Público - 27 de Agosto

"Se Não Existe Um Livro, no Mesmo Dia Há Uma Empregada Que Vai Comprá-lo"

Por BÁRBARA WONG

Colégio Sagrado Coração de Maria, em Lisboa

É particular e apresenta os melhores resultados na primeira fase dos oito principais exames nacionais do 12º ano. O segredo? Bons professores, bons alunos, bom equipamento e muita exigência

O Colégio Sagrado Coração de Maria, em Lisboa, ocupa o primeiro lugar na lista das escolas com melhores médias nos oito exames de 12º mais concorridos. Vem à frente a Biologia e Psicologia, é sexto a Química, oitavo a Português B, 13º a Física e 14º a História; a pior posição é a de Matemática, em 18º. A que se deve esta constância nos melhores desempenhos?

Serão os professores bons? Os alunos excepcionais? O método de ensino diferente? Qual é o segredo?

"O segredo está no grupo de alunos que fazem uma caminhada no colégio, desde os três anos, e também no corpo docente, que é muito estável", responde de imediato Paulo Campino, coordenador do secundário e membro da direcção da escola. Outro ingrediente é o projecto educativo, que privilegia uma cultura de sucesso. "O colégio pretende formar os estudantes do ponto de vista humano, mas também prepará-los para actuar na sociedade, ou seja, para entrarem no ensino superior e depois serem agentes de mudança", acrescenta o coordenador.

"É importante ir preparando os alunos desde, pelo menos, o 1º ciclo", refere a directora, Maria Filomena Gouveia. A escola aposta não só no trabalho dos professores, mas também no projecto desenvolvido pelo gabinete de psicologia e orientação. A função deste departamento é acompanhar os miúdos desde os três anos, perceber as principais dificuldades que têm, ajudá-los a descobrir qual a sua vocação, que agrupamento devem escolher.

A partir do 3º ano, o gabinete prepara módulos de métodos e técnicas de estudo adequados a cada idade, que depois são desenvolvidos na sala de aula. 

O trabalho das três psicólogas que fazem parte do gabinete intensifica-se no final do básico, com um programa próprio de orientação vocacional, e no início do 10º ano, altura em que os estudantes reforçam a aprendizagem de métodos de estudo. Os alunos com dificuldades de aprendizagem têm direito a planos de apoio. "Não se obtém sucesso se o aluno não perceber que ele é o autor do seu sucesso", justifica Paulo Campino.

O colégio, que vai celebrar 60 anos em Outubro, fica no topo da Alameda D. Afonso Henriques e é vizinho do Instituto Superior Técnico. Os estudantes são de classe média e média-alta, mas existem também alunos de origens mais humildes, que são subsidiados pelo Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria, uma ordem francesa vocacionada para a educação e que tem mais duas escolas em Portugal - uma em Fátima e o Colégio de Nossa Senhora do Rosário, no Porto (este último também posicionado entre os dez melhores).

Avaliação externa e interna semelhantes

Paulo Campino tem consciência de que o factor "aluno de classe média, média-alta" é determinante para o sucesso da escola - a mensalidade no secundário é de 63.500$00 (preço do ano lectivo passado, em que não estão incluídas as actividades extra-curriculares ou a alimentação). E se a escola acolhesse outro tipo de alunos? "Se fossem os mesmos professores, com as mesmas práticas, poderíamos potenciar os alunos para o sucesso, mas não me atrevo a dizer que teríamos o mesmo resultado", admite.

O "factor docente" também contribui em muito para os bons resultados: os professores reúnem todas as semanas e periodicamente fazem encontros com os colegas dos outros ciclos - "há um grande trabalho de equipa". Além disso, a escola tem um plano de formação próprio e oferece acções de formação aos seus docentes. A instituição procura ainda "antecipar-se às reformas" previstas pelo Ministério da Educação e há três anos que está a preparar-se para a revisão curricular. Gestão flexível, actividades de enriquecimento de currículo, aulas de 90 minutos são palavras que fazem parte não só do léxico dos professores mas da vida da escola.

Há ainda um outro factor determinante para o sucesso dos alunos: as condições em que estudam. Paulo Campino diz que a escola está bem apetrechada, tem laboratórios, acesso à Internet, biblioteca - "se não existe um livro que os alunos precisam, no mesmo dia há uma empregada que vai comprá-lo", diz o professor.

O coordenador do secundário do Sagrado ficou feliz por saber que não existe uma grande diferença entre os resultados da avaliação interna e externa - em média os estudantes tiveram menos 1,1 na nota do exame do que na nota da escola. "Mais importante do que os bons resultados é saber que não existe essa diferença entre as duas avaliações. É uma alegria, porque confirma que o nosso trabalho é sério, honesto e prova que não inflacionamos as notas.

Acusa-se o ensino particular de favorecer os alunos, mas não é todo o particular e é um escândalo o ministério saber quem o faz e não fazer nada. 

A verdade é que os nossos alunos protestam porque somos exigentes e damos notas baixas!" 

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