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Público - 29 Abr 06
Apoios ao 1.º ciclo
Transporte de crianças afectadas pelo fecho de
escolas vai ser pago pelo Governo
Isabel Leiria
Os milhares de alunos dos 1500 estabelecimentos
que não abrem em 2006/2007 vão concentrar-se em 800
"escolas acolhedoras"
Comparticipação integral dos
custos das autarquias com o transporte de alunos
para as "novas escolas acolhedoras", isenção do
imposto automóvel na aquisição de viaturas para o
efeito e reforço do orçamento do Ministério da
Educação para obras de melhoria dos edifícios que
vão receber mais estudantes.
São estes os mais recentes apoios às autarquias
anunciados pelo Governo, no âmbito do reordenamento
da rede escolar do 1.º ciclo. Cerca de 1500
estabelecimentos de ensino já não abrirão portas no
próximo ano lectivo, num processo gradual de
encerramento de escolas de frequência reduzida
(menos de 20 alunos) e elevadas taxas de insucesso
ou falta de condições. De acordo com a previsão do
ministério, até ao final da legislatura deverá
fechar 60 por cento do actual parque escolar.
Para ajudar as autarquias a fazer face aos custos
inerentes a este processo - as câmaras são
responsáveis pela gestão das escolas do 1.º ciclo e
respectivo transporte escolar -, o primeiro-ministro
anunciou ontem que o Governo irá comparticipar a 100
por cento a despesa com a deslocação dos alunos
atingidos pelo encerramento de estabelecimentos e
que vão passar a frequentar as 800 "escolas
acolhedoras" designadas.
A Básica 2,3 de Macedo de Cavaleiros, onde José
Sócrates e a ministra da Educação, Maria de Lurdes
Rodrigues, anunciaram este pacote de novos
financiamentos, é precisamente uma das escolas que
vão acolher alunos de outros estabelecimentos de
ensino. Neste concelho, em 2006/2007 apenas vão
sobrar oito das 38 escolas do 1.º ciclo actualmente
em funcionamento.
Para já não são avançados números globais, mas se
todos os alunos implicados viessem a precisar de
transporte da câmara e estimando uma média de 12 por
escola encerrada, o universo de deslocações andaria
à volta das 18 mil crianças.
Certo é que terão de ser as autarquias a fazer o
pedido de financiamento. Os montantes serão
variáveis, dependendo do número de crianças a
transportar e das distâncias a percorrer, mas
poderão atingir os 290 euros por ano, por aluno,
estima o Ministério da Educação.
O Governo aprovou também esta semana uma proposta de
lei que prevê a isenção do pagamento do imposto
automóvel (IA) na aquisição pelos municípios de
veículos que se destinem à deslocação de crianças em
idade de frequentar o ensino básico.
Dinheiro para obras
e refeições
"São medidas francamente positivas. A diminuição do
IA, há muito reivindicada, vai permitir uma
diminuição de 25 por cento do custo das viaturas.
Mas esperamos que seja aplicável a todos os
municípios e à renovação das frotas de transporte
escolar e que não esteja apenas condicionada ao
objectivo de racionalização da rede", comenta
António Ganhão Pereira, da Associação Nacional de
Municípios Portugueses.
Enquanto não são construídos os novos centros
escolares, que estão agora dependentes das verbas
que irão ser negociadas no âmbito do futuro Quadro
Comunitário de Apoio (2007/2013), o Ministério do
Educação compromete-se ainda a comparticipar as
obras de melhoria dos edifícios e equipamentos que
as autarquias estão a realizar nas escolas
acolhedoras.
A verba inicialmente anunciada de 1,8 milhões de
euros foi reforçada para 2,4 milhões de euros e um
milhão foi já entregue às câmara municipais. O
dinheiro "continuará a ser transferido à medida que
as direcções regionais de educação (DRE) e as
autarquias concluam os processos negociais em
curso", garante a tutela, em comunicado. Com 900
escolas a encerrar já este ano, a DRE do Norte
receberá a maior fatia deste financiamento (1,5
milhões de euros).
A comparticipação das refeições dos alunos do 1.º
ciclo - até agora o Estado apenas financiava os
restantes níveis de ensino - completam este pacote
de apoios. Mais de 80 por cento das autarquias
candidataram-se ao financiamento e a tutela estima
que, no próximo ano lectivo, "pelo menos 80 por
cento dos alunos do 1.º ciclo - ou seja, 330 mil
crianças - estejam abrangidos".
Ainda de acordo com dados do ministério, apenas 30
por cento dos alunos deste nível de ensino tinham
até agora acesso a refeições.
Ontem, José Sócrates apelou aos autarcas que se
"envolvam nesta reestruturação da rede", defendendo
que a "aposta no desenvolvimento do concelho é
também a aposta na inteligência e no conhecimento".
E reafirmou a intenção de transferir mais
competências na área da Educação, através da
canalização do dinheiro que é actualmente gasto pela
administração central para as câmaras. com Ana
Fragoso |