Diário de Notícias - 7 Abr 04

Durão Barroso quer agora um país «mais justo e mais culto»
PEDRO CORREIA

Na segunda metade do seu mandato, que hoje se inicia, o Governo vai dar prioridade à justiça social. Esta foi a promessa ontem feita por Durão Barroso, no termo de uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros, realizada no Parque das Nações, em Lisboa.

Numa clara inflexão da linha política adoptada nestes dois anos de mandato, o primeiro-ministro vem agora admitir que existe vida para além do défice. A dois meses das eleições europeias, pisca um olho à esquerda, falando em «protecção social» e «solidariedade». Duas bandeiras muito invocadas pelos partidos da oposição.

«Temos ainda hoje um problema de défice orçamental. Mas o défice de educação e de formação profissional que temos é bastante maior, mais grave e mais preocupante. Temos de fazer investimentos no betão, em infra-estruturas físicas. Mas o investimento prioritário que tem de ser feito é na formação e na investigação». Palavras proferidas pelo chefe do Governo numa conferência de imprensa em que anunciou algumas medidas prioritárias.

Uma destas medidas é o combate ao insucesso escolar: o Governo pretende reduzir «para menos de metade», até 2010, a taxa de saídas precoces da escolaridade de 12 anos, que ronda 45% (ver pág. 21).

«Em Portugal, infelizmente, este é um problema estrutural grave. Em cada cem jovens que frequentam o ensino, apenas 45 concluem os 12 anos de escolaridade. Cerca de 75% dos desempregados registados não tem mais do que o 9º ano de escolaridade. Esta elevada taxa de abandono escolar é o grande indicador da discriminação e da exclusão social do nosso país. É o resultado de décadas de atavismo e pobreza», declarou Barroso.

O Conselho de Ministros, iniciado logo de manhã, dedicou-se a uma «análise territorial de todas as áreas do País, incluindo as regiões autónomas, no que respeita à evolução do investimento público». Para combater as «assimetrias», segundo o chefe do Executivo, foi decidido reforçar o volume de investimento público, com um montante de 855 milhões de euros, no âmbito do actual Quadro Comunitário de Apoio. Desta verba, 370 milhões serão aplicados em projectos de iniciativa municipal. Quando falta pouco mais de um ano para as próximas eleições locais, os autarcas agradecem...

Nas declarações aos jornalistas, Durão lembrou que a primeira metade do mandato do seu Executivo se destinou fundamentalmente a «pôr as contas em ordem». Agora abre-se um novo capítulo: «Vamos manter o rigor orçamental. Mas nunca diremos que isso é o fim último da actividade política. A justiça social está muito acima da economia», garantiu Barroso, anunciando o novo mote que propõe para Portugal: «Um país mais rico, mas também mais justo e mais culto.» Registadas as palavras, falta agora passar aos actos.

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