Diário de Notícias - 8 Abr 04

O comboio do futuro

O Governo anunciou algumas iniciativas, entre as quais se destaca a criação da figura do tutor que funcionará em cada escola do 1.º e 2.º ciclos do ensino básico, para combater o chamado abandono escolar que abrange os jovens entre os 18 e os 24 anos que completaram apenas o 3.º ciclo. Um fenómeno onde Portugal é campeão a nível europeu com uma taxa de 45%. Os países mais próximos em termos de abandono são a Espanha com 29% e a Itália com 26%. A média da União Europeia é da ordem dos 20%.

O objectivo apresentado pelo Governo de reduzir a metade o abandono escolar até 2010 é louvável, porque presume uma melhoria quantitativa assinalável, mas em termos europeus é risível, uma vez que a Estratégia da Cimeira de Lisboa tem como referência um nível médio de abandono na UE da ordem dos 9% ou menos em 2010. A percentagem que o Governo se propõe atingir nesse ano - metade da taxa actual de 45% - aponta, assim, para números da ordem dos 22%. Ou seja muito longe do objectivo traçado a nível europeu para o ano 2010.

Além disso, o panorama da educação em Portugal é assustador. Portugal é, segundo estatísticas da União Europeia, o país onde é menor a percentagem da população entre os 25 e os 64 anos com o ensino secundário completo (11.º ou 12.º ano). O nosso país surge mesmo na cauda da UE, com 19,8% da população, enquanto o país mais próximo, a Espanha, tem mais do dobro (40%). A Itália aparece a seguir com 43,2%. Todos os demais, incluindo a Grécia, têm mais de 50%. Irlanda, Bélgica e Luxemburgo exibem um valor de 59,2%. Alemanha, Dinamarca, Suécia e Reino Unido estão até acima dos 80%.

Todas as medidas para melhorar o panorama da educação em Portugal serão, pois, bem-vindas, mas é preciso não esquecer que o défice do País é muito grande a este nível e que, por isso, as soluções terão de ser corajosas. Caso contrário, corremos o risco de perder o comboio do futuro, sobretudo depois da próxima adesão à UE dos países do Leste europeu.

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