Jornal Notícias - 27 Set 04
Fecundidade diminuiu para metade em 40 anos
demografia
Portugal tem hoje valores de fecundidade que não asseguram a
substituição de gerações
Mulheres portuguesas tiveram uma
das viragens mais abruptas do comportamento familiar Média, em 1999,
era de 1,5 filhos
As mulheres
portuguesas passaram de uma média de 3,1 filhos em 1960 para 1,5 em
1999, uma das viragens "mais abruptas, rápidas e intensas" em
matéria de comportamentos familiares, de acordo com o estudo
"Fecundidade e Contracepção", publicado recentemente pelo Instituto
de Ciências Sociais. De acordo com este trabalho, houve uma queda de
fecundidade "recente e vertiginosa", deixando Portugal de liderar a
lista dos países mais férteis da União Europeia.
"Não é só a intensidade da queda que nos impressiona; com ela surge
também uma paisagem regional, outrora diversificada em claras
assimetrias Norte/Sul, Litoral/Interior, fortemente plana e
homogénea", diz o trabalho académico.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), cada
mulher em idade fértil tinha em média 3,1 filhos em 1960, passando
para 1,5 em 1999. A partir de 1983, realça o estudo, os valores
nacionais da fecundidade deixam de assegurar a substituição de
gerações, que corresponde a um índice mínimo de 2,1 filhos por
mulher.
A quebra de fecundidade em Portugal, segundo os dados do INE,
acompanhou a queda nos restantes 15 países que compunham a União
Europeia, embora no caso nacional a quebra fosse mais tardia e
também mais abrupta: "Ou seja, passamos rapidamente de um regime de
fecundidade pouco controlada, associada a taxas elevadas de
mortalidade infantil, para um quadro de planeamento eficaz de
procriação".
Entre 1960 e 2000 os dados do INE revelam também que o número de
mães com mais de 35 anos diminuiu fortemente a partir de 1975,
voltando a registar um crescimento depois de 1991, embora longe dos
números da década de 60 (quase 20% dos nascimentos eram de mães em
idade avançada).
Segundo o estudo, a quebra deveu-se à facilidade de acesso a métodos
contraceptivos, enquanto que o crescimento a partir de 1991 surgiu
pelo adiamento em ter o primeiro filho e pela segurança dos meios de
diagnóstico, tornando mais seguras as maternidades tardias.
Na maternidade precoce (menos de 20 anos), que era menos de 5%,
verificou-se um grande aumento (mais do dobro) a partir de 1975,
segundo o estudo pela grande permissividade surgida com o 25 de
Abril.
Governos não combatem a diminuição
populacional
O presidente da Associação Portuguesa
de Demografia considera que diminuição da população terá no futuro
"consequências tremendas" mas nenhum Governo tomou medidas para
inverter esta tendência. Projecções do Instituto Nacional de
Estatística indicam que em 2015 haverá menos um milhão de
portugueses (cerca de nove milhões), e que em 2050 a população
descerá para os 7,5 milhões. A "única alternativa" para resolver o
problema é a imigração, embora "provoque choques e levante
problemas, nomeadamente de ordem cultural", afirma o sociólogo
Leston Bandeira. A evolução da população portuguesa e a imigração
são temas fortes do II Congresso Português de Demografia, que
decorre, em Lisboa, de hoje até quarta-feira. Sob o lema "Demografia
e população, os novos desafios", a iniciativa da Associação
Portuguesa de Demografia junta mais de 200 especialistas de
Portugal, Brasil, Moçambique e Angol.
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