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Correio
da Manhã -
08 Abr 06
Menino ou menina?
Escolher o sexo custa 18 mil euros
Isabel Ramos
Um casal português
disposto a atravessar o Atlântico com 18 mil euros
no bolso pode escolher o sexo do seu bebé. Algumas
clínicas norte-americanas fazem-no, sem razões
médicas, garantindo o resultado a 99,9 por cento. O
assunto, ainda assim, é controverso do ponto de
vista ético, principalmente porque a técnica mais
segura implica a eliminação de embriões.
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D.R.
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Não
se trata de comer chocolate e adoptar a posição de missionário para
conceber meninas. Ou de comer muita carne vermelha e fazer amor em
pé para ter rapazes. Escolher o sexo dos filhos é hoje uma questão
de números. E o mais importante é este: 18 480 dólares, ou seja, 15
062 euros. Isto sem contar com os custos da ligação aérea entre
Portugal e os Estados Unidos – à cidade de Las Vegas, por exemplo –
e de hospedagem num hotel de três estrelas durante um mês. Tudo
incluído, a resposta à pergunta “menino ou menina?” é exacta: 18 245
euros.
Para a maioria das clínicas de
fertilidade norte-americanas, a selecção de sexo – ‘gender selection’
– é só mais um entre os serviços à disposição, também de casais
estrangeiros e, no caso, não necessariamente inférteis. Sharla
Miller, do estado do Wyoming, já tinha três rapazes quando tentou –
e vai conseguir – a menina, através da técnica designada por
diagnóstico pré-implantatório (DPI).
Inicialmente destinado a identificar
doenças genéticas, o DPI raramente falha quando usado na escolha do
sexo dos bebés. “99,9 por cento de garantia de obter o género
pretendido”, anuncia o Fertility Institutes, com clínicas em Los
Angeles, Las Vegas e México. Por um preço, claro: 18 480 dólares.
“Naturalmente, aceitamos casais estrangeiros”, informam da clínica
de Las Vegas, a cuja porta, por enquanto, nenhum português bateu.
Mas o CM já fez
as contas. Duas passagens de ida e volta para Las Vegas, com partida
do Aeroporto de Lisboa e pelo menos uma escala, custam, em classe
económica, no mínimo, 920 euros.
Quanto à
estadia, pelo período de um mês, significa, admitindo a reserva de
um quarto duplo num hotel de três estrelas, uma despesa mínima de
2263 euros e máxima de 4143.
De maneira
geral, os portugueses que viajem para os Estados Unidos, em turismo
ou negócios, e aí permaneçam menos de 90 dias, não precisam de
visto. Pelo menos o Programa de Isenção de Visto permite ao casal
poupar algum dinheiro.
ESCOLHER OS
EMBRIÕES
O que os
médicos fazem primeiro é retirar óvulos da mulher e fertilizá-los
‘in vitro’ com espermatozóides, criando embriões. Três dias depois
extraem de cada um deles uma célula, conseguindo, a partir do exame
da mesma, identificar os embriões femininos e os masculinos.
No útero
materno serão implantados apenas os do sexo desejado. É por isso que
o DPI quase nunca falha. Mas é também por isso – porque implica a
análise de embriões e a destruição dos do ‘sexo errado’ – que
algumas clínicas norte-americanas só o aplicam por razões médicas,
designadamente quando há doenças genéticas na família. São exemplos
a hemofilia e a distrofia muscular de Duchenne, que só se
desenvolvem em bebés do sexo masculino. Em tais casos pode ser
importante escolher em função do sexo. Essas clínicas também admitem
o DPI quando as mulheres têm mais de 38 anos ou uma história de
abortos espontâneos sucessivos.
POSIÇÃO
PORTUGUESA
Portugal
ratificou, em
2001, a Convenção dos Direitos Humanos
e Biomedicina – Convenção de Oviedo – que em Dezembro daquele ano
entrou em vigor com força de lei. O artigo 14.º da convenção proíbe
explicitamente a utilização de técnicas de procriação medicamente
assistidas com o objectivo de escolher o sexo de uma criança, salvo
se servir para evitar casos de doenças hereditárias graves
relacionadas com o sexo.
