Público - 27 Set 04
Educadores Deseducadores
As nossas
burocracias educativas, a ministerial e a sindical, uniram-se no
sonho de fazer uma lista única anual de colocação de todos os
professores do país, de todos os graus de ensino. Nenhum político
reparou que este sonho de inspiração estalinista apenas era bom para
aquelas burocracias, que assim reforçavam os seus poderes à custa de
professores e alunos, condenados à instabilidade no regresso às
aulas. O Ministério da Educação foi incapaz de produzir a lista. Uma
metade dos alunos ficou sem aulas. Os professores chumbaram-se à
frente dos estudantes. Porquê?
Este caso está
todo cheio de sombras. As culpas são dadas à informática ou à
relação entre os burocratas e a informática. Ora em Maio, a
informática já falhara na elaboração das primeiras listas
provisórias. O Presidente da República avisou: «entendam-se lá, de
modo a que seja possível que isto não se verifique todos os anos». O
falhanço foi público e notório. Ninguém podia ignorá-lo. O
Secretário de Estado responsável anunciou uma auditoria ao sistema
informático. Essa auditoria foi feita? Quais os seus resultados? Os
erros informáticos de Maio são os mesmos de Setembro?
Indo atrás:
quem fez o concurso da informática? Foi bem elaborado e bem
aplicado?
Entre o
falhanço de Maio e o de Setembro, foi feita alguma tentativa de
elaborar uma nova lista, para testar o sistema? Se sim, com que
resultados? Se não, porquê?
A informática
necessária à feitura das listas era tão difícil, que o fracasso era
desculpável, ou era fácil, como sugere o responsável do Instituto de
Informática do Ministério das Finanças?
Fontes
anónimas - mas oficiosas - afirmam que directores-gerais do
Ministério da Educação enganaram os responsáveis políticos, quer os
membros do Governo anterior, quer os actuais. Enganaram?
O chefe de
Governo remeteu as culpas para o antecedente - mas só após o
fracasso de Setembro. Por motivos de oportunidade política, aliás
compreensíveis, ou por alguma razão substantiva, desconhecida do
público?
O anterior
Ministro da Educação sugeriu ter sido impedido de agir no caso pelo
anterior Primeiro-Ministro. Foi impedido?
Que fizeram a
comissão de Educação da Assembleia da República e a Comissão
Nacional de Educação depois das listas imprestáveis de Maio?
Em cada uma
das fases do processo que pesaram os estudantes na decisão tomada?
Alguém averiguou se a lista única era mais do que a unificação de
todos os subcorporativismos da corporação professoral?
Estas dúvidas
têm que ser esclarecidas pois vão direitas ao cerne do Estado. Os
Ministros são enganados pelos directores-gerais? Os
directores-gerais são incapazes de fiscalizar as empresas
prestadoras de serviços ao Estado? Os Primeiros-Ministros não
fiscalizam os Ministros para a realização do bem público? O falhanço
das listas de professores parece revelar que a Administração Pública
não funciona.
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