Público - 29 de Agosto
A Palavra Aos Leitores
Obrigado, Aurélia de Sousa
Gostaria de felicitar o PÚBLICO pela determinação em levar a cabo
a tarefa de divulgar a lista completa das classificações das escolas
secundárias que povoam o nosso Portugal. Sou um dos que apoiam esta
decisão (forçada) do ministério. É realmente importante constatar
quais as escolas que melhor uso dão aos instrumentos que têm à
disposição, qual a política pedagógica que seguem e que resultados
"práticos" tem isso no aproveitamento dos alunos.
Os resultados das diferenças entre a nota interna e a nota de exame
do aluno a determinada disciplina são espelho da exigência do
estabelecimento de ensino. E isso é importante na medida em que nos
permite distinguir a qualidade de certos estabelecimentos de ensino
privados que dignificam exageradamente a nota interna do aluno, que este
na altura dos exames não consegue atingir. É por isso também que sou
a favor dos exames nacionais, porque têm subjacente uma certa ideia de
justiça.
Tenho 18 anos e no ano passado terminei o meu 12º ano na Escola
Secundária Aurélia de Sousa [Porto], a escola que, como sabem, foi
considerada o melhor estabelecimento público. Frequentei essa escola
durante 6 anos. Desde o 7º ao 12º. É por considerar que o
acompanhamento que me foi dado foi excepcional que não fiquei
surpreendido com a classificação. Lembro-me da presença constante do
conselho executivo que não deixava que nada corresse mal, lembro-me das
visitas que faziam às salas de aula quando algo de errado se passava e
como era conversando que as coisas se resolviam. Lembro-me do cuidado de
toda a equipa docente e não docente com todos os alunos, as
preocupações por vezes exacerbadas que por nós nutriam. Das cartas
que escreviam para casa, dos telefonemas.
Gostaria de terminar com as palavras da minha antiga directora de
turma: "O produto só é bom se a matéria-prima for de
qualidade".
Obrigado, Aurélia de Sousa, pelas alegrias que me proporcionaste.
Vasco Manuel Pinho, Porto
PERPLEXIDADE E DESMOTIVAÇÃO
Foi com grande perplexidade e desmotivação que ontem conferi a
"famosa" lista por que tanto ansiava o jornal e a forma tão
linear e pouco científica como os resultados foram trabalhados. Somar
as médias de cada exame e dividir pelo número de disciplinas para
encontrar a média da escola é muito pobre e não corresponde à
verdade na hora de fazer a ordenação das escolas.
Não se pode comparar uma escola que apenas tem 30 alunos a realizar
exames e uma que tem 200. A média realizada na escola de 30 é
notoriamente diferente da média realizada na escola que tem 200, o que
não significa que a escola que tem 200 não possa ser de qualidade e
não tenha bons resultados.
Mas mais chocante é o critério utilizado: os resultados dos alunos
internos são o indicador de qualidade de uma escola. Isto é uma
mentira. A irmos por este caminho, apenas nos resta uma saída: reprovar
alunos na frequência, não lhes dando a possibilidade de realizar exame
como alunos internos e ficar apenas com o sumo para realizarem exame
como internos. Aí, em vez de 200, poderemos ter 80 ou 90 alunos e as
médias já serão excelentes. Na minha escola, por exemplo, em
Matemática (435), fiz as contas relativamente aos alunos que foram
constantes ao longo dos três anos de escolaridade do secundário e se
apenas considerar esses alunos a média sobe para 13,7 ao contrário do
8,1 que aparece. É isto que se pretende?
Da análise que fiz dos resultados de algumas escolas vi um que me
deixou bastante perplexo: há uma escola com bastantes turmas no 12º
ano, mas que apenas apresenta 32 alunos internos na disciplina de
Matemática. Que aconteceu a todos os outros? Ficaram pelo caminho,
foram reprovados na frequência? É este o caminho que as escolas devem
seguir para poder entrar no famoso "ranking"?
Manuel António Rocha
Colégio Internato dos Carvalhos
ESCOLAS PASSAM A SER RESPONSABILIZADAS
Não posso deixar de felicitar o PÚBLICO por tudo o que fez para que
o Ministério da Educação facultasse todos os dados para poder ser
elaborado o trabalho publicado.
