Expresso OnLine - 7 Fev 03

Ética da Comunicação
Henrique Monteiro
 
Um programa na RTP-1 e alguns artigos nos jornais puseram de novo na ordem do dia o debate sobre o papel da televisão. Apesar de submerso na torrente informativa do escândalo da pedofilia e da crise do Iraque, é útil voltar ao tema.
 
A principal defesa da liberdade de emitir quaisquer programas faz-se em nome da possibilidade e capacidade que cada um tem em desligar a televisão ou mudar de canal. O argumento parece sólido, mas não resiste a uma segunda análise.
 
Na verdade, para qualquer actividade existe uma ética. Ninguém pode vender comida estragada, mesmo anunciando devidamente que essa comida está estragada. A ideia não é prejudicar o negócio, mas defender a saúde pública.
 
Para a televisão existe (ou deverá existir) igualmente uma ética. A essa ética, como em todas as actividades, está obrigado o fornecedor, não o consumidor. Ou seja, no caso da televisão a ética está do lado do emissor e não do receptor.
 
Pretender que cada um pode desligar a TV ou mudar de canal é o mesmo que transferir as obrigações éticas para o receptor, desresponsabilizando o emissor. É o mesmo que dizer: qualquer um pode comprar iogurtes fora do prazo. No caso de não gostar de os comer, por favor deite-os fora.
 
O que pensariam os anti-reguladores de uma lei destas?

[anterior]