Mesmo sendo o conceito de gravidade
subjectivo – o que é grave para um médico pode sê-lo menos para
outro – são estas as únicas disposições sobre reprodução medicamente
assistida vigentes em Portugal, País onde o primeiro bebé-proveta
nasceu há 20 anos.
Outras técnicas de escolha de sexo
supõem a separação do esperma com cromossoma X, que faz meninas, do
esperma com cromossoma Y, que produz meninos. Nestes casos –
MicroSort e Ericsson, esta já um tanto fora de moda – não há, em
princípio, fertilização ‘in vitro’.
Trata-se de
seleccionar os espermatozóides com os cromossomas ‘bons’ e
inseminá-los artificialmente. São técnicas menos invasivas e mais
baratas, mas muito menos fiáveis. Cada ciclo de tratamento por
MicroSort custa pouco mais de dois mil euros e 600 cada inseminação
com recurso ao método Ericsson.
UMA DOENÇA
SOCIAL?
Pela cabeça de
Isilda Pegado, de 46 anos, advogada e mãe de quatro rapazes, nunca
passou a ideia de escolher o sexo dos filhos. “Não imagino que um
deles pudesse cá não estar para dar lugar a uma rapariga.”
O marido, médico, foi o quinto filho
depois de quatro raparigas e ela própria é uma de três irmãs com um
irmão mais novo. À partida, a história familiar não abonava em favor
do equilíbrio na distribuição do sexo dos filhos. “E então?”,
pergunta, tornando claro que isso não era sequer preocupação. “Para
mim seleccionar o sexo dos filhos faz tanto ou tão pouco sentido
como escolher a maneira de actuarem perante o Mundo e a
personalidade deles.”
Na qualidade de jurista, Isilda teme
que a futura lei sobre as técnicas de reprodução medicamente
assistida – o diploma aprovado em 1997 no Parlamento foi vetado pelo
Presidente da República, Jorge Sampaio, e voltou tudo à estaca zero
– venha a permitir a selecção de género para evitar graves doenças
hereditárias ligadas ao sexo e outras.
É a
possibilidade do ‘outras’ que lhe traz receio. “Haverá sempre quem
considere ter quatro filhos do mesmo sexo uma doença social.”
Sharla Miller
não precisou de invocar qualquer razão médica para escolher o sexo –
feminino – do quarto filho. “Fui sempre muito amiga da minha mãe e
não conseguia deixar de pensar em ter uma filha.” Em Novembro, os
óvulos de Sharla foram misturados em laboratório com o esperma do
marido, Shane. Daí resultaram 14 embriões saudáveis, sete femininos,
outros sete masculinos, identificados com recurso ao DPI.
TUDO NO
FEMININO
O médico do
Fertility Institutes transferiu três embriões femininos para o útero
de Sharla. Dois foram implantados e, se tudo correr bem, as gémeas
nascem em Julho. “Tenho três rapazes maravilhosos, mas já que havia
hipótese de ter uma rapariga, por que não?” pergunta, em entrevista
na revista ‘Newsweek’.
Por que não
Isilda Pegado? “Não porque o melhor que há é que os filhos nos
surpreendam sendo eles próprios, sem pré-determinações. E não, nem
ao sétimo ou décimo filho rapaz, porque escolher um embrião de
acordo com o sexo implica sacrificar os outros.”
Nos Estados Unidos, os casais que
recorrem ao DPI com o propósito de escolher o sexo do bebé podem
tomar uma de três decisões sobre o destino dos embriões que não
serão implantados: congelá-los, destruí-los, doá-los a casais
inférteis ou para investigação.
Outros centros de fertilidade
norte-americanos admitem o recurso ao DPI para selecção de sexo, sem
razões médicas. O Genetics and IVF Institute, com clínicas na
Virginia e Maryland, pede apenas que os pais da futura criança sejam
casados, tenham pelo menos um filho e desejem outro do sexo oposto.
