Diário de Notícias - 27 de Agosto
Quando as médias caem de 18 para 6 valores
Mais de oito valores. É esta a diferença que separa a nota que o
aluno obteve ao longo do ano e aquela que consegue no exame, em mais de
100 pares escola/disciplina. Uma diferença abismal que se torna ainda
mais flagrante se pensarmos que estamos a falar de médias, e não da
nota mais baixa de um estudante em determinada instituição de ensino.
Que o João estivesse nervoso quando fez o seu exame de Química e passe
de uma nota de 15 na frequência das aulas para um 5,5 no teste, é algo
que não é descabido. Estranho é que a média do João e de todos os
seus colegas produza esse resultado em determinada escola - no caso, a
pública Escola EB 2,3 de Ferreira do Zêzere, no distrito de Santarém.
Tratando-se de duas avaliações radicalmente diferentes - uma
contínua e de carácter formativo, a outra pontual e de carácter
eliminatório -, não parece, mesmo assim, muito normal que exista um
padrão de intervalo tão contínuo entre as duas. O Ministério da
Educação fala mesmo da necessidade de verificar se existem "zonas
de facilitismo". Já se conhecia o fosso das médias nacionais, mas
observar casos concretos nas escola é impressionante.
A maioria dos grandes desvios pertence às instituições de ensino
públicas - é o caso de um dos pares escola/disciplina que consegue o
maior de todos: a Escola Secundária D. Sancho II, em Elvas
(Portalegre). A diferença média entre as duas notas de classificação
é de 11,3 valores a Desenho e Geometria Descritiva, passando-se de um
18 da avaliação contínua para 6,2 valores de média de exame. O outro
caso é o da Escola Secundária Tomás Pelayo, no Porto, onde a Física
cai dos 18 para os 6,2 valores de média.
As disciplinas mais susceptiveis de sofrerem oscilações bruscas
(para menos) neste processo são a Matemática, Física, Química,
Psicologia e mesmo a Biologia. No extremo oposto estão as ciências
humanas, com o Português a demonstrar a melhor adequação entre as
duas classificações - em muitos casos, as escolas vêem mesmo as suas
médias aumentar com a nota de exame.
Nesta área (que inclui também a Filosofia, a Sociologia e a
Introdução ao Desenvolvimento Económico e Social) há 745 escolas e
médias com diferenças inferiores a um valor. Quanto às línguas
(Inglês e Francês), não existe um padrão definido de variação.
O secretário de Estado da Educação, João Praia, já disse que
estas discrepâncias - e o caso mais flagrante é o da Matemática -
indiciam que "algo não está a funcionar no sistema de
ensino". Se o problema reside na forma como as escolas efectuam as
suas avaliações, na adequação do exame ao que é ensinado nas mesmas
ou em qualquer outro factor é o que se torna urgente averiguar. O
Ministério da Educação promete conjugar esforços com a Associação
de Professores de Matemática (APM). Através de uma nova abordagem:
"As acções de formação têm de ser mais localizadas e com menor
número de docentes. Temos de fugir ao formato do
"colóquio"", referiu ao DN o secretário de Estado. Que
fala também dos problemas que têm afectado as iniciativas até agora
tomadas: "Muitas vezes, as acções de formação de docentes são
mais viradas para as áreas e menos para as didácticas. Tem de haver
uma maior interacção entre as ciências da educação e os núcleos
científicos." Falta responder à grande questão: "Qual é o
grau de discrepância razoável entre as notas de frequência e as de
exame?"