Público - 29 de Agosto

Externato do Porto Sublinha "Aspectos Perniciosos" do "Ranking"

Por ANDREIA SANCHES

Perpétuo Socorro

No fim da lista das escolas com piores resultados nos exames, esta escola portuense lembra que é uma instituição que alberga alunos com necessidades económicas

O Externato Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Porto, ocupa o último lugar da lista das escolas com piores médias do país nos exames do 12º ano.

Foram 28 os alunos avaliados este ano através de três provas nacionais: Matemática, Física e Português B. E os resultados que atingiram acabaram por pôr a escola no centro das atenções. Porquê notas tão baixas? Maria José Lobato, da direcção pedagógica, começa por dizer que há de facto alguns dados que terão de ser alvo de reflexão interna. Mas sublinha, à partida, que o "ranking" nacional, feito com base nas notas dos oito exames mais concorridos, "desvirtua completamente o que é uma escola".

A direcção deste estabelecimento lembra, nomeadamente, que os seus alunos frequentam cursos tecnológicos, pelo que só prestaram provas nas disciplinas que "tradicionalmente têm notas negativas". "O modo como se estabelecem os 'rankings' só podia condenar aos últimos lugares" escolas que só têm cursos tecnológicos em áreas cujas disciplinas são exactamente essas, lê-se num comunicado ontem emitido. É um exemplo dos "factores perniciosos" do "ranking", que "subvertem necessariamente a realidade da prestação educativa das diferentes escolas". A média deste estabelecimento de ensino foi de 5,4 valores.

Mas que tipo de escola é, afinal, o Externato Nossa Senhora do Perpétuo Socorro? "Uma instituição que tem uma vocação de apoio aos mais necessitados do ponto de vista económico e com particular atenção a alunos com situações problemáticas", começa por esclarecer um comunicado da direcção. "Neste externato os alunos não pagam um tostão", continua Maria José Lobato. "Nunca temos mais do que um total de 160 matriculados e as turmas nunca têm mais de 20. São alunos que, noutra escola, dificilmente conseguiriam...", vai dizendo.

É certo que os estudantes se espalharam nos exames e a professora não esconde que o cenário não difere assim tanto do que já tem acontecido noutras alturas, mas faz questão, ainda assim, de elogiar os miúdos: "São muito empenhados e participativos. O problema é que não se sentem minimamente vocacionados para disciplinas como a Matemática" que, diz, estão desfasadas dos interesses destes jovens.

"Temos que reflectir"

Nesta escola, os 18 que prestaram provas no exame desta disciplina não conseguiram mais do que uma média de 3,5 valores (numa escala zero a 20). E no entanto a média da classificação interna é de 11,8 valores. A que se devem tão grandes desfasamentos entre o que conseguiram os jovens no exame e as classificações que os professores lhes deram ao longo do ano? - é a outra pergunta inevitável. "Há coisas sobre as quais temos que reflectir", vai dizendo. Mas recusa qualquer hipótese de "facilitismo" dos docentes que, aliás, estão na escola há vários anos.

Contudo, avança com uma explicação possível: neste externato, diz, avaliam-se os alunos também "a partir da sua participação nas actividades, do seu comportamento e empenho".

No ano lectivo que agora se inicia o externato vai passar a Escola Profissional porque, na opinião da direcção, os programas dos cursos tecnológicos (Informática e Electrónica) que estão em vigor não se adequai, pela sua "alta complexidade teórica" à "vocação e preparação prévia dos alunos". 

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