Diário de Notícias - 06
Dez 06
Salário
mínimo vai crescer 5,3% ao ano até 2011
Manuel Esteves
O salário mínimo nacional (SMN) vai crescer a um
ritmo médio anual de 5,3% até 2011. Este é o
principal resultado da longa negociação encetada
pelo ministro do Trabalho com as confederações
patronais e as centrais sindicais, que resultou
ontem num acordo tripartido.
Em 2007, o aumento vai ser de 4,4%, acima dos
valores inicialmente noticiados, o que representa a
maior variação real (descontando o efeito da
inflação) desde, pelo menos, 1992. Deste modo, o
ministro do Trabalho, Vieira da Silva, cumpre a
promessa de recuperar as perdas do salário mínimo
face aos ganhos de produtividade e ao salário médio
registadas nos últimos anos (ver gráfico).
Assim, os 5% de trabalhadores por conta de outrem
que recebem o salário mais baixo do mercado vão ter
um aumento de 17 euros em Janeiro, passando a
auferir 403 euros em 2007. Em termos líquidos, já
deduzida a taxa social única, este ordenado será de
359 euros.
Apesar de este aumento de 4,4% se situar bem acima
da previsão de inflação (de 2,1%), os trabalhadores
mais mal pagos no País correm o risco de ver os 17
euros adicionais serem absorvidos, parcial ou
totalmente, pelo agravamento do custo de vida
(ver página ao lado). Basta pensar no caso de um
trabalhador que suporte mensalmente uma factura de
electricidade de 30 euros, compre o passe social
mais barato possível e esteja a pagar ao banco, pela
sua casa, uma prestação de 250 euros: em 2007, esta
despesa conjunta vai agravar-se em quase 15 euros,
reduzindo o aumento de 17 euros a apenas dois euros
(e isto excluindo outros aumentos previsíveis).
Aumentos definidos até 2011
O salário mínimo (que também é conhecido como
remuneração mínima mensal garantida) deverá depois
percorrer um caminho de sucessivos aumentos reais,
que o deverá conduzir aos 450 euros, em 2009, e aos
500 euros, em 2011. Assim, entre o ano corrente, em
que este ordenado vale 385,9 euros, e 2011, em que
valerá 500 euros, haverá uma progressão nominal de
29,6%, o que corresponde a um crescimento anualizado
de 5,3%.
O projecto de acordo escrito que saiu da reunião de
Concertação Social de ontem e que deverá ser objecto
de assinatura em breve, estabelece, contudo, que
estes "valores intermédios serão sujeitos a análise
e parecer anual pela comissão tripartida [composta
por representantes dos parceiros e do Governo]". A
esta entidade caberá analisar e monitorizar os
"impactos da evolução do SMN, nomeadamente nos
sectores e/ou regiões com maior expressão de baixas
remunerações e/ou mais expostos à concorrência
internacional".
O acordo prevê ainda a possibilidade de se aplicar
aos "praticantes, aprendizes e estagiários em
situação de formação certificada" - salários
inferiores até 20% durante o primeiro ano de
admissão, o que já era admitido pelo Código de
Trabalho.
No final da reunião, o primeiro-ministro, José
Sócrates, classificou como "histórico e inédito" o
acordo alcançado entre o Governo e parceiros
sociais, salientando o "trabalho prévio" da equipa
do ministro Vieira da Silva.