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Publico -
14 Abr 06
editores contestam
Governo aprova avaliação obrigatória dos manuais
escolares
Bárbara Wong
Livros vão ser examinados previamente e só depois
escolhidos pelos professores
A partir de 2007/2008, os
professores vão passar a escolher livros escolares
que já foram certificados previamente por comissões
de peritos. O Governo aprovou ontem, em Conselho de
Ministros, o novo regime de adopção, avaliação e
certificação dos manuais escolares dos ensinos
básico e secundário. A proposta, que vai ser enviada
à Assembleia da República, prevê ainda que, no prazo
de três anos, os alunos mais carenciados tenham
acesso aos livros gratuitamente.
O Ministério da Educação quer que, progressivamente,
os editores passem a submeter os manuais a comissões
de peritos - constituídas por três a cinco
investigadores ou professores do ensino superior, do
básico e secundário e membros de associações
pedagógicas e sociedades científicas - que vão
avaliar os projectos e definir se são "certificados"
ou "não certificados".
A primeira proposta foi conhecida em Novembro e,
durante o período de discussão pública, houve
críticas, não só dos editores, como do Conselho
Nacional de Educação (CNE), um órgão consultivo do
ministério. Mas a tutela manteve boa parte da
proposta. A ministra da Educação, Maria de Lurdes
Rodrigues, ontem, em conferência de imprensa,
explicou que, com o novo sistema, fica "assegurada a
efectiva qualidade dos manuais escolares".
O processo de certificação prévia vai ser
supervisionado por um conselho de acompanhamento e
avaliação, que será criado no âmbito do CNE e que
vai ser constituído por elementos do ministério,
editores, pais, associações pedagógicas e
científicas.
Livros grátis para 210 mil
A proposta prevê a limitação das actividades de
promoção, desenvolvidas pelos editores nas escolas,
de maneira a que fique garantida a "transparência" e
para que os docentes não sofram "pressões".
Actualmente, o "número de manuais e o tempo previsto
para a escolha não permitem que esta seja de
qualidade", argumenta Lurdes Rodrigues.
O novo regime estabelece que, no âmbito da acção
social escolar e até 2009, sejam alargados os
mecanismos de apoio aos alunos mais carenciados,
através da gratuitidade dos manuais. Segundo dados
do Ministério da Educação, esta medida vai abranger
cerca de 210 mil alunos do 1.º ciclo ao secundário.
O que envolve um orçamento de dez milhões de euros.
O Governo quer ainda alargar de três para seis anos
o período de vigência dos manuais escolares. A
intenção, explica a ministra, é que os livros possam
ser reutilizados. Lurdes Rodrigues lembra que, em
muitos países, a duração das adopções é de nove a
dez anos.
"Sistema centralizado"
A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL)
lamenta a opção do Governo de aprovar uma proposta
que prevê "um sistema centralizado e estatizado de
controlo da edição escolar". A APEL é contra as
comissões de avaliação prévia, porque vêm substituir
os professores e as escolas no processo de adopção
dos manuais.
A APEL lembra que países como a Finlândia e a
Noruega deixam aos docentes a decisão de escolher os
manuais. Em Portugal, "pretende-se realizar uma
estranha viagem de regresso ao passado,
restringindo, através de processos centralizadores e
de características estalinistas, a liberdade de
arriscar novas propostas e de abrir novos
horizontes", acusa a APEL, em comunicado.
Para a União dos Editores e Livreiros (UEP), "o
processo está longe de estar concluído", porque a
proposta do Governo deixa várias questões em aberto,
que terão de ser discutidas na fase de
regulamentação. Nessa altura, a associação, como
"parceiro natural", espera ser envolvida na
negociação, declara Carmo Correia, do Conselho de
Educação da UEP. |