Público - 7 Abr 04

Pressa e Ausência de Polícia Levam Condutores a Ignorar Sinal Stop
Por SOFIA RODRIGUES

A maioria dos condutores portugueses condena o desrespeito de um sinal de Stop, mas reconhece praticar esta infracção algumas vezes. A conclusão é de um estudo realizado por alunos finalistas da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Nova de Lisboa. A investigação sublinha ainda que os automobilistas se consideram melhores ao volante e mais cumpridores das regras de trânsito do que os outros.

"Ao verificarmos que os condutores inquiridos se consideram mais aptos para a condução do que os outros, tendo sentimentos negativos perante as transgressões, mas assumem o desrespeito, ainda que esporádico, dessas mesmas regras, podemos concluir que estamos perante o auto-estabelecimento de regras de trânsito em que cada um reivindica para si um estatuto de excepção", conclui a investigação coordenada por Mário Cordeiro, professor de Saúde Pública na FCM.

Com uma amostra de 237 pessoas, o estudo pretende avaliar comportamentos de transgressão de sinais por condutores de veículos ligeiros e foi feito através de inquérito e de observação directa, realizados no início deste ano. Das três regras de trânsito avaliadas - Stop, sinal vermelho e sinal de sentido obrigatório -, a primeira norma é a que se revelou menos respeitada.

Mais de um terço (36,3 por cento) dos condutores admite desrespeitar algumas vezes um sinal de Stop e 32,5 por cento afirma fazê-lo raramente. Quando vêem outro condutor ignorar o sinal, metade (53,6 por cento) diz sentir irritação e, quando presenciam a transgressão enquanto passageiros, a grande maioria (86,9 por cento) revela experimentar medo/insegurança.

Homens são mais desrespeitadores
O cruzamento de atitudes dos condutores com o seu desrespeito pelo Stop, ou seja, o que pensam "versus" o que fazem, permitiu concluir que "a maioria das pessoas que expressa atitudes negativas de reprovação face ao desrespeito pelo Stop afirma desrespeitar algumas vezes este sinal". Caso seja somado o número de pessoas que afirmaram sentir irritação e que desrespeitam o sinal raramente ou frequentemente, aumenta o grau de validade da conclusão, acrescenta o estudo.

Os condutores que admitem mais transgredir o sinal Stop são homens, entre os 18 e os 24 anos, com frequência do ensino secundário e que conduzem mais de três dias por semana. Os inquiridos que asseguram nunca ter ignorado um Stop são sobretudo mulheres, licenciadas, entre os 25 e os 44 anos.

Quanto ao cumprimento do sinal vermelho, 40,1 por cento afirmou que desrespeita o semáforo raramente, 19,8 algumas vezes e 39,7 assegura nunca ter incumprido. Em relação ao sinal de sentido obrigatório, a maioria (63,7 por cento) afirmou nunca desprezar esta indicação.

A pressa, a inconsciência do perigo e o facto de não haver polícia à vista são os três motivos mais invocados para não parar num Stop e perante o sinal vermelho. Já no caso de um sinal de sentido obrigatório, os inquiridos referiram em primeiro lugar a distracção, só depois a ausência da polícia e, na terceira posição, a inconsciência do perigo.

Os dados da observação directa
A observação directa do respeito pelas três regras de trânsito - Stop, sinal vermelho e sentido obrigatório - permitiu concluir que o sinal de paragem obrigatória é o mais desrespeitado. Este predomínio pode "reflectir uma banalização do comportamento transgressivo", segundo o estudo.

Dos 2642 automóveis ligeiros que passaram por um Stop, só 400 (dois por cento) respeitaram este sinal. A indicação dada pela luz vermelha é muito mais cumprida: dos 22.812 carros observados, só 382 não pararam perante o semáforo. O mesmo acontece com a indicação de sentido obrigatório, em que, dos 3437 veículos presenciados, apenas 355 não acataram a informação.

O estudo concluiu ainda que as transgressões consideradas mais graves pelos condutores nem sempre coincidem com o peso real que têm na sinistralidade rodoviária. Os inquiridos remetem para último grau de gravidade o excesso de velocidade - que é o comportamento mais autuado, de acordo com dados de 2002 da Direcção-Geral de Viação - e o desrespeito do Stop (a segunda infracção mais autuada em 2002).

"Poderemos estar a assistir a um fenómeno de autodesculpabilização e subvalorização dos comportamentos transgressivos perpetrados, bem como inconsciência do perigo associada a estes comportamentos", lê-se no estudo realizado por quatro alunos finalistas da FCM - Ana Pires, António Seco, Guida Barata e Marta Costa.

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