Público - 28 de Agosto

Escolas Deveriam Ter Corpo Docente Estável

Por BÁRBARA WONG

Reacções ao "ranking"

Colégios que recebem alunos de todas as classes sociais também têm bons resultados, diz representante dos privados

As listas dos resultados das escolas devem ser publicadas. Nuno Burguette, presidente da Associação dos Estabelecimentos de Ensino Particular (Aeep) não tem dúvidas e a sua opinião não muda por saber que muitas escolas do ensino privado ocupam os últimos lugares. "A legislação não é a mais adequada e o Ministério da Educação não pode tomar uma medida drástica de fechar a escola. Gostaríamos de animar as que têm resultados piores e incentivá-las para trabalhar melhor".

De resto, Nuno Burguette só tem motivos para alegrar-se: são privadas oito das dez escolas com melhores resultados nos exames de 12º ano mais concorridos. Uma constatação é óbvia, para o presidente da Aeep: "Tenho que confessar que um grupo de alunos de um colégio de Lisboa, com acesso a um mundo cultural superior, tem uma abertura que os outros, de um bairro degradado, não têm culpa de não ter".

Aldina Silveira Lobo, da direcção da Associação de Professores de Português (APP), é da mesma opinião e acrescenta: "Em princípio, os privados que estão no topo são caros, o que significa que para lá vão os filhos de pessoas que podem suportar esses custos e que, à partida, têm melhores condições sócio-culturais".

É com apreensão que Vítor Sarmento, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) vê a publicação da lista dos resultados dos exames no secundário. "É nefasto fazer dissertações em torno desta lista porque os pressupostos das escolas não são todos iguais", considera.

Provam-no as condições em que os alunos no ensino privado estudam: Vítor Sarmento gostaria que todas as escolas do país tivessem um corpo docente estável, óptimas instalações e serviço de psicologia e orientação.

"A estabilidade do corpo de ensino deveria começar logo no 1º ciclo, onde muitas vezes os miúdos nem sequer têm de comer; existem alunos cujos pais não têm capacidade para comprar os livros. Tudo isto é conhecido, o diagnóstico está feito e não era preciso fazer um 'ranking' para vermos que a realidade, para a maioria dos alunos, não é a europeia", argumenta o representante dos pais.

"Gestão escolar é muito importante"

Para o porta-voz das escolas privadas, "todos os estabelecimentos de ensino, públicos e privados, deveriam receber qualquer aluno que aparecesse; os pais deveriam ter um real direito de escolha". Mas existem colégios que recebem estudantes oriundos de todos os meios, lembra Burguette. E dá o exemplo das escolas com as quais o ministério celebrou contratos de associação, isto é, que recebem alunos de regiões onde o serviço público não chega. Em muitas, os resultados também são bons, o que significa que os melhores desempenhos não se fazem apenas de alunos com boas bases culturais e sociais, mas também de um corpo docente estável, motivado, e de uma boa gestão da escola. "A gestão escolar é muito importante, as privadas têm liberdade para escolher as pessoas que lhes interessam", reforça Aldina Lobo, que sempre leccionou no público.

Apesar de ser contra uma listagem das escolas, Vítor Sarmento não deixa de admitir que esta poderá servir para "mobilizar os pais, de maneira a não se demitirem do seu papel de acompanhamento dos filhos", por outro lado, poderá trazer "alarmismos" entre os encarregados de educação que vão querer que os seus miúdos frequentem as escolas consideradas de excelência. "Isto é apenas uma parte do filme", avisa. Para o dirigente, só será possível fazer um 'ranking' fidedigno se se tiver em conta "todos os pressupostos", ou seja, a região, as condições sociais dos alunos, o corpo docente, o orçamento das escolas. 

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