SIC OnLine - 27 de Agosto
A melhoria do ensino não passa por guerras de escolas
Declaração de Paulo Sucena - Fenprof
Paulo Sucena Secretário-Geral da Fenprof reitera a oposição desta
organização de professores à divulgação das médias escola a
escola. E promete vigilância quanto a possíveis consequências
negativas para o sistema de ensino.
Acompanhei desde sempre a posição da Fenprof de condenação do
acto de divulgação ao país dos resultados dos exames do 12º ano.
Aliás, essa posição foi por mim transmitida a diversos responsáveis
do Ministério da Educação, incluindo o actual ministro, numa conversa
muito franca e aberta que com ele mantive. Esta posição em nada colide
com a opinião da Fenprof, segundo a qual o sistema educativo deve ser
avaliado rigorosamente de modo a ser possível, fundamentalmente, tomar
medidas de política educativa que favoreçam a melhoria da qualidade do
ensino e o alargamento e aprofundamento das aprendizagens.
É no horizonte deste pensamento que se deve entender o facto de a
Fenprof ser também favorável a uma sustentada avaliação dos
docentes, matéria que figura, como se sabe, no estatuto da carreira
docente do chamado ensino não-superior.
Quando afirmamos que estas posições não chocam com a condenação
da divulgação pública dos resultados dos exames do 12º ano por parte
do governo, assentamos o nosso raciocínio em bases de natureza
técnico-ciêntifica, profissional e social. Repare-se que, a
ordenação de escolas realizada através de resultados obtidos pelos
seus alunos nos exames do 12º ano, gera uma classificação das escolas
do país ancorada num técnico parâmetro, claramente insuficiente para
apoiar o rigor de tal classificação e mesmo que uma classificação
fosse teoricamente legítima ela jamais permitiria uma ordenação
global das escolas , tal o número e disparidade das disciplinas. Isto
é, os resultados irão permitir com certeza classificações de
natureza vária desde o ângulo das humanidades ao das ciências.
Restringimos o âmbito das disciplinas, ainda depararemos com escolas
que obtiveram excelentes resultados nas línguas estrangeiras e apenas
médios em Filosofia ou História, por exemplo, ou com escolas que
obtiveram maus resultados em matemática e sofríveis e até suficientes
na área das ciências experimentais.
Num sistema educativo pejado de assimetrias de natureza vária desde
o apetrechamento pedagógico - didáctico das escolas à labilidade dos
corpos docentes, passando pelas instalações, já suscita atitudes
discriminatórias por parte de muitos encarregados de educação, o
governo, ao permitir publicamente que se produzam falsos e não
fundamentos "rankings" de escolas, vem inutilmente acentuar
clivagens no sistema, incrementar o mal-estar que há muito se instalou
na classe docente sem dar mostras de diminuição e fomentar escolhas
por parte das famílias dos alunos falsamente elitistas, que já de si
é grave, porque baseadas em dados insuficientes, e por tal motivo,
incapazes de dar verdadeiro rosto de uma escola e o pulsar da sua
complexa e diversificada vida, bem como o modo como convive com a
comunidade.
A Fenprof não só reprova a adesão do governo, como também,
estará atenta e analisará o modo como a comunicação social irá
tratar tão complexa e delicada matéria.
Tenho esperança que não o fará de modo a criar um clima no ensino
semelhante àquele que um dirigente desportivo, demagógica e
populistamente queria introduzir no futebol, exortando os adeptos do seu
clube a esgotar o estádio para melhor se fiscalizar o árbitro.
É que a melhoria do ensino não passa pela guerra em escolas ou
entre escola e professores, e coitada desta e destes que jamais terão
meios para mostrar todos os procedimentos políticos, económicos,
sociais, culturais e familiares, favorecedores, ou não, do êxito
escolar dos alunos.