicada porque, ao deixar avolumar o
problema, o diálogo é mais difícil. No entanto, DeAngelis continua a
aconselhar que se diga a verdade sobre aquilo que se está a sentir.
Para não passar ao terceiro R, a Rejeição...
A rejeição significa separação emocional, física ou ambas. É uma fase
muito grave que pode ser vivida, segundo esta terapeuta, de forma
activa ou passiva. Quem está na fase de rejeição de forma activa diz
que se quer separar, fala em divórcio, recusa cooperar com o parceiro,
queixa-se frequentemente, discute por tudo e por nada, recusa os
avanços sexuais da outra parte, passa a maior parte do tempo possível
longe do marido ou da mulher. A outra metade do casal está a receber
sinais inequívocos do estado em que está a sua relação e daquilo que o
marido ou a mulher está a sentir.
Mas não é isso que acontece quando a rejeição é feita de forma
passiva. Nestes casos, um dos lados não percebe o que o outro está a
sentir, simplesmente porque... o outro arranjou maneira de esconder a
fase de rejeição. Como? De muitas maneiras: tendo fantasias sexuais
com outras pessoas, tendo uma relação extraconjugal, perdendo o
interesse sexual sem razão aparente, tornando-se um trabalhador
compulsivo, passando a viver para trabalhar e sonhando, secretamente,
com a liberdade.
A rejeição é uma etapa do conflito de tal maneira grave que, mesmo
recorrendo ao diálogo, DeAngelis afirma que muitos casais não
conseguem ultrapassá-la. Mas a verdade é que há relações que chegam a
entrar na fase do quarto R: Repressão.
A maior parte das pessoas que está a passar por este patamar
do conflito diz a si própria coisas como: Já nada
interessa, Temos de aprender a viver assim por causa das crianças.
Os casais na fase de repressão, de uma maneira geral, são muito
civilizados e atenciosos entre si. E mesmo os amigos mais íntimos
podem não perceber o que se está a passar.
Pare. Escute. Olhe. Preste atenção aos sinais. O seu casamento está à
beira do divórcio? Fale. Peça a ajuda de um terapeuta familiar. Mas,
agora que conhece os sintomas e sabe qual é o remédio, salve o seu
casamento! |