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Público - 29 Abr 06
Certificação dos manuais escolares reúne consenso
parlamentar
Bárbara Wong
PCP e Bloco de Esquerda exigem livros gratuitos
para todos os alunos do ensino obrigatório. Governo
promete só para os que mais precisam
Todos os partidos com assento
parlamentar estão de acordo com o Governo: é
necessário certificar os manuais escolares, em nome
da qualidade. Ontem, no Parlamento, Governo e
oposição apresentaram várias propostas de legislação
sobre os livros escolares. Para o Bloco de Esquerda
(BE) e o PCP, o Estado devia disponibilizar,
gratuitamente, os manuais a todos os alunos. Para o
Governo, a promessa da gratuitidade só se pode
aplicar aos que mais precisam.
A partir de 2007/2008, os professores vão passar a
escolher livros escolares que já foram certificados
previamente por comissões de peritos. Esta é a
proposta do Governo, que já foi aprovada em Conselho
de Ministros, no passado dia 13, e que ontem foi
novamente apresentada. O novo regime de adopção,
avaliação e certificação dos manuais escolares dos
ensinos básico e secundário prevê que os manuais
estejam em vigor durante seis anos e que, no prazo
de três anos, os alunos mais carenciados tenham
acesso aos livros gratuitamente.
Certificar antes ou depois?
O Ministério da Educação quer que os editores passem
a submeter os manuais a comissões de peritos -
constituídas por investigadores e professores do
ensino superior, do básico e secundário e membros de
associações pedagógicas e sociedades científicas -
que vão avaliar os projectos e definir se são
"certificados" ou "não-certificados". Só depois
dessa certificação é que os livros podem ser
comercializados.
Todos os partidos concordam com a certificação.
Contudo, o CDS defende que esta só deve ser feita
depois de os livros já estarem no mercado. O PSD
propõe que esse sistema seja facultativo. Para este
partido, a certificação prévia é uma medida "pró-estalinista",
define o deputado Pedro Duarte. "Nós não nos revemos
nas comissões de avaliação, que correm o risco de
poder tornar-se de dirigismo educativo ou de
censura, que podem condicionar a liberdade de
escolha das escolas", justifica Duarte.
Para o Governo, não faz sentido que a avaliação e
certificação dos manuais seja feita depois da
publicação dos livros. Se assim fosse, as famílias
seriam induzidas em erro, já que adquiriam um manual
a que as comissões não reconheciam a qualidade,
explica o secretário de Estado Adjunto e da
Educação, Jorge Pedreira. "Um sistema que funciona
depois da adopção dos manuais tem todos os custos e
nenhuns benefícios", acrescenta.
O ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto
Santos Silva, pergunta ao PSD se prefere "uma
avaliação a fingir ou uma que garanta a qualidade
pedagógica dos manuais". Pedro Duarte responde que
as comissões podem concluir pela aprovação de um
livro único, o que é um "perigo para o sistema".
Livros grátis até 2009
Quer o PCP quer o BE defendem a gratuitidade dos
manuais escolares. Os comunistas já fizeram as
contas e dizem que o investimento necessário para
garantir a gratuitidade dos livros para todos os
alunos da escolaridade obrigatória é de 62,3 milhões
de euros, o que equivale a 2,1 por cento do
orçamento de funcionamento do Ministério da Educação
para 2006.
O BE quer que o Governo reconheça que o actual
modelo de acção social escolar "não serve e não
resolve os problemas das famílias mais pobres".
O secretário de Estado Jorge Pedreira admite que os
apoios da acção social escolar têm sido
"insuficientes", mas que o Governo se compromete a
pagar - de forma gradual e até ao final da
legislatura - a factura dos livros às famílias que
mais precisam.
A proposta do Governo e os projectos de lei dos
diversos partidos serão votados na próxima
quarta-feira. |