que não conseguiam trabalhar nas suas
áreas vocacionais. E os alunos sofrem devido a essa situação. Aldina
Silveira Lobo, da Associação de Professores de Português (APP),
prefere não afirmar que estes sejam maus professores, mas esta pode ser
uma entre muitas justificações para que os resultados nacionais dos
exames de 12º ano a Português A e B sejam tão baixos.
A lista esta semana publicada no início da semana com os desempenhos
de todas as escolas que leccionam o ensino secundário, públicas e
privadas, volta a mostrar as médias nacionais a Português A (11,4
valores) e a Português B (11,7 valores) - notas que a representante da
APP classifica "fracas". "É preocupante, sobretudo a
Português A, a variante onde estão os alunos interessados em
prosseguir os seus estudos na área da literatura e língua e que
poderão vir a ser os futuros professores de Português", refere
Aldina Lobo. Aliás, alguns dos professores que leccionam hoje em dia
já fizeram o secundário com problemas, refere ainda.
Além disso, os professores batem-se com o problema da mobilidade. Um
estudo recente da APP refere que esta é uma das causas por que os
estudantes chegam ao 2º ciclo com dificuldades na leitura. "No
interior do país, existem escolas por onde passam três, quatro ou
cinco professores no mesmo ano. E isso acontece desde o início da
escolaridade das crianças, o que tem repercussões que se vão
reflectir sempre", aponta.
Uma consequência do factor mobilidade é a falta de sequencialidade
no ensino, reforça Maria José Costa, da Associação de Professores de
Matemática (APM). Nesta disciplina a média nacional foi negativa: 7,4
valores. "Quanto maior for a mobilidade, mais difícil é o
acompanhamento do aluno ao longo de um ciclo", afirma. Mas a
professora não considera que a fixação do corpo docente só tenha
aspectos positivos e recorda que em estabelecimentos de ensino, como os
antigos liceus, onde o corpo docente já tem uma "idade
elevada" é mais difícil este adaptar-se às remodelações do
programa. Mais: "Nas escolas mais antigas faltam laboratórios de
Matemática".
Em todo o país, apenas 51 escolas tiveram média positiva a
Matemática, "um resultado triste"; e as melhores notas
fixam-se no litoral. Maria José Costa é cautelosa. "Não sei
dizer se o litoral sofre menos com a mobilidade dos professores... Estes
resultados têm de merecer vários estudos para identificar algumas
pistas".
Pais pressionam professores
Para Aldina Lobo, da APP, é "claro" que os miúdos no
litoral têm mais "solicitações e vivências mais
diversificadas" e que essas vão reflectir-se nos seus resultados.
Por outro lado, Maria José Costa acrescenta que os alunos do privado
não só têm outras condições sócio-culturais como outros métodos
de estudo: "Têm mais tempo de aulas por semana e nós [no ensino
público] não podemos lutar contra isso. Se quero marcar uma aula
suplementar, tenho sempre inúmeros entraves".
Para que uma escola tenha sucesso não basta ter um corpo docente
mais ou menos estável e um bom projecto educativo. É preciso mais,
considera a representante da APM: "O trabalho dos alunos é
extremamente importante, assim como é o haver pais conscientes do papel
da escola na sociedade".
Por vezes, pais e estudantes fazem grandes pressões para que os
professores subam as notas, acusa Maria José Costa. "Tem-se falado
tanto que o ensino é facilitador, que muitos encarregados de educação
e alunos acreditam que sim e pressionam os professores alegando que os
colegas dos filhos mudaram de escola e conseguiram melhores
resultados", explica. Mas existem muitos docentes que cedem a essa
pressão? Maria José Costa não tem elementos para responder.
A cedência por parte dos professores às exigências dos pais
poderá ser uma das explicações possíveis para a grande disparidade
entre as notas da avaliação interna - que valem 70 por cento da nota
final - e a nota conseguida no exame? Para Aldina Lobo, quando a
diferença é pequena, é justificada: "A avaliação interna é
resultado da avaliação contínua, enquanto a do exame é pontual. É
um momento que dura duas horas, comparativamente a um ano de
trabalho".