Diário de Notícias - 27 Set 03
É preciso apoiar as famílias!
A crise dos sistemas de segurança social por toda a Europa, aliada à
necessidade de aumentar a produtividade está a deixar os cidadãos com os
cabelos em pé. A edição desta semana da revista The Economist tem como
título principal de capa Work longer, have more babies - How to solve
Europe's pension crisis. Em termos europeus, a relação entre trabalhadores
activos e pensionistas caiu para um rácio de três trabalhadores por cada
reformado _ em Portugal pensa-se que já seja pior _ e, segundo a revista
inglesa, estima-se que no espaço de 30 anos essa relação se situe nos três
trabalhadores activos por cada dois pensionistas.
A questão da produtividade também se tem colocado com acuidade e leva
muitos governos a pensar que é preciso aumentar o número de horas de
trabalho, até porque países como a França, os trabalhadores trabalham bem,
o que se vê no PIB por hora de trabalho, mas trabalham menos horas que
outros países, como os Estados Unidos, o que se nota no PIB por
trabalhador.
E se trabalhar mais horas por dia pode ajudar a resolver a questão da
produtividade, tornar a vida activa mais longa pode ajudar a resolver, ou
pelo menos minimizar, o financiamento da Segurança Social. A questão que
se coloca é a de saber como vai ser a breve trecho a vida de cada um de
nós e das gerações futuras. E a The Economist pergunta-se como é que vai
haver tempo para ter crianças se as mães trabalharem mais. Isto para além,
obviamente, do dilema, cada vez mais presente, da mulher ter filhos cedo e
prescindir da carreira, ou apostar no percurso profissional e deixar os
filhos para mais tarde, correndo o risco de nunca os ter.
Num país onde o índice de natalidade está baixo e onde é preciso encontrar
estímulos para aumentar o número de nascimentos, talvez não fosse mau
reflectir sobre a sugestão feita pela revista inglesa: «remover os
obstáculos à possibilidade de as mulheres terem crianças e, em simultâneo,
construírem a sua carreira profissional, através de mudanças no sistema
fiscal e nas leis do trabalho, pode ajudar não apenas a próxima geração de
jovens mulheres e os respectivos filhos, mas também, eventualmente, os
seus pais e avós».
Numa altura em que o ministro Bagão Félix resolveu e parece que bem, mexer
na duração dos subsídios de desemprego em função da carreira contributiva
e das responsabilidades familiares dos trabalhadores desempregados, talvez
não fosse má ideia pensar na, muitas vezes falada e outras tantas
esquecida, discriminação positiva das famílias numerosas em sede de IRS.
Encontrar formas de desagravamento fiscal para os contribuintes com filhos
seria uma forma de apoiar o desenvolvimento da família. E até nem seria
difícil, bastava que as despesas com as crianças, em particular as
escolares,pudessem ser totalmente abatidas na declaração anual do imposto.
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