O Sher Institutes for Reproductive Medicine, com filiais em várias
cidades norte-americanas, decide caso a caso e não exclui casais sem
filhos.
Já o
Reproductive Speciality Center, em Newport Beach, na Califórnia,
reserva o acesso ao DPI a casais com pelo menos um filho. O que está
em causa não é já pôr a ciência ao serviço de casais inférteis, mas
ajudá-los a gerarem o filho que desejam. Ou seja, bebés à medida.
EQUILÍBRIO E
VARIEDADE
Paula Amato é
professora assistente no Departamento de Obstetrícia e Ginecologia
da Divisão de Genética Reprodutiva do Baylor College of Medicine (BCM),
em Houston. É ela quem dirige um ensaio clínico, autorizado após
nove anos de intensa polémica, que supõe perguntar a 50 casais se
querem um menino ou uma menina e a seguir implantar na mulher o
embrião do sexo desejado.
O objectivo da
experiência é saber em que medida ideias preconcebidas sobre o
género, noções culturais e valores da família influenciam a decisão.
O facto de uma comissão de ética ter autorizado a experiência
reflecte a relevância das práticas de selecção nos Estados Unidos,
onde não há qualquer lei que a proíba expressamente.
Mas também não
existe informação sobre a procura e as razões da selecção de sexo.
“Quase tudo aquilo que sabemos se baseia na opinião pública”, afirma
Paula Amato, para quem a selecção de sexo por razões não médicas “é
aceitável com a finalidade de equilíbrio familiar e para garantir a
variedade de género”.
Hoje fazem-se
já ecografias a três dimensões, é possível conhecer o sexo do bebé
poucas semanas após a concepção e até marcar o dia do parto. Em
larga medida, a surpresa latente na exclamação “é menino!” ou “é
menina!” faz parte do passado. Não será a escolha do sexo do bebé o
próximo passo?
Paula Amato
pensa que sim, embora compreenda as reticências de uma parte
importante da população ante tal possibilidade. Mas na década de 70
do século XX, havia quem acreditasse que os bebés-proveta não tinham
alma e actualmente ninguém se atreve a dizê-lo. O primeiro bebé
concebido em Portugal com recurso à fertilização ‘in vitro’, Carlos
Saleiro, com 20 anos feitos, sorri quando lhe perguntam se tem alma.
“Não sou diferente dos outros.”
A VONTADE DE
DEUS
Desvendar um
mistério fundamental da procriação, tradicionalmente entregue a
Deus, não perturba Paula Amato. “Muitos aspectos da Medicina são
comparáveis à acção de Deus. Pode dizer-se que a infertilidade e o
cancro são a vontade de Deus, mas nem por isso deixamos de ajudar
quem sofre desses males. Provavelmente é a vontade de Deus.”
O padre Vítor
Melícias prefere não interpretar a vontade divina acerca da
utilização das técnicas de reprodução medicamente assistida para
escolher o sexo das crianças. “Devem conjugar-se os princípios da
liberdade com os que conduzem à felicidade”, afirma o sacerdote,
adiantando que “a liberdade dos pais não deve chocar com a dimensão
social da família e os direitos da criança.”
Mesmo remetendo
a análise detalhada do assunto para “quem sabe mais” – os
especialistas em ética e biomédica –, Vítor Melícias não hesita em
saudar o progresso “que favorece a dignidade humana”.
Entende, porém,
que quando isso não acontece “as técnicas devem ser evitadas ou
usadas com extrema cautela”. E apela à humildade também na ciência.
“Deve existir humildade suficiente para parar ou reconhecer que os
resultados podem ser maléficos ou negativos.”
Bióloga e
investigadora com trabalho no campo da engenharia genética, Clara
Pinto Correia não aprova a utilização do DPI na escolha do sexo do
bebé, a não ser por razões estritamente clínicas. Nem os argumentos
em favor do equilíbrio na família convencem Clara. “A Natureza sabe
muito bem o que faz. Tem o seu próprio equilíbrio.”
