Público - 29 de Agosto

Têm Fracos Resultados nos Exames e Vão Ser Professores

Por BÁRBARA WONG

Reacções das associações profissionais

É com apreensão que os docentes de Português e de Matemática olham para os resultados nas suas disciplinas

Existem muitos professores que estão na profissão sem vocação para ensinar.

Isso deve-se a um período recente que empurrou para o ensino muitas pessoas que não conseguiam trabalhar nas suas áreas vocacionais. E os alunos sofrem devido a essa situação. Aldina Silveira Lobo, da Associação de Professores de Português (APP), prefere não afirmar que estes sejam maus professores, mas esta pode ser uma entre muitas justificações para que os resultados nacionais dos exames de 12º ano a Português A e B sejam tão baixos.

A lista esta semana publicada no início da semana com os desempenhos de todas as escolas que leccionam o ensino secundário, públicas e privadas, volta a mostrar as médias nacionais a Português A (11,4 valores) e a Português B (11,7 valores) - notas que a representante da APP classifica "fracas". "É preocupante, sobretudo a Português A, a variante onde estão os alunos interessados em prosseguir os seus estudos na área da literatura e língua e que poderão vir a ser os futuros professores de Português", refere Aldina Lobo. Aliás, alguns dos professores que leccionam hoje em dia já fizeram o secundário com problemas, refere ainda.

Além disso, os professores batem-se com o problema da mobilidade. Um estudo recente da APP refere que esta é uma das causas por que os estudantes chegam ao 2º ciclo com dificuldades na leitura. "No interior do país, existem escolas por onde passam três, quatro ou cinco professores no mesmo ano. E isso acontece desde o início da escolaridade das crianças, o que tem repercussões que se vão reflectir sempre", aponta.

Uma consequência do factor mobilidade é a falta de sequencialidade no ensino, reforça Maria José Costa, da Associação de Professores de Matemática (APM). Nesta disciplina a média nacional foi negativa: 7,4 valores. "Quanto maior for a mobilidade, mais difícil é o acompanhamento do aluno ao longo de um ciclo", afirma. Mas a professora não considera que a fixação do corpo docente só tenha aspectos positivos e recorda que em estabelecimentos de ensino, como os antigos liceus, onde o corpo docente já tem uma "idade elevada" é mais difícil este adaptar-se às remodelações do programa. Mais: "Nas escolas mais antigas faltam laboratórios de Matemática".

Em todo o país, apenas 51 escolas tiveram média positiva a Matemática, "um resultado triste"; e as melhores notas fixam-se no litoral. Maria José Costa é cautelosa. "Não sei dizer se o litoral sofre menos com a mobilidade dos professores... Estes resultados têm de merecer vários estudos para identificar algumas pistas".

Pais pressionam professores

Para Aldina Lobo, da APP, é "claro" que os miúdos no litoral têm mais "solicitações e vivências mais diversificadas" e que essas vão reflectir-se nos seus resultados. Por outro lado, Maria José Costa acrescenta que os alunos do privado não só têm outras condições sócio-culturais como outros métodos de estudo: "Têm mais tempo de aulas por semana e nós [no ensino público] não podemos lutar contra isso. Se quero marcar uma aula suplementar, tenho sempre inúmeros entraves".

Para que uma escola tenha sucesso não basta ter um corpo docente mais ou menos estável e um bom projecto educativo. É preciso mais, considera a representante da APM: "O trabalho dos alunos é extremamente importante, assim como é o haver pais conscientes do papel da escola na sociedade".

Por vezes, pais e estudantes fazem grandes pressões para que os professores subam as notas, acusa Maria José Costa. "Tem-se falado tanto que o ensino é facilitador, que muitos encarregados de educação e alunos acreditam que sim e pressionam os professores alegando que os colegas dos filhos mudaram de escola e conseguiram melhores resultados", explica. Mas existem muitos docentes que cedem a essa pressão? Maria José Costa não tem elementos para responder.

A cedência por parte dos professores às exigências dos pais poderá ser uma das explicações possíveis para a grande disparidade entre as notas da avaliação interna - que valem 70 por cento da nota final - e a nota conseguida no exame? Para Aldina Lobo, quando a diferença é pequena, é justificada: "A avaliação interna é resultado da avaliação contínua, enquanto a do exame é pontual. É um momento que dura duas horas, comparativamente a um ano de trabalho". 

[anterior]