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Diário de Notícias - 7 Abr 04
Desastres podem aumentar 60%
PAULA SANCHEZ
Os acidentes de viação não acontecem por acaso, não são fatalidades
e, no entanto, acontecem todos os dias, em todos os lugares, com
maior ou menor gravidade, porque algo falhou: o condutor, a estrada
ou o veículo. O mote do Dia Mundial da Saúde, que hoje se comemora,
centra a sinistralidade na saúde pública e evidencia a preocupação
dos Estados com um problema económico gravíssimo.
A continuar assim, adverte a Organização Mundial de Saúde (OMS) no
seu relatório anual, as mortes e incapacidades resultantes de
acidentes de viação vão aumentar 60% até ao ano 2020. Hoje já são a
terceira causa
mundial de doenças e traumatismos, mas há 14 anos ocupavam a nona
posição na lista da OMS.
Dados de 2002 indicam que em todo o mundo 1,2 milhões de pessoas
morrem anualmente nas estradas e entre 20 a 50 milhões ficam feridas
em desastres. Além do custo social e económico das pessoas que
morrem prematuramente e que deixam de produzir riqueza, milhões de
feridos ficam hospitalizados durante semanas e meses a fio e outros
milhões incapacitados para toda a vida.
Na estradas da UE, os acidentes rodoviários provocam, por ano, cerca
de 40 mil mortes e 1,7 milhões de feridos, com um custo calculado em
160 mil milhões de euros. O problema é de tal forma grave que a
comissária europeia dos Transportes, Loyola de Palacio, considerou
que «só pode ser conseguido um progresso substancial na segurança na
estrada se a sociedade estiver preparada para aceitar a imposição
das regras. Reduzir a metade o número de vítimas é uma
responsabilidade partilhada».
A OMS vai apelar hoje ao uso de transportes colectivos e a uma
participação activa dos Estados na definição de regras claras e
objectivas de promoção da segurança rodoviária, principalmente nos
grupos de risco mais vulneráveis: peões, motociclistas, ciclistas e
crianças.
Para isso há que dirigir a intervenção para a identificação e
correcção dos factores de risco. Mas a OMS chama também a atenção
para a necessidade de se uniformizarem procedimentos e critérios. As
diferenças de utilização rodoviária têm um importante impacto na
ocorrência de traumatismos e, como tal, não podem ser descuradas.
Os comportamentos de risco assumidos pelos condutores são apontados
como a principal causa dos desastres. Em relação ao álcool, a OMS
estima que a redução das taxas de alcoolemia permitiria aos Estados
reduzir em 40% o número de mortes nas estradas. Quanto à velocidade,
uma diminuição de 1% dos limites máximos poderia contribuir para uma
diminuição de 3% dos acidentes.
CARTA EUROPEIA. Reduzir para metade a mortalidade nas estradas da UE
até 2010 é o objectivo da Comissão Europeia através das regras
fixadas pela Carta Europeia de Segurança Rodoviária, ontem subscrita
por 39 organizações, em Dublin, ente as quais a Brisa,
concessionária de auto-estradas, e a Associação Nacional de Bebidas
Espirituosas (Anebe). A cerimónia contou com a presença do campeão
de Fórmula Um, Michael Schumacher e outro dos signatários é o
ex-piloto de competição, Ari Vatanen, agora eurodeputado.
A participação de Portugal assume significado especial, tratando-se
de um dos países com piores estatísticas. A Anebe reflecte
preocupação especial quanto à necessidade de um comportamento
responsável no consumo de álcool.
Entre os 39 signatários da Carta incluem-se empresas como a Esso,
Bosch, Honda e Michelin, clubes de automobilistas, organizações
representantes de sectores como os seguros e associações de
transportes. Desde que a Carta foi lançada, em 29 de Janeiro,
recebeu já uma centena de candidaturas.
Com Fernando de Sousa
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