UMA DAS preocupações centrais de um
gestor ou de um empresário com recta consciência é a de
possibilitar a todos os colaboradores um equilíbrio
entre a vida profissional e a vida familiar.
Foi neste quadro de preocupações que
a ACEGE (Associação Cristã de Empresários e Gestores)
encomendou à Universidade Católica um estudo sobre a
Família, estudo dirigido, com a qualidade usual, por
João Carlos Espada e agora publicado.
Se os responsáveis empresariais
cristãos estavam já motivados para a necessidade de
protecção dos equilíbrios de vida dos seus
colaboradores, ainda mais motivados deverão ficar.
A primeira conclusão do estudo é a de
que as tendências verificadas em Portugal estão
alinhadas pelas tendências europeia e norte-americana.
Portugal não é uma ilha.
O estudo analisa a realidade
norte-americana e apresenta indicadores que merecem
reflexão.
Desde logo, a emergência
absolutamente maioritária de tipologias familiares
alternativas, de tal modo que os lares de «casais
casados com filhos próprios» é apenas de 24%. Isto é, só
um em cada quatro lares.
Depois, a redução drástica de número
de pessoas por lar. Em 2000, havia 2,61 pessoas por lar,
ou seja, os EUA vivem em perfeito «tête-à-tête» (em
Portugal, em 2001, já tínhamos baixado a linha das 3
pessoas por lar).
Também a taxa de divorcialidade
aumentou exponencialmente, sendo que só 1 em cada 3
crianças vive com os dois progenitores e a probabilidade
de uma criança americana testemunhar o divórcio dos pais
é hoje de 1 para 2.
Em Portugal, diga-se, em 1970 havia
163 casamentos para 1 divórcio e, em 2000, havia 3
casamentos para 1 divórcio.
O estudo é francamente elucidativo
sobre as consequências desta situação no rendimento das
famílias e, sobretudo, nas crianças.
Não se pode analisar este fenómeno
apenas a partir da experiência pessoal de cada um.
Filhos de pais divorciados ou de mães solteiras podem,
como é óbvio, ter um comportamento e uma capacidade de
realização, de si e dos outros, superior a filhos de
pais casados.
Importante é ver o que, em regra,
sucede. Trata-se de relações de probabilidade e não de
causalidade.
As crianças americanas que viveram em
famílias monoparentais têm uma probabilidade superior em
92% de se divorciarem, três vezes superior de ter filhos
fora do casamento, duas vezes e meia superior de virem a
ser presas e vinte vezes superior de virem a sofrer maus
tratos, nomeadamente por negligência.
A principal conclusão a retirar é a
de que a desagregação da família, fenómeno
historicamente recente, contém um factor multiplicador
tremendo.
O estudo traz ainda uma perplexidade
e uma esperança.
Perplexidade, porque uma das
investigações realizadas conclui que a probabilidade de
um casamento vir a terminar em divórcio é o dobro nos
casos em que os cônjuges coabitaram antes do casamento.
Esperança, porque os inquéritos
demonstram que a realidade social não teve directamente
impacto nos valores culturais dos americanos.
Para 93% dos inquiridos «terem um
casamento feliz» continua a ser o objectivo mais
importante, sendo que 75% acham que é um «compromisso
para a vida» (curioso que 81% dos divorciados acham o
mesmo).
Voltando aos responsáveis
empresariais, é de notar que 80% das mães entre os 18 e
os 29 anos preferiam ficar em casa a ter um emprego a
tempo inteiro e 70% dos pais entre os 20 e os 40 anos
prescindiriam de parte do salário para ficar com os
filhos.
A esperança está aqui, no clamor do
coração humano, a que é urgente corresponder.