Público - 13 de Dezembro
Portugueses e a Imigração: Tolerância com
Limites
Por CATARINA GOMES
A grande maioria defende que o Governo só
deve deixar entrar imigrantes se
houver trabalho
As atitudes de preconceito em relação a
"grupos racializados", como os trabalhadores
imigrantes e as pessoas de outras raças, diminuiu mais em Portugal
do que no contexto da União Europeia. Mas há dados que indicam que a
tolerância nacional tem os seus limites. A investigação do estudo
"Valores Europeus", em Portugal,
foi coordenada por Jorge Vala, Manuel Villaverde Cabral
e Alice Ramos, do Instituto de Ciências Sociais.
Há dez anos, 16 por cento dos portugueses
apresentavam atitudes de preconceito contra
"grupos racializados", no novo estudo sobre valores europeus
(com dados referentes a 1999 e 2000) são apenas seis por cento. No contexto
da Europa comunitária, o decréscimo foi muito mais ligeiro, de 12 por
para 11 por cento.
Portugal surge, assim, como um país mais
tolerante do que a maioria dos Estados-membros.
Em relação à pergunta sobre quem não gostariam de ter como vizinhos,
os portugueses destacam-se, pela positiva. Entre várias opções (que
incluem, por exemplo, muçulmanos, judeus, pessoas com passado criminal,
homossexuais), só 2,5 por cento não
gostaria de viver ao lado de imigrantes ou
trabalhadores estrangeiros, a média mais baixa da Europa comunitária e
de todos os 32 países analisados. O
desempenho português diminui um pouco quando
se faz a mesma pergunta em relação a pessoas de raça diferente: 7,6 por
cento não gostaria de os ter como vizinhos, um valor, ainda assim, abaixo
da média europeia (13 por cento).
Quando se pergunta a um português se, para o
bem da sociedade, os imigrantes devem manter
ou abandonar os seus costumes e tradições no seu país de acolhimento,
as opiniões dividem-se: 51 por cento defende que é melhor que as
abandonem, 49 por cento que as mantenham. Este equilíbrio não acontece
em grande parte dos países comunitários.
Só na Itália, Espanha, Grécia e Irlanda,
menos de 50 por cento dos inquiridos acham que os imigrantes devem abandonar
os seus hábitos e tradições.
Em Portugal, manifestam-se sentimentos de
solidariedade calorosos em relação aos
imigrantes: 33 por cento consideram que é do interesse da sociedade que
se ajudem os imigrantes, um número superior
a qualquer um dos 32 países analisados,
onde a média é de 14 por cento.
Mas este sentimento não se mantém em relação
às políticas de imigração, em que se
prova haver menos abertura. Mostra-se, assim, que a tolerância dos portugueses
não é incondicional. Quando são questionados sobre quais devem ser
as opções do Governo quanto à vinda de cidadãos de países subdesenvolvidos,
a grande maioria (60 por cento) afirmam que só devem vir para
Portugal se houver trabalho; 23 por cento defendem limites estritos no número
de estrangeiros. As preferências dos europeus vão, sobretudo, para esta
última opção. Mas 11 por cento dos portugueses afirmam que quem vier será
bem-vindo, um valor muito alto (a média dos 32 países é de 7,6), que
na União Europeia só é superado pela
Suécia (16 por cento).
Perante a escassez de emprego, é inequívoco
que a prioridade deve ser dada aos nacionais
- 63 por cento dos portugueses têm esta opinião, um valor médio
na União Europeia, superado pela Itália, Espanha, Grécia e Áustria, onde
esta opinião colhe o acordo de 72 por cento dos inquiridos.