Público - 27 de Agosto
"Ranking": Prós e Contras
A divulgação, pelo Ministério da Educação, da base de dados que
permite elaborar uma lista ordenada de escolas tem sido muitas vezes
exigida e muitas vezes recusada. Nas páginas do PÚBLICO, pais, alunos,
professores, políticos têm trocado argumentos. Recordemos alguns.
Prós
"(...) a criação de um sistema nacional de avaliação só
pode ser bem-vinda. Ele permitirá certamente mostrar que há escolas
públicas bem geridas e com bons resultados. Criará um clima geral de
emulação entre as escolas públicas (...) aumentará o poder de
influência das famílias sobre as escolas - públicas e privadas."
João Carlos Espada, sociólogo
24/11/1997
"Publique-se a lista das cem ou 500 escolas que apresentam os
melhores resultados (...) e procure-se perceber quais são as causas do
bom desempenho dessas escolas. Só assim será possível que todas as
outras beneficiem do efeito de demonstração."
Marçal Grilo, ex-ministro da Educação
23/12/2000
"É verdade que de nada adianta divulgar dados isolados que
apenas conduzem a visões simplistas de problemas complexos. Também é
certo que a mera divulgação de resultados de desempenho de
instituições educativas públicas não as melhora, por magia. Mas
também é verdade que o Ministério da Educação, ao fechar-se sobre
si próprio, escondendo os 'rankings' e os dados mais ou menos
elaborados que possui, não cumpre a sua função social de informar os
cidadãos, que (...) pagam integralmente o funcionamento do
sistema."
Joaquim Azevedo, ex-secretário de Estado da Educação e membro do
Conselho Nacional de Educação
20/01/2001
"É intolerável que o Ministério da Educação tenha
conhecimento dos resultados dos exames do 12º ano por escola e não os
divulgue, porque considera essa informação secreta. O Gabinete de
Avaliação Educacional, responsável por esses dados, é um organismo
público, pelo que os deve facultar."
David Justino, vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD na
Assembleia da República
04/04/2001
"A ocultação dos resultados nivela pelo silêncio, favorecendo
os que pouco trabalham e os incompetentes, desvalorizando e desmotivando
os que se empenham"
David Justino, vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PSD na
Assembleia da República
26/04/2001
Contras
"O Ministério da Educação não deve promover nem facilitar
comparações. Se o fizesse, poderia criar condições complicadas aos
alunos, aos professores e até ao próprio sistema. Por exemplo, em
zonas mais deprimidas, os resultados são piores do que em escolas
frequentadas por meninos ricos, o que levará as pessoas a inventar
ainda mais moradas falsas para aí terem os seus filhos"
Maria José Rau, inspectora-geral da Educação
27/02/2000
"Defender em Portugal os 'rankings' é uma falácia, serviria
apenas para satisfazer uma curiosidade mórbida. Se a justificação
para a existência de 'rankings' é a informação aos pais, esses, na
sua larga maioria não têm condições de escolha e os que têm já a
fazem."
Maria do Carmo Clímaco, ex-inspectora-geral da Educação
14/03/2001
"(...) não queremos estigmatizar as escolas que tenham ficado
pior classificadas (...) A orientação do ministério não é
classificar escolas nem fazer o 'top ten'. Nem fazer juízos definitivos
sobre as escolas. Imagine o que era divulgar as melhores escolas, a
procura disparava!"
Augusto Santos Silva, ex-ministro da Educação
18/03/2001
"Penso que a avaliação rigorosa que o Ministério da
Educação está a fazer, procurando as causas dos problemas, não deve
ser pública para não criar uma estigmatização social e uma
distinção entre as escolas, que pode ser perigosa."
Belmiro Magalhães, dirigente da Plataforma das Associações de
Estudantes do Ensino Secundário do Distrito do Porto
26/04/2001
"Temo que a possibilidade de dizer que a escola A é melhor que
a B possa trazer alguns inconvenientes, como a tentação de
elitização do ensino. Além disso, é preciso que a avaliação
pondere factores como as condições de aprendizagem, o meio social em
que os alunos estão inseridos. (...) não penso que seja positiva a
particularização sobre cada escola. Até porque muitas vezes (...)
não são dadas às escolas condições para poderem evoluir."
Vítor Sarmento, presidente da Confederação Nacional das
Associações de Pais
26/04/2001
"Uma avaliação feita para que se elabore um 'ranking' assente
nos resultados académicos conseguidos pelos alunos, nomeadamente em
provas nacionais, seria um instrumento colocado ao dispor dos que só
pretendem diferenciar as escolas de 'excelência' das escolas 'comuns',
as escolas de 'elite' das escolas de 'exclusão'"
Mário Nogueira, Membro do Secretariado Nacional da Fenprof
02/05/2001