Presidente da SPO considera "um disparate"
encerrar
as maternidades
O
presidente da Sociedade Portuguesa de
Obstetrícia (SPO), Santos Jorge, afirmou
ontem em Mirandela que "encerrar
maternidades tendo como único parâmetro o
número de partos é um disparate". Num
colóquio sobre Maternidades e Demografia,
promovido pela Câmara de Mirandela, e
perante um auditório repleto de pessoas que
marcaram presença no evento como forma de
protesto contra o possível encerramento da
maternidade da cidade, Santos Jorge defendeu
a manutenção das maternidades de Bragança e
Mirandela, mas "concentrando o bloco de
partos", disse. "Podem manter-se os serviços
de apoio às mulheres, o acompanhamento das
grávidas, as consultas externas, o
ambulatório e, até mesmo, o internamento,
concentrando apenas numa única unidade os
partos", explicou.
De acordo com as exigências da sociedade
actual e com as exigências da legislação
internacional, as maternidades devem
garantir na assistência às parturientes a
presença de obstetras, "no mínimo dois
obstetras e um estagiário, em situações de
cesariana", anestesistas e um neonatologista.
A falta de médicos não permite que todas as
maternidades em funcionamento actualmente
garantam o número necessário de
especialistas naquela área e no futuro o
problema pode agravar-se, porque "a média de
idade dos médicos e enfermeiros
especializados em Obstetrícia está acima dos
60 anos".
A solução pode passar pela concentração
"desses médicos" num centro de partos que
sirva todo o distrito. "Nada impede que
algumas horas depois de realizado o parto,
em condições óptimas e com a qualidade
exigida, as parturientes não possam
regressar ao hospital mais próximo da sua
residência", acrescentou.
No distrito de Bragança realizam-se menos de
mil partos por ano. Mirandela serve sete
concelhos e realiza perto de meio milhar de
partos, Bragança serve cinco concelhos e
regista pouco mais de 400 nascimentos
anuais. Se a questão for avaliada do ponto
de vista meramente técnico, "as duas
maternidades devem encerrar porque não
realizam pelo menos 1500 partos", disse
Albino Aroso, o coordenador do estudo sobre
a reorganização das maternidades. Mas o
próprio admite que, "do ponto de vista
social e demográfico, se calhar não devia
encerrar nenhuma".
Entretanto, a Câmara de Mirandela mandou
fazer dez mil postais com a imagem de um
recém-nascido, que vai distribuir pelos
munícipes pedindo-lhes que os enviem ao
ministro da Saúde em protesto contra o
eventual encerramento.