Como professora efectiva do ensino secundário considero da maior
importância a publicação destes dados que irão permitir às escolas
reflectir sobre eles, detectar as suas falhas e tudo fazer para as
colmatar. As escolas passam a ser responsabilizadas. A
"concorrência" entre escolas, consequência positiva desta
divulgação, levará certamente as escolas com maior sucesso a tudo
fazer para o manter e as de menor sucesso a empenharem-se para inverter
a situação.
Como cidadã, que paga integral e pontualmente os seus impostos,
sempre me senti no direito de exigir que esses dados me fossem
facultados.
Lamento que o mesmo estudo não possa ser feito em todos os graus de
ensino, incluindo o superior.
Maria da Graça Pimentel
Professora do quadro de nomeação definitiva da Escola Secundária
do Padrão
da Légua
EM QUE SENTIDO FARÃO HISTÓRIA?
A publicação de "A Lista" em 27/8/01 parece que foi
histórica, no dizer de José Manuel Fernandes. Mas a questão não é a
publicação ou não da lista; é a forma como esses dados são tratados
"jornalisticamente"!
As listas publicadas referem efectivamente que são notas de quem fez
o exame, mas tem o cuidado de não dar relevo a este facto. Pelo
contrário dá relevo a uma ordenação que procura identificar
"melhores" e "piores" com um objectivo que por certo
o "interesse jornalístico" determinou! Se numa escola foram,
por exemplo, 50 alunos a realizar o exame, quantos não o realizaram?
Imaginemos duas escolas com 1000 alunos cada. Numa os
"critérios internos" levaram a que os 100 alunos com boas
perspectivas fossem acompanhados e fossem a exame, tendo os restantes
900 sido quase "ignorados" e não ido a exame. Noutra os seus
"critérios internos" levaram a que os 100 alunos com boas
perspectivas fossem menos acompanhados e que 800 com dificuldades fossem
mais acompanhados, de modo que 900 fossem a exame. Em qual das escolas
as médias dos exames seria maior?
Nos prós e contras referidos é curioso que inspectores, pais e
alunos estejam do contra! Será que pensariam não na informação mas
no tratamento feito a bem das "audiências"? Sou de opinião
que nada melhora ao esconder-se informação; mas manipulá-la ...
Efectivamente é histórica a notícia! Mas em que sentido irão
fazer história?
João Manuel Baptista Rino
Leiria
PONTO DE PARTIDA PARA UMA "GLASNOST"
Este não é o culminar de um processo mas o ponto de partida. Deve
ser o ponto de partida para uma verdadeira "Glasnost" da
sociedade portuguesa. Na verdade, quanto maior a transparência do
Estado melhor é a democracia. É certo que todos os dados estatísticos
devem ser analisados e enquadrados, sob pena de uma "ditadura dos
números", mas apesar de tudo esta nunca deverá ser a desculpa
para a ocultação da informação.
Este ponto de partida que espero que hoje tenha sido estabelecido
deveria ser seguido por projectos de abertura na restante
administração pública. Nos hospitais, tribunais, segurança social,
câmaras municipais, universidades, empresas públicas, institutos, etc.
etc., deverão ser divulgadas informações que permitam aferir de que
forma são geridos e as pessoas servidas, para que se possa saber o que
está bem, o que pode ser melhorado e o que deve ser retirado.
Só assim é que criaremos uma cultura de responsabilidade e
responsabilização, pois a não ser assim continuamos neste pântano em
que os interesses corporativos imperam e tudo é "arranjado"
nos corredores e nos gabinetes, servindo os interesses dos desonestos e
incompetentes.
Paulo Cardoso
Universidade do Minho
REDUTOR E SIMPLISTA
Sou estudante e tenho 17 anos. Não reajo perante "maus
resultados", porque nem sei bem o que é que o António Barreto
quer dizer com isso. Também não me chocaria que os resultados dos
exames tivessem sido publicados, não fosse a análise que deles fazem.
De facto, não me parece que ela tenha sido realizada com a
"seriedade" que o director do PÚBLICO apregoa.
