Público - 3 Set 03

Mais de 27 Mil Candidatos a Professores Não Devem Conseguir Colocação
Por ISABEL LEIRIA

Os sindicatos já estimavam que o número de candidatos à docência sem colocação fosse este ano superior a 2002. E não falharam na previsão: ao todo, conhecidos os resultados da 2ª fase do concurso de recrutamento para os 2º e 3º ciclos do ensino básico e secundário, calcula-se que mais de 27 mil professores não conseguirão dar aulas. No ano passado, aconteceu com cerca de 22.200 candidatos.

Menos vagas e menos horários a concurso, menos novos professores vinculados e menos contratações. Tudo isto com o número de candidatos a aumentar. É este o cenário traçado pelo Ministério da Educação em relação ao concurso de docentes e que explica o elevadíssimo número de pessoas que não conseguem um lugar no sistema educativo.

Ao final do dia de ontem, a tutela ainda não dispunha do número exacto de contratações que ia fazer mas as estimativas avançadas pelo secretário de Estado da Administração Educativa, Abílio Morgado, apontavam para a celebração de cerca de oito mil contratos. Com o número de candidatos externos à 2ª fase do concurso a fixar-se nos 36.391 (no ano passado tinham sido cerca de 31 mil) e a diminuição de aproximadamente quatro mil horários disponíveis (completos e incompletos), tudo indicia que o número de desempregados ultrapasse os 30 mil.

"Obviamente que estou preocupado com a quantidade de pessoas habilitadas para ser docentes que não têm vaga nos vários sistemas educativo [público e privado]. Trata-se de algum desperdício de talento relativamente ao qual o país não se pode dar ao luxo de aceitar com naturalidade", comenta desde logo o secretário de Estado da Administração Educativa.

Mas igualmente "óbvio" para Abílio Morgado é a ideia de que o Ministério da Educação (ME) tem de fazer as contratações "em função da definição rigorosa das necessidades". "Nunca mais o ME vai definir politicamente, em negociação sindical, quantas vagas vai abrir", reforça.  2148 novos professores vinculados Os números impressionam. Ao todo, entre as duas fases em que se divide o concurso de recrutamento e mobilidade de professores, o ME recebeu 178.311 candidaturas. Na 1ª fase, destinada à transferência entre professores dos quadros e candidatos à vinculação, foram apresentadas 112.700 candidaturas. Metade destas (56.531), corresponderam a professores à procura de uma primeira colocação. Apenas 2148, o equivalente a 3,8 por cento, conseguiram. Em 2002, aconteceu com o dobro.

"Estamos a ser capazes de gerir o sistema com os recursos que já temos. Não vale a pena ter ilusões. Em relação ao ano passado, as vagas na 1ª fase diminuíram de 9256 para 5182", contabiliza Abílio Morgado. E pela primeira vez, acrescenta, o "número de admissões externas fica abaixo do número de saídas por aposentação".

Dos números ontem apresentados, o secretário de Estado retira ainda outra conclusão. Se da 1ª fase para a 2ª houve uma diminuição de 56 mil para 36 mil candidatos externos (e apenas foram colocados cerca de dois mil) "é porque houve muitos milhares que não quiseram candidatar-se aos horários completos e incompletos". "Isto significa que, entre estes, há muitos que têm habilitação para ser professor, mas que têm habilitação para o exercício de outra profissão, que já exerceram ou que podem vir a exercer. Felizmente, é uma profissão polivalente."

A partir das 00h00 de hoje, as listas de colocação foram disponibilizadas no "site" www.dgae.min-edu.pt. Os resultados podem também ser conhecidos através do telemóvel, através do envio de uma mensagem escrita para o número 4774, onde constem as letras dgae, seguidas do número do bilhete de identidade do candidato.

[anterior]