Portugal Diário - 3
Nov 06
Nascimento deve ser humanizado
Excessiva intervenção clínica pode originar parto de
alto risco, diz investigadora
A antropóloga social britânica
Sheila Kitzinger considerou esta sexta-feira, em
Almada, que a excessiva intervenção clínica
contribui para que um parto normal possa
transformar-se num parto de alto risco.
Sheila Kitzinger, que falava na
abertura do primeiro congresso sobre «Humanização do
Nascimento - Amor e Responsabilidade», que a
Associação Portuguesa pela Humanização do Parto (Humpar)
promove até domingo, realçou que «quando a
parturiente é tratada como um caso de alto risco ela
torna-se um».
Autora de inúmeras obras sobre o
nascimento fisiológico e o parto humanizado, e
docente na Universidade de Thames Valey, em
Inglaterra, a especialista britânica salientou que a
humanização do parto assenta na colaboração entre
futuras mães e profissionais de saúde.
Sheila Kitzinger frisou que é
necessária a associação de parturientes e
profissionais para que se possam incentivar as
estruturas hospitalares a investir na humanização do
nascimento.
«O obstetra pode ser processado
por não ter feito uma cesariana, mas ninguém o vai
processar por ter feito uma cesariana
desnecessária», ilustrou a especialista,
acrescentando que a humanização passa pelo
«desenvolvimento de uma relação com médicos,
enfermeiros e parteiros que coloque o ênfase não no
controlo das parturientes e no exercício de
habilidades clínicas, mas na forma como funcionam em
sistema, com os seus desequilíbrios e relações de
poder».
A necessidade de uma maior
intervenção da mulher no que toca ao nascimento dos
seus filhos foi também realçada pela advogada e
co-fundadora da associação espanhola EPEN - El Parto
Es Nuestro, Francisca Fernandes.
A organização surgiu a partir de
um fórum na Internet onde inúmeras mulheres
partilharam experiências traumáticas de partos
hospitalares, em que «o impacto entre a expectativa
e a realidade foi brutal».
«A maioria de nós, universitárias
e independentes, acreditava que somos mulheres
modernas e, no parto, descobrimos que somos ou
ignoradas ou infantilizadas», afirmou a oradora,
dando conta de que, quando decidiram criar a
associação, os profissionais de saúde mostraram-se
«agradados».