Desde logo, porque o título da notícia é pouco "sério"
e "rigoroso": fala-se das "melhores" escolas, mas
depois refere-se apenas a comparação dos resultados dos exames
nacionais. Avaliar-se se uma escola é boa ou má pelas notas que nós
tiramos nos exames é, no mínimo, redutor e simplista.
Sou aluno e sei como é: a paranóia dos exames é tal que no 12º
ano só se trabalha para isso. Aconselham-nos a desistir da música, da
capoeira e das associações de estudantes, é melhor não sairmos à
noite, não convivermos muito com os amigos e, nas aulas, "não se
pode perder tempo a debater ou a conversar", porque a única coisa
que interessa é moldar-nos para o exame, para os critérios de
correcção e para o modo como o corrector os vai aplicar.
Gostei de andar na minha escola, sobretudo por ter participado na
associação de estudantes. Gostei de muita coisa, mas não dos exames
nem das aulas em que os preparámos. Aprendi muita coisa, sobretudo fora
dessas aulas e desses exames, pelos corredores, nos debates, nas
discussões. Os critérios para "avaliar" (palavra tão na
moda) a minha passagem pela escola e, consequentemente, para
"avaliar" se ela é boa ou má, seriam todos menos as notas
que tive nos exames. E acho que a maioria dos meus colegas concorda
comigo.
Por isso, não compreendo porque é que publicar estes resultados é
"histórico", sobretudo porque não vejo a imensidão da
"riqueza desta informação"(como sublinha J. M. Fernandes)
nem o "muito que com ela pode fazer a comunidade educativa" ou
até o "cidadão". Não percebo, ainda, como se pode achar uma
prova que não avalia o esforço e o caminho de cada um, que não tem em
conta as diferenças individuais e regionais e que depende em grande
parte da "sorte" (é isto que sentimos) um método rigoroso!
Não há nada mais falível!
Se é para fazer os "que têm piores resultados sentirem
vergonha" (como afirma António Barreto), então não vejo as
vantagens: já são "piores" e agora ainda vão ter de sentir
a vergonha publicamente? Se é para "comparar pontos fortes e
fracos de cada um e identificar problemas", então estou de acordo
com Barreto. Não percebo é como é que a partir de notas de exame se
vai poder fazer isso... E desculpem a ignorância, mas também não
compreendo porque é que "agora os cidadãos têm condições para
pensar e criticar"... Se a crítica e a reflexão se vai resumir a
comparar notas, então não vale a pena.
Desta fabulosa "revelação" do PÚBLICO só consegui
retirar o seguinte: a selecção continua a fazer-se fora dos espaços
escolares e sim na família, no bairro, pelo dinheiro dos pais de cada
um ou pelo acesso que se tem aos bens culturais. Das escolas cujo
resultado não coube no "top 100" não digo que são os
"incompetentes" ou "os que pouco trabalham". Poderá
ser bem pelo contrário.
E, já agora, podíamos introduzir um novo parâmetro, para mim o
mais importante: quais são os jovens mais felizes na escola? Os que
deixaram de o ser e se "alunizaram" para tirar boas notas?
José Soeiro
Estudante, Vila Nova de Gaia
O nosso muito obrigado
Muitos parabéns pelo excelente trabalho (e persistência, e
teimosia!) que levou à tão ansiada publicitação dos resultados das
escolas, comparando os resultados dos exames nacionais com as
classificações ao longo do ano, mostrando à evidência a enorme
aldrabice nacional pomposamente designada como "avaliação
contínua" pelos pedagogos da nossa praça que enxameiam o
edifício que alguns continuam a designar como "Ministério da
Educação". Finalmente, o país ficou a conhecer a "taxa de
câmbio" praticada pelas diversas escolas.
Trata-se de algo que há muito e persistentemente era exigido pela
APFN [Associação Portuguesa de Famílias Numerosas].
Finalmente!
A todos os colaboradores desse jornal que muito activamente
pressionaram "os poderes instituídos" para mostrarem esta
"vergonha nacional", o nosso muito obrigado. Em particular,
não queremos deixar de enviar um abraço ao "caríssimo Dr.