NAS MÃOS DA
NATUREZA
Em
2004 a
Natureza fez nascer em Portugal 56 242 rapazes e 53 114 raparigas,
segundo dados do Instituto Nacional de Estatística. Se depender do
presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina de reprodução, Silva
Carvalho, a decisão continuará a pertencer à Natureza.
“Pessoalmente não compreendo, não
aceito e não sou favorável à selecção de sexo por capricho do casal.
Isso afecta o aleatório e a diversidade, principais riquezas
humanas.”
O especialista, que trabalha no
Hospital de S. João, onde também se fazem diagnósticos genéticos
pré-implantatórios, nota que são apenas admissíveis para “detectar
anomalias genéticas incompatíveis com a vida”, embora, como sublinha
a presidente do Comité Nacional para as Ciências da Vida, Paula
Martinho da Silva, ainda esteja por definir o que se entende por
tais anomalias.
Quanto à
classificação de esperma, que não implica destruição de embriões,
Silva Carvalho esclarece que, embora disponível em Portugal, não
pode usar-se para escolher o sexo dos homens e mulheres de amanhã.
QUANTO CUSTA
ESCOLHER O SEXO DE UM FILHO
15 062 EUROS
Selecção do
sexo do bebé com 99,9% de garantia de resultar no sexo desejado,
fertilização ‘in vitro’ incluída. Preço praticado no Fertility
Institutes, que disponibiliza o serviço a casais estrangeiros.
2444 EUROS
Cada ciclo de
tratamento com recurso ao método Ericsson.
1629 EUROS
Medicamentos
para estimulação da fertilidade, se necessários.
460 EUROS
Passagem em
classe económica para Las Vegas, com partida e regresso ao Aeroporto
de Lisboa.
920 EUROS
Duas passagens,
para o casal, entre Lisboa e Las Vegas, ida e volta. Os voos fazem,
pelo menos, uma escala.
2263 EUROS
Custo mínimo de
hospedagem em quarto duplo, durante 30 dias, num hotel de três
estrelas em Las Vegas.
4143 EUROS
Custo máximo de
hospedagem em quarto duplo, durante 30 dias, num hotel de três
estrelas em Las Vegas.
'TÉCNICAS
SÃO USADAS SEM CRITÉRIO UNIFORME'
(Paula M. Silva, pres. Cons. Nacional de Ética para as Ciências da
Vida)
Correio da
Manhã – Há indicações contra a selecção de sexo em Portugal?
Paula Martinho
da Silva – Há. Está em vigor a disposição da Convenção dos Direitos
do Homem e da Biomedicina, que proíbe a utilização das técnicas de
procriação medicamente assistida para escolher o sexo do bebé,
excepto se evitar graves doenças hereditárias ligadas ao sexo. Estas
são as únicas indicações em vigor sobre o uso das técnicas.
– O que são
graves doenças hereditárias ligadas ao sexo? A hemofilia é uma
delas?
– Terá de haver
um critério médico que as identifique, pois o conceito de gravidade
é variável. Ou então remeter para uma autoridade que analise cada
caso.
– Não existe
entidade nem o critério. Isso não significa que pode fazer-se
selecção?
– Não, pois a
disposição proíbe a utilização das técnicas nas situações que não
sejam de doença hereditária grave ligada ao sexo.
– Que
entidade será essa?
– É uma
entidade independente a criar no âmbito do diploma sobre procriação
medicamente assistida. Não se limita a aprovar ou não o uso das
técnicas em situações excepcionais. Também acredita e licencia os
centros, autoriza e fiscaliza o funcionamento desses centros,
acompanha dos beneficiários das técnicas e as pessoas nascidas no
âmbito das mesmas.
–
Actualmente os centros não são fiscalizados?
– Não tenho
indicação de outro critério além do geral, de funcionamento das
unidades de saúde. Mas, não existindo lei que estabeleça os
parâmetros de utilização das técnicas, a fiscalização não saberia
quais os limites da sua actuação.
– Isso é
preocupante?
