Correio da Manhã - 26 Abr 04
União: namoro começou na lavoura em 1934
CASADOS HÁ 70 ANOS

"Lembro-me como se fosse hoje", diz prontamente Isolina Roque, ao recordar o dia em que Adelino Gonçalves, seu marido há 70 anos, lhe pediu a namoro. Com um brilho de saudade nos olhos e um leve sorriso a pintar-lhe os lábios, lembra um dia de descamisa de milho, em Agosto, em que no final, como mandava a tradição, se fazia uma dança.

Lidia Barata
14_1_25-04-2004
Isolina Roque e Adelino Gonçalves namoraram seis meses e depois casaram-se para sempre

Namoraram seis meses e casaram em 1934. De então para cá, Adelino Gonçalves, de 93 anos, e Isolina Roque, de 90, fizeram uma vida em comum em Vale de Ramadas, freguesia de Santo André das Tojeiras, em Castelo Branco. Ele foi pedreiro e ela trabalhadora no campo, e sempre tiveram uma vida de esforço e luta contínua, mas são um exemplo e um testemunho vivo de valores que já poucos preservam.

Desta união nasceram quatro filhos, dois rapazes e duas raparigas. Hoje têm já 12 netos e 10 bisnetos, o que completa a felicidade destes idosos que durante o dia estão no Centro de Dia de Santo André, mas que à noite regressam à sua casa.

"Sempre fomos muito felizes e muito amigos um do outro. Nunca nos zangámos. Sempre fomos muito trabalhadores e leais um com o outro e assim construímos uma vida juntos", refere Isolina Roque, que não sabe se foi esta a receita para a durabilidade do seu casamento.

Para comemorar as Bodas de Platina, o Centro de Dia organizou uma festa onde estiveram quase todos os familiares do casal e onde não faltaram as alianças. Como no seu tempo apenas as mulheres usavam aliança, foi a primeira vez que Adelino Gonçalves colocou o anel de casamento e promete "nunca mais o tirar". "Foi uma festa muito bonita e nós ficamos muito felizes", disse Isolina Roque.

Agora, num dia-a-dia mais descansado, no Centro de Dia de Santo André, Isolina Roque e Adelino Gonçalves não descuram o convívio com outros idosos. "Jogamos cartas, cantamos, dizemos algumas chalaças e às vezes ainda damos um pezinho de dança", acrescenta Isolina Roque, lamentando apenas a perda de vitalidade de outros tempos.

Lídia Barata (Castelo Branco)

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