António Barreto" pelo seu excelente artigo, com que estamos 100%
de acordo (e não 300% ou 500%, como muitos dos educandos do nosso
excelente sistema educativo tantas vezes dizem...).
Fernando Castro
Presidente da direcção da Associação Portuguesa de Famílias
Numerosas
FALIBILIDADE DOS DADOS RECOLHIDOS
Li com interesse o dossier com as médias do 12º ano, comparei
resultados, tirei conclusões, e creio que esta foi uma pedrada no
charco que poderá levar, como é desejável, a maior sucesso académico
em anos futuros em todas as escolas portuguesas.
No entanto, na minha qualidade de professora com 30 anos de serviço
"numa escola de província", não posso deixar de fazer notar
como é redutora e parcial a análise das notas de um só ano.
É natural a estranheza perante as discrepâncias entre as
classificações da frequência e as classificações de exame.
Ignoram-se porém as diversas vertentes presentes na avaliação e que
dizem respeito ao empenho no trabalho, à cooperação com o grupo, etc.
Já é muito mais grave estabelecer um "ranking" de escolas
com base nas classificações de exame de um só ano lectivo.
Solidarizo-me com todos os colegas cujo trabalho conheço e que não
tiveram este ano a sorte de ter as turmas interessadas e trabalhadoras
que tive a sorte de ter no ano passado.
Antevejo já, porque conheço os alunos com quem trabalho, os exames
do próximo ano lectivo em que os resultados reflectirão provavelmente
o baixo nível de sucesso por eles atingido no 10º e 11º anos, e que
sem dúvida contribuirão para tornar a minha escola mais uma das
"más" escolas. Tal é a falibilidade dos dados recolhidos.
Seria interessante, por uma questão de justiça para com as escolas
que estão no fim da lista, investigar os resultados de outros anos e o
sucesso dos alunos dessas escolas a outros níveis, tais com inserção
social e profissional, dinamismo, solidariedade, etc. Não são estes
também importantes valores que a escola pretende promover e que levam
à criação de uma sociedade mais justa e equilibrada?
Anabela Espada
Professora do Quadro de Nomeação Definitiva 9º Grupo da Escola
Secundária Poeta António Aleixo - Portimão
AJUDAM-NOS A NÃO SER IGNORANTES
As minhas felicitações por finalmente termos A LISTA. Por muitos
que possam ser os seus defeitos, maiores serão as virtudes, a maior das
quais é ajudar-nos a não ser ignorantes.
Henrique de Almeida
Faculdade de Medicina do Porto
"RANKINGS" E PROFESSORES DE SEGUNDA
Sou professor de Matemática do 3º ciclo do ensino básico e do
secundário.
Comecei por observar a lista das médias dos exames, por escola.
Constatei logo aquilo que é óbvio, excepto para quem fala de
Educação como "treinador de bancada": as escolas com
melhores resultados são, salvo raras excepções, de zonas mais
favorecidas. No extremo oposto, encontram-se as escolas do interior
rural e as que acolhem alunos de zonas problemáticas das duas grandes
cidades.
Para que serve esta listagem? Já agora, será lícito estabelecer
uma ordem baseada exclusivamente em médias? Em termos de mérito, entre
outros exemplos possíveis, a escola secundária de Resende, com a
média de 9,1 valores, bate inapelavelmente a média de 9,3 valores
obtida pelos alunos do Colégio do Amor de Deus, de Cascais.
Sou um dos que têm a sorte de obter colocação todos os anos. Foi
gratificante trabalhar em escolas do interior, uma das quais do distrito
de Bragança. Deparei com uma realidade bem diferente da que vivi numa
outra situada no litoral. É verdade que há maus professores em todo o
lado, como maus profissionais em todas as profissões. Mas como se
sentirão os meus colegas da escola do interior onde estive há um ano,
quando ouvem dizer na televisão que não são "professores de
primeira escolha"?
Espero que os jornalistas deixem de lado o sensacionalismo e
compreendam que a sua formação não é propriamente em Educação. Eu
nunca ponho em causa o que um mecânico me diz sobre o meu automóvel ou
o que um médico afirma no que concerne à minha saúde...
André Pacheco
Professor dos 3º ciclo do ensino básico e secundário