Público - 28 de Agosto
Ainda a Lista
Por JOSÉ VÍTOR MALHEIROS
A publicação da lista das notas alcançadas pelos alunos das
várias escolas secundárias do país nos exames nacionais do 12º ano
deve ser saudada. Ela representa um triunfo do direito dos cidadãos à
informação e, particularmente, do direito dos cidadãos a conhecerem o
funcionamento do sistema de ensino que financiam e cujo desempenho todos
consideram essencial para garantir o futuro.
Deve ser saudada porque vem sublinhar o dever da prestação de
contas dos sistemas públicos perante a sociedade.
Deve ser saudada, finalmente, porque representa uma vitória sobre o
obscurantismo daqueles que defendiam que o público não estava
preparado para conhecer e interpretar estes dados, que extrairia deles
conclusões abusivas e incorrectas, que a ordem pública seria alterada
para além do tolerável, que, em suma, o país não estava maduro para
a democracia.
É evidente que a eficácia do sistema não pode ser avaliada de
forma muito rigorosa através desta lista. Mas é melhor possuir alguns
indicadores do que nenhuns. Trata-se de uma primeira abordagem, que irá
sendo certamente corrigida e melhorada com o tempo.
É evidente que vai haver erros de interpretação, algumas
injustiças na avaliação, algumas reputações (boas e más) algo
imerecidas. Mas a qualidade dos dados e da sua leitura irá sendo cada
vez maior e isso só poderá melhorar o sistema.
É justo sublinhar, neste momento, que esta publicação tem
antecedentes: ela dificilmente teria tido lugar se o ministro da
Ciência e da Tecnologia, José Mariano Gago, não tivesse tido a
coragem, em 1997, de tornar pública a avaliação das unidades de
investigação financiadas pelo Estado e de instituir essa divulgação
como um princípio (cuja continuidade se espera).
Ao princípio, também essa publicação caiu como uma bomba, mas o
sistema habituou-se. Também as notas dos exames (que ficam muito aquém
da avaliação a que as escolas podiam e deveriam ser submetidas) serão
vividas como um choque primeiro e perderão depois o seu dramatismo.
Há quem receie que a publicação destes "rankings" leve a
uma prática de benefício dos favorecidos e abandono dos
marginalizados. A preocupação é legítima. Mas é inaceitável que,
para não correr esse risco, se adopte um injusto igualitarismo, se
defenda o anonimato da competência e a impunidade da incompetência, se
defenda a própria ignorância do sistema sobre si próprio.
Uma das razões por que é necessário conhecer o desempenho das
escolas pode ser para identificar os melhores e para os estimular a não
aceitar nada menos do que a excelência. Mas tem de ser também para
colmatar as insuficiências dos menos bons e para identificar e combater
as razões de insucesso dos piores.
Na educação, como em muitas outras áreas (se não em todas), não
há receitas de sucesso. Uma das formas mais eficazes de alcançar bons
resultados é o chamado estudo das "boas práticas". A
emulação dos melhores pode ajudar-nos a ter uma melhor educação.
Cabe-nos exigi-la.