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Rui Rosas da Silva - 18 Abr 04
Os bons hábitos de leitura, a família e a
aprendizagem
Da vizinha
Espanha, que tão perto está de nós e tanto desconhecemos, chega-nos
a boa notícia de que por lá se fazem estudos e pesquisas
estatísticas sobre a correlação entre os hábitos de leitura e a
aprendizagem dos adolescentes de 15 e 16 anos.
Os resultados,
se bem que não surpreendentes, manifestam, uma vez mais que, quem lê
habitualmente goza de vantagens nítidas sobre quem, ou por preguiça,
ou por falta de hábito, ou por débito cultural, busca noutros meios
ou num vazio de meios, alternativas pouco facilitadoras da sua
aprendizagem.
Descendo mais
ao concreto, a pesquisa feita chega a duas ideias conclusivas
fundamentais. A primeira considera que o adolescente que lê
habitualmente obtém, em geral, melhores resultados académicos. Mas
não só: lê apreensivamente com mais facilidade e costuma ser mais
imaginativo e criativo. A segunda aponta como principal veículo
impulsionador da leitura o ambiente familiar e não tanto a escola,
como algumas pessoas parecem acreditar. Esta não é de desprezar, bem
como o ambiente social em que se vive. No entanto, cabe ao lar a
parte de leão como melhor incentivador dos hábitos de boa leitura.
Mais uma vez,
vem a talhe de foice salientar o papel essencial da família nesta
faceta tão relevante da educação. Certamente que se os pais são bons
leitores, os filhos têm mais facilidade em sê-lo. “Quem sai aos seus
não degenera”, costuma dizer-se.
Mas o mais
importante da questão é que os pais bons leitores têm tendência a
falar com os filhos do que vão absorvendo através dos livros a que
dedicam a sua atenção naquele momento. E também, porque a leitura
obriga uns e outros a interessar-se, não duma forma visual – como é
o caso da televisão -, ou meramente auditiva – via rádio –, pelos
temas que se abordam. Os assuntos podem ser expostos primeiramente
dum modo verbal por quem lê. Representam sempre, porém, a
interpretação de quem é leitor naquele instante, pelo que se a outra
parte deseja assegurar-se com mais plenitude do tema debatido, sofre
a tentação de ela mesmo se debruçar sobre o texto para melhor
assimilar, no plano pessoal, o que quer aprofundar e entender com
mais perfeição.
Um livro
fecha-se e abre-se. Nesta última situação, oculta uma mensagem que é
necessário conquistar com um esforço mais forte, pois ler não é ter
de bandeja tudo resolvido. Pelo contrário, convida à investigação
própria do que o autor quer dizer, através duma abordagem mais
intelectual e, por isso mesmo, mais tendente à elaboração pessoal
daquilo que se vai entendendo.
A
maneabilidade dum livro ou duma revista é outro factor que pode
determinar que os adolescentes acedam com mais facilidade ao estudo
dum assunto. Basta que o pai ou a mãe diga: “Lê o que o autor
escreve, aqui, nesta página, e depois falamos sobre isso”. Atitude
semelhante poderá tomar o adolescente em relação aos seus
progenitores, mesmo quando o que pretende com a sua chamada de
atenção é contestar – não é a adolescência a idade da contestação? –
a opinião dos pais. Esta, mais fundamentada por certo, poderá dar
lugar a um interessante diálogo familiar, onde gerações diferentes,
com calma e serenidade, apresentam razões e perspectivas muito mais
convincentes do que as que não existem, se, por exemplo, todos se
espapaçam diante dum ecrã televisivo e se calam mutuamente.
Paralisados pelas imagens, não se sentem movidos a falar, sob pena
dos protestos dos outros, que querem ver e se sentem como que em
hibernação mental durante todo o programa.
Enfim, mas não
será também uma razão de relevo considerar-se que os pais que lêem
se mantêm mais em casa, tornando-se assim mais acessíveis à conversa
com os filhos?
Os bons
hábitos de leitura parecem ter na família o seu caldo de cultura
mais natural e espontâneo, como atestam os resultados da referida
pesquisa...
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