Público - 30 de Agosto
Escolas com Maus Resultados Estão Apostadas em Melhorar
Por ISABEL LEIRIA E ANDREIA SANCHES
O PÚBLICO procurou saber as causas do insucesso em alguns
estabelecimentos de ensino que tiveram os piores desempenhos nos
exames mais concorridos do 12º ano
"Este não pode ser o retrato da nossa escola. Temos de ver o
que correu mal e pensar nas mudanças que são urgentes. A partir da
próxima semana, quando os professores regressarem, é já isso que
vamos fazer no Conselho Pedagógico, de forma a que toda a escola se
empenhe em melhorar." Perante o que foi um dos piores resultados
obtidos por estabelecimentos de ensino público no conjunto dos exames
nacionais mais concorridos deste ano lectivo, é de determinação e
vontade de alterar a situação que fala Paula Luís, vice-presidente do
Conselho Executivo (CE) da Escola Secundária de Castro Verde.
Com uma média global de 6,9 valores - calculada a partir dos
resultados dos alunos nos exames de sete das disciplinas com mais
inscritos - e as piores notas a nível nacional nas provas de
Matemática (2,3 de média) e de Química (4,2), Paula Luís tem mesmo
alguma dificuldade em encontrar causas que ajudem a explicar o
desempenho das três turmas do 12º ano - "Não é possível face
ao trabalho desenvolvido...", desabafa.
À partida, esta escola disporia até de condições privilegiadas
para obter outros resultados. "Não temos lacunas graves a nível
de infra-estruturas, os alunos são razoáveis, sem grandes dificuldades
económicas." Em relação ao corpo docente, ainda que cerca de
metade mude todos os anos, às turmas do 12º ano são sempre
atribuídos os professores do quadro, "com muitos anos de
experiência".
Certo é que "algo está mal". No caso da Química, por
exemplo, o facto de o ano lectivo ter sido, no mínimo, atribulado
poderá ajudar a explicar os maus resultados. "A professora tirou
licença de parto e foi substituída por uma colega que adoeceu que por
sua vez também foi substituída por uma professora que também ficou
doente. Se calhar os alunos sentiram as consequências desta
descontinuidade." Já a Matemática "terão de se encontrar
outras razões".
Mas é também nalguma "falta de maturidade dos alunos" que
Paula Luís encontra outras das causas do insucesso. E é também a
"falta de trabalho pessoal dos alunos", num ano em que essa
componente se torna essencial, que é apontada pela direcção da
Cooperativa de Ensino de Coimbra (CEC) como uma das maiores
dificuldades. Os alunos desta instituição obtiveram nos três exames
realizados (Matemática, Biologia e História) uma média de 6,9
valores.
As explicações serão várias: as condições socioeconómicas das
famílias de onde provém a maioria dos alunos e o facto de muitos virem
de outras escolas, "com alguma carga de insucesso que, por vezes,
é difícil de colmatar". Quanto a medidas futuras, a cooperativa
garante que vai fazer uma análise dos resultados, até "porque é
usual na escola", e tentar ultrapassar os problemas com o "bom
quadro de professores" que consideram ter. Sendo certo que
"não existem receitas de sucesso em educação".
Já Maria Antonieta, directora pedagógica do Externato Álvares
Cabral, em Lisboa, não tem qualquer dúvida sobre o porquê das notas
tão fracas dos seus alunos - 7,5 valores foi a média atingida pela
escola nos três exames que os alunos realizaram (Matemática, Química
e Biologia). É que boa parte dos jovens do ensino secundário que ali
chegam são angolanos que tentam, em Portugal, fazer apenas o 12º ano
para poderem ingressar numa qualquer universidade do mundo - "a
12ª classe angolana não é reconhecida para efeitos de ingresso no
superior".
"Muitos são filhos de políticos ou diplomatas", mas
"trazem muito poucas bases" e acabam por ter dificuldades
acrescidas porque o sistema de ensino português é muito diferente,
continua. É, pois, sobretudo a estes jovens - um total de 114, a maior
parte concentrados no 12º ano - que a directora atribui as fracas
médias da escola, "abaixo do que é normal". Isto apesar do
corpo docente que ali dá aulas, sobretudo no último ano do
secundário, ter sido "escolhido com muito cuidado".
Maria Antonieta reconhece, de resto, que "com os alunos
angolanos os professores são um bocadinho mais benevolentes" na
hora de dar notas, "e lhes facilitam mais a vida" do que aos
portugueses. Afinal, continua, são jovens que, no seu país, já
fizeram os 12 anos de escolaridade e que têm de perder mais um ano.
Daí que, na opinião de Maria Antonieta, a média dos alunos deste
externato que fizeram exame a Matemática, por exemplo, se tenha ficado
pelos 5,6 valores, enquanto a média da classificação interna foi de
11,4.
Qualquer um dos responsáveis das três escolas que acederam falar ao
PÚBLICO mostra-se favorável à divulgação das notas dos exames por
escola, mas alerta para a forma como os resultados são tratados.
"Espero que haja compreensão por parte das pessoas e que percebam
que esta é só uma forma de se conhecer melhor a situação para se
poder melhorar o que está mal", remata Paula Luís.