– Não duvido
que os centros funcionam bem, mas, pura e simplesmente, não se sabe,
pois não há critério uniforme. De Norte a Sul do País pode haver uma
dezena de centros a funcionar cada um com o seu critério de
aplicação das técnicas. Isso é preocupante.
– É possível
impedir que se aceda às técnicas aplicadas à selecção de sexo noutro
país?
– Na prática é
impossível. Mas isso não serve para justificar que não se
estabeleçam as regras que o legislador pensa corresponderem ao
sentir da sociedade. Se a sensibilidade da sociedade portuguesa é
num certo sentido não pode legislar-se em sentido contrário só
porque outro país qualquer o fez.
– Portugal
ainda não tem lei.
– É
inadmissível que estejamos há 20 anos sem qualquer legislação. Somos
o único país da Europa sem lei e está tudo a utilizar as técnicas e
cada um tem o seu critério. Não se trata de a legislação ser ou não
liberal. Mesmo a legislação inglesa, a mais liberal, estabelece
limites.
20 ANOS PARA
(NÃO) FAZER A LEI
O debate em
torno das técnicas de procriação medicamente assistida tem-se
centrado em Portugal sobre dois aspectos: o acesso por outros além
de casais heterossexuais e a possibilidade de a comunidade
científica utilizar os embriões excedentários que delas resultam.
Actualmente estão em apreciação quatro diplomas, do PS, PSD, PCP e
BE. Um grupo de cidadãos apelou entretanto ao referendo. Os
projectos do PS e PSD limitam o acesso a estas técnicas a casais
heterossexuais, casados ou em união de facto há mais de dois anos. O
PCP alarga o universo a “mulheres sós”, desde que tenham mais de 18
anos, o que também agrada ao Bloco de Esquerda. Mais consensual é a
possibilidade de os embriões excedentários serem utilizados pela
comunidade científica.
SELECÇÃO SÓ
POR RAZÕES MÉDICOS EM PORTUGAL
No centro de
fertilidade onde trabalha o professor Alberto de Barros fazem-se
diagnósticos genéticos pré-implantatórios para selecção de sexo,
mas, sublinha o especialista, apenas por razões médicas. Ou seja,
“em situações de doença grave ligada ao cromossoma X”, entre as
quais a hemofilia. Executaram-se até ao momento “três ou quatro
intervenções” deste género.
“Em Portugal
não é legalmente possível escolher o sexo, a não ser por razões
médicas e mesmo antes de 2001 [ratificação da Convenção de Oviedo]
eu não aceitaria fazê-lo”, diz o professor catedrático da
Universidade do Porto.
Mesmo com
dúvidas, que expressa a título pessoal, acerca da proibição da
selecção do sexo do bebé a desejo do casal, o médico considera não
ser o momento oportuno para abrir a discussão. Importante, defende,
é consagrar o acesso ao Diagnóstico Pré-Implantatório nos casos de
doenças graves ligadas ao sexo. “A sociedade tem receios, legítimos,
sobre a aplicação destas técnicas e não seria útil gerar um
sentimento de medo e repúdio devido a situações acessórias, como é a
escolha do sexo sem razões médicas.”
O especialista
sublinha a necessidade de definição clara das situações de ordem
médica que justificam o diagnóstico genético do embrião antes da
implantação no útero.
Este exame é
aplicado também, nomeadamente, no despiste da paramiloidose,
vulgarmente conhecida por ‘doença dos pezinhos’. Os embriões com
malformações genéticas são destruídos.
NO PAÍS E NO
MUNDO
PERIGO DA
EUGENIA
O princípio de
proibição da selecção de sexo tem por base a não discriminação e a
não utilização da ciência para práticas eugénicas, de preferência de
um sexo ao outro, afirma a presidente do Comité Nacional de Ética
para as Ciências da Vida, Paula Martinho da Silva.
ESCOLHER
ESPERMA
Ao abrigo da
Convenção de Ovideo, também a classificação do esperma com o fim de
selecção de sexo é proibida em Portugal.
DESEQUILÍBRIO
Em países como
a China e a Índia, onde a preferência pelos rapazes é esmagadora, o
acesso às técnicas de procriação medicamente assistida com o
objectivo da selecção de sexo é interdito. Mesmo assim, práticas
como o aborto selectivo e o infanticídio geraram o desequilíbrio
entre o número de homens e mulheres.
ELIMINAR
EMBRIÕES
“Criam-se
embriões e eliminam-se em função do sexo. São destruídos mesmo sem
terem doenças graves.” Para Paula Martinho da Silva, isso torna
inaceitável a selecção de sexo. Já “o esperma não é vida humana,
ainda não foi criada vida humana”. Os métodos que implicam a
classificação do esperma “serão sempre mais aceitáveis, desde que
ofereçam segurança na sua utilização”.
ESPANHA
Em Espanha a
escolha do sexo é permitida para fins terapêuticos e para evitar
doenças relacionadas com o sexo. Mas, em 1998, o tribunal recusou a
uma mãe de quatro filhos o direito a ter uma filha.
MÉTODOS PARA
ESCOLHER O SEXO
O sexo de uma
criança é determinado pelo espermatozóide que fertiliza o ovo no
momento da concepção. Um espermatozóide com cromossoma X resulta
numa menina; um com cromossoma Y 'produz' um menino. O cromossoma X
é maior que o Y.
ESCRUTÍNIO DO
ESPERMA (MICROSORT)
1. O sémen
contém cerca de 50 por cento de espermatozóides com cromossoma X e
outro tanto com cromossoma Y.
2. Esta técnica
separa os espermatozóides produtores de meninas, com o cromossoma X,
dos que resultam em meninos, com o cromossoma Y.
3. O cromossoma
X é maior do que o Y. Uma vez que os cromossomas são feitos de DNA,
o esperma com o cromossoma X tem mais cerca de 2,8 por cento de DNA
em relação ao que tem o cromossoma Y.
4. Os
espermatozóides são coloridos com uma tinta fluorescente que se liga
aos cromossomas. Como os X são maiores absorvem mais tinta.
5. Os
espermatozóides são bombardeados com uma laser que ilumina a tinta.
Os que têm o cromossoma X brilham mais, o que permite distingui-los
dos que têm o Y.
6. Os
espermatozóides passam por um eléctrodo que transmite aos
cromossomas X uma carga positiva e aos y uma negativa. Placas com
carga atraem e separam nessa ocasião os cromossomas X e Y,
canalizando-os para receptáculos diferentes. A separação não é
perfeita.
7. De acordo
com o sexo pretendido, cada amostra é usada para fertilizar os
óvulos da mulher.
DPI -
DIAGNÓSTICO GENÉTICO PRÉ-IMPLANTATÓRIO
1. Método
concebido para despistar doenças genéticas. Os médicos recorrem às
técnicas de fertilização in vitro para retirarem os óvulos da
mulher, fertilizados com espermatozóides no laboratório, criando
embriões
2. Três dias
depois, os médico extraem uma célula de cada embrião, conseguindo, a
partir dos cromossomas, identificar os embriões masculinos e os
femininos. Se encontrarem um cromossoma Y sabem que é masculino. Se
encontrarem um X é feminino.
3. Uma vez
determinado o sexo dos embriões, os médicos implantam os desejados
no útero da mulher. Embora mais intrusivo, este método tem sucesso
garantido.
MÉTODO ERICSSON
1. Os
espermatozóides são despejados numa camada viscosa de fluido. Como
têm a cabeça pesada, nadam naturalmente para baixo.
2. Os
espermatozóides que transportam cromossomas Y nadam mais depressa do
que aqueles que transportam cromossomas X, pelo que atingem mais
rapidamente o fundo do tubo de ensaio. Podem ser extraídos e usados
para inseminação.
3. É uma
técnica de baixo custo, comparada com o diagnóstico
pré-implantatório e o escrutínio de esperma, mas não tão eficaz. Os
apoiantes garantem que 'produz' rapazes em
78 a 85 por cento dos
casos. Os detractores dizem que as hipóteses não vão além de 50-50. |