Diário de Notícias -
05 Dez
08
Amigos, têm aí à mão 2 milhõezitos?
António Perez Metelo
Deve ser essa a pergunta que os bancos portugueses
fazem, em cada hora que passa, aos seus congéneres
europeus. Porque é essa a verba que a economia
nacional precisa, hora a hora, para pagar o défice
da balança externa (são 48 milhões de euros por dia,
mais de 17 mil milhões por ano). É neste ponto que
se unem as debilidades de fundo da economia do País,
que persistem há muitos anos, às dificuldades do
período de crise na banca internacional com reflexos
na banca nacional. Daí que a melhor estratégia
contra a crise financeira e económica - que,
fatalmente, passará mais cedo ou mais tarde -
obrigue a desenhar medidas de ataque ao problema de
fundo do défice externo.
Num ano económico, 68% do produto interno bruto (PIB)
são gastos em consumo das famílias portuguesas;
outros 20% vão para o consumo público; e há ainda
uns 22% daquilo que se produz no País que se
transformam em investimento. Faça-se a conta e dá
110%! A resposta aos 10% a mais só pode vir de fora,
representam, em termos gerais, o excesso de valor
das importações do País face à sua capacidade
exportadora. Consumo privado e público mais o
investimento são, assim, satisfeitos, mas alguém vai
ter de pagar a conta que, ano após ano, nos vai
sendo fiada.
Quando operávamos com escudos apanhámos valentes
sustos, o banco central chegou a ter divisas que não
davam para comprar mais do que uma semana de
importações, foi preciso pedir socorro por duas
vezes ao FMI ( como acontece, agora, com a Islândia,
Hungria, Ucrânia e Paquistão!...). Ao entrarmos no
euro, assegurámos uma fonte "interna" inesgotável de
financiamento. Com o risco da República melhor do
que o italiano, com a descida do défice público e as
juras de actuação fiscal responsável daqui por
diante, não havia razões para bancos europeus -
sobretudo os que têm muito dinheiro em países, como
a Alemanha e a Holanda, com persistentes excedentes
externos - não irem financiando, através dos seus
congéneres portugueses, a deficitária economia
nacional. Ao fim e ao cabo, pesamos 1,3% na enorme
economia da UE.
Isso era assim até Agosto de 2007. Agora, cada banco
desconfia dos seus parceiros, o crédito deixou de
fluir normalmente, foi a muito custo dos bancos
centrais que, em Setembro passado, o sistema
financeiro internacional não entrou num colapso
capaz de varrer inúmeras instituições da face da
terra. O mercado segmentou-se de novo nos seus
compartimentos nacionais. É por isso que o Estado
português tem de avançar com garantias à banca
nacional. É por quererem continuar a não emprestar
dinheiro que os bancos alemães recusaram idênticas
garantias oferecidas por Angela Merkel. Quando a
agência de notação financeira Moody's diz que a
banca portuguesa está vulnerável, é por isto que o
diz. No fundo, a banca espelha as vulnerabilidades
da economia portuguesa neste mundo globalizado.