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Público - 20 Abr 06
UE tem de "remunerar" trabalho informal das
mulheres
Sofia Branco
Presidente da Comissão da Igualdade dos Géneros
do Parlamento Europeu defende políticas para
promover a natalidade
Algumas estimativas apontam que
30 por cento do trabalho feminino não é remunerado.
Perante esta situação, defende a presidente da
Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdade dos
Géneros do Parlamento Europeu, os Estados-membros da
União Europeia (UE) devem "reconhecer e remunerar" o
trabalho informal realizado pelas mulheres.
"As mulheres trabalham, de manhã à noite, ainda que
não estejam oficialmente empregadas. O seu trabalho
é muito útil para o futuro da sociedade", justificou
Anna Záborská, numa conferência organizada ontem
pela Escola de Direcção e Negócios e pela empresa
Deloitte, em Lisboa, a propósito da atribuição do
Prémio Empresa Mais Familiarmente Responsável.
Partindo desta premissa, Záborská, que é eslovaca e
integra o grupo democrata-cristão no Parlamento
Europeu, defende que os orçamentos dos Estados da UE
incluam "meios financeiros" para assegurar aquela
remuneração. E estabelece como meta que as mulheres
que se dedicam "voluntariamente" ao trabalho
informal (em casa e na família) recebam "pelo menos
o salário mínimo".
Perante uma plateia de duas dezenas de pessoas,
maioritariamente jornalistas, Záborská expôs as suas
ideias sobre a conciliação entre a vida pessoal,
familiar e profissional. Alertando para a crise
demográfica que afecta a UE, a médica eslovaca
salientou as vantagens que as políticas de
conciliação podem ter na promoção da natalidade.
"Não é a imigração que pode resolver esta questão."
Porém, esta relação entre conciliação e natalidade,
e a própria concepção das políticas de conciliação,
não é, reconheceu, consensual. Há dois meses,
realizou uma audição pública sobre o tema no
Parlamento Europeu e concluiu que "não é possível,
de momento, encontrar um caminho comum". Questionada
sobre se as políticas de conciliação não se dirigem,
muitas vezes, exclusivamente às mulheres (embora na
forma incluam sempre os dois sexos), Záborská
garantiu que é "a vida do casal" que é tida em
conta. No entanto, durante a sua intervenção,
referiu-se quase sempre à necessidade de os Estados
apoiarem as mulheres na conciliação, e pouco falou
sobre medidas vocacionadas para alterar os
comportamentos e as mentalidades dos homens. "É
preciso respeitar a liberdade da mulher de escolher
entre a família e o trabalho. Não se pode forçar a
mulher a escolher a via da conciliação."
A deputada socialista e ex-ministra da Igualdade,
Maria de Belém Roseira, diria aos jornalitas, após a
conferência, que discorda da redução das políticas
de conciliação à segurança social e ao trabalho,
defendendo que estas se alarguem a outros domínios,
como por exemplo à urbanização, no espírito da
"partilha equilibrada de responsabilidades".
A feminização da pobreza
Záborská debruçou-se ainda sobre a feminização
"enorme" e "crescente" da pobreza na UE. Mulheres
sós, divorciadas e idosas e famílias numerosas
compõem o grupo de risco, resumiu, vincando: "A
pobreza é a origem da maioria dos problemas que
afectam as mulheres."
Sobre a diferença média de 15 por cento entre o
salário de um homem e de uma mulher que realiza o
mesmo trabalho Záborská considera que "é uma questão
de comportamento dos empregadores", que não devem
ser os únicos responsáveis pela alteração do sistema
em vigor. "Tem de haver um compromisso por parte do
Estado, através de políticas públicas de emprego de
mulheres", defendeu. Subsídios do Estado para
compensar diferenças salariais seriam um
"investimento na natalidade".
Simultaneamente, "o Estado deve apoiar as famílias
numerosas, muito úteis para a sociedade". E
acrescentou: "Infelizmente, a situação demográfica é
consequência de uma política [na UE] não
familiarmente responsável." E apelou aos eleitores
para que exijam dos que elegeram a adopção de
políticas a favor da família e da mulher.
O Prémio Empresa Mais Familiarmente Responsável,
cuja atribuição decorre hoje, pretende "reconhecer
socialmente as empresas que têm preocupações com a
família", explicou Maria de Belém Roseira, membro do
júri desta segunda edição. Os questionários com base
nos quais os vencedores são escolhidos foram
enviados a mil empresas: apenas 60 responderam. "A
ideia do prémio é ter um efeito multiplicador",
afirmou Josefina Leitão, ex-presidente da Comissão
para a Igualdade no Trabalho e no Emprego e também
membro do júri. |