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Público - 14 Fev 03
Alunos com Muitos Chumbos Devem Sair das Universidades
Por BÁRBARA WONG
Lynce defende regime de prescrições
Ministro considera uma injustiça social a figura do estudante elegível
O ministro da Ciência e do Ensino Superior, Pedro Lynce, não compreende porque é
que não há mais instituições a adoptar o regime de prescrições. Quando um
estudante acumula várias reprovações, as universidades ou os institutos
politécnicos têm a possibilidade de suspender a sua matrícula. No entanto,
poucas o fazem. Segundo um inquérito encomendado recentemente pela tutela,
apenas dez instituições responderam que aplicam ou já aplicaram o regime de
prescrições.
Pedro Lynce prefere claramente o regime de prescrições ao conceito de estudante
elegível, que está contemplado na Lei de Bases do Financiamento, aprovada em
1997, mas que nunca chegou a ser regulamentado. De acordo com o diploma, um
estudante deixa de ser elegível para financiamento quando demora mais um
determinado número de anos do que os previstos para concluir o curso. No caso de
uma licenciatura de cinco anos, por exemplo, o aluno devia deixar de ser
contabilizado, na transferência do Orçamento do Estado para a instituição, se
não concluísse o curso em oito anos.
Ontem, no Conselho Nacional de Educação, em Lisboa, e em declarações aos
jornalistas, o ministro disse considerar a figura de estudante elegível "injusta
em termos sociais". "A actual situação, embora sobre o ponto de
vista académico seja correcta [a permanência do aluno no sistema], em termos
sociais é injustíssima. Como a lei diz que os que ultrapassam os anos previstos
deixam de ser financiados pelo Estado, isto leva-me a concluir que só o
estudante que é rico é que pode continuar a estudar. O que é pobre tem de se ir
embora porque é-lhe vedado o acesso às bolsas", sustentou o ministro.
Embora defenda as prescrições em detrimento do estudante elegível, o ministro
não quer, para já, tomar decisões, porque a discussão sobre a lei de
financiamento e outros diplomas do ensino superior está em aberto. De qualquer
forma, as elevadas taxas de insucesso no ensino superior, que, segundo a tutela
rondam os 50 por cento, preocupam o ministro.
É neste cenário que muitas escolas decidem não optar pela aplicação de qualquer
regime de prescrições, reconhece Pedro Lynce. É que, enquanto a fórmula de
financiamento das instituições depender do número de alunos matriculados, poucas
serão as que estão dispostas a excluir estudantes e assim perder verbas.
Não é pois de estranhar que só dez escolas já tenham aplicado ou apliquem as
prescrições e que, em 12 anos, pouco mais de três mil repetentes tenham sido
